Distante dos holofotes do mercado financeiro, um fundo de ações tem chamado atenção pela rentabilidade consistente mesmo em meio a juros elevados e à volatilidade dos últimos anos.
Trata-se do Eclipseon, criado em setembro de 2015, que acaba de completar 10 anos com uma performance de 920% — multiplicando seu patrimônio por 10 nesse período. Atualmente, o Eclipseon está com R$ 725 milhões sob gestão.
A rentabilidade do Eclipseon supera o desempenho do Ibovespa em 691 pontos percentuais no mesmo período. Apesar dos números expressivos, que o colocam entre os mais rentáveis da indústria na última década, sua base de cotistas se resume a um único nome — e não há interesse em abri-lo para novos investidores, independentemente do tamanho do cheque.
O fundo Eclipseon pertence ao single family office de mesmo nome e é Ricardo Simon, cofundador e filho do único cotista, quem acompanha mais de perto suas movimentações. Em entrevista ao NeoFeed, ele disse ter recebido propostas de investidores para abri-lo ao mercado, ainda nos primeiros anos do fundo, mas decidiu mantê-lo fechado.
“Chegamos a avaliar, por volta de 2018, essa possibilidade. Mas entendemos que, se abríssemos o fundo, teríamos algumas dificuldades em sua gestão que poderiam afetar a performance”, diz Simon.
Um dos pontos cruciais para a decisão de se manter fechado, conta, foi evitar eventuais pedidos de resgate em momentos de alta de juros, o que poderia obrigá-lo a vender as posições à contragosto.
“Era uma preocupação muito grande que a gente vinha observando na indústria. Esse movimento acaba penalizando justamente gestores que performam super bem, escolhem os ativos certos e geram alfa em relação à Bolsa”, afirma.
Outro ponto que pesou contra a decisão de abrir o fundo, há sete anos, foi o entendimento de que seria necessário realizar rebalanceamentos na carteira para evitar a concentração em ativos que passaram por forte valorização e ganharam peso dentro do portfólio.
“Isso seria penalizar o papel que está indo bem para priorizar aquele que não está performando como o esperado”, diz o gestor.
Esse conceito vem sendo aplicado, por exemplo, às ações da Eletrobras, que acumulam cerca de 50% de valorização no ano e hoje representam aproximadamente 25% da carteira, sendo a maior posição individual do fundo. Mas o investidor conta que essa é uma posição antiga, que a família detém desde antes da abertura do fundo.
“Durante o governo Dilma, a ação chegou a pagar R$ 1,63 de dividendo, com o papel custando R$ 6. O equity value era o valor de duas turbinas de Belo Monte que ela estava construindo.”
Segundo Simons, o fundo segue a mesma filosofia que o pai adotou durante décadas de investimentos na bolsa — ocupação que, em certo momento, se tornou até mais relevante que o negócio original da família, que era no setor farmacêutico.
"Preferimos papéis que negociam a múltiplos baixos, de empresas que estão mal precificadas”, afirma Simon.
No entanto, pontua, é essencial que essas companhias tenham um dividend yield alto, que justifique o carregamento por períodos longos. “Sabemos que muitas das distorções da Bolsa brasileira acabam demorando muito tempo para corrigir, mas, se há o dividend yield, aproveitamos esses períodos para ir aumentando as posições.”
A estratégia resulta em um portfólio concentrado. Hoje, 60% do fundo está aplicado em apenas quatro ações, que, além da Eletrobras, incluem Banco do Brasil, ISA Energia e Petrobras, nessa ordem. A Sabesp vem logo em seguida, ocupando a quinta posição entre as maiores participações do portfólio.
No caso do Banco do Brasil, que vem sofrendo com o aumento da inadimplência no agronegócio, Simon espera um dividendo mais baixo neste ano, próximo de 5%, mas mantém a convicção de que, no médio prazo, continua sendo uma boa empresa para se ter em carteira.
“Nós acreditamos que esse ciclo vai passar e o banco vai retomar todos os fundamentos dele. Agora, é um papel que vai enfrentar muita volatilidade do cenário político no ano.”
Embora raramente troque os nomes da carteira, a gestão do fundo é ativa, especialmente em momentos de estresse. Um desses episódios, recorda Simon, foi durante a greve dos caminhoneiros de 2018, quando o family office aumentou significativamente as posições em estatais.
“Tínhamos posição em caixa e colocamos esse valor praticamente inteiro em Banco do Brasil e Petrobras, que foram ações que sofreram muito com a greve dos caminhoneiros. Fomos muito rápidos”, relembra. O resultado foi uma performance de 50% naquele ano, 35 pontos percentuais acima do Ibovespa.
Por outro lado, Simon diz que o fundo praticamente não investe em alguns setores, como varejo e consumo, por serem mais voláteis e menos previsíveis em dividendos. “Como a maior parte deles não tem um dividend yield alto e pode demorar um tempo para reprecificar, poderíamos acabar carregando um papel com zero de dividendo por anos, sem aproveitar outras oportunidades.”
Até por essas características, diz Simon, prefere gastar energia estudando outros setores. “Eu não tenho conhecimento suficiente de varejo. Nos limitamos ao que entendemos mais, que são principalmente utilities, bancos e estatais em geral.”