Ter sangue frio é fundamental para enfrentar momentos de volatilidade do mercado financeiro, como a que assustou os investidores no fim de 2024. Quem não “segurou a bronca” foi buscar refúgio na renda fixa.

A combinação entre os movimentos de pânico com a ilusão de saber o melhor momento para voltar ao risco é a responsável por minar a rentabilidade dos investidores. Vários estudos têm mostrado que o melhor a fazer é, simplesmente, não fazer nada.

A Sten Gestão Patrimonial, com mais de 15 bilhões sob gestão, fez um estudo, que o NeoFeed teve acesso, que comprova essa tese. O multi family office pegou a rentabilidade da bolsa americana em um período de 30 anos, até 2024, para entender o que aconteceu com os ativos.

Na hipótese de que um investidor tivesse as informações de quais seriam as 10 ações que tiveram o melhor retorno a cada 5 anos, e esse portfólio fosse trocado a cada 5 anos para conter as ações que teriam o melhor retorno no período, a rentabilidade final seria de 86% ao ano.

O retorno é tão incrível que instiga a capacidade de se manter gelado nos momentos de pânico. Segundo a Sten, durante esses 30 anos, esse portfólio teria caído mais de 10% em 125 ocasiões. Do ponto de vista anual, a seleção de ações teria caído mais de 10%, em média, quatro vezes ao ano.

Mas esses não foram o pior momento. Em 60 ocasiões, esse portfólio caiu mais de 20% ao longo dos anos e, na média, duas vezes por ano o retorno foi negativo em mais de 20%. E ainda, no período total, o portfólio caiu 11 vezes mais de 50%.

A conclusão é que mesmo os ativos mais vencedores em janelas médias (de 5 anos) passam por grandes correções e volatilidade ao longo do tempo. Se o investidor sai em algum desses momentos, perde todo o seu retorno.

“É por isso que é muito importante saber qual é a sua tolerância ao risco, porque caso contrário o que acontece é desinvestir na pior hora. É preciso casar a expectativa de retorno com a capacidade de tomar risco”, afirma Bruno Rodrigues, diretor de investimentos da Sten.

A assimetria em relação ao risco é uma questão bastante estudada nas finanças comportamentais. O investidor tem uma percepção de felicidade menor em caso de ganho do que a de infelicidade em caso de perda. Ou seja, o sentimento de tristeza de perder R$ 100 mil é maior do que a alegria de ganhar o mesmo valor.

Somado a isso, o efeito manada é outro comportamento bastante estudado. Quando todos estão ganhando com um ativo, o lado psicológico do ser humano tende a não querer perder a festa. É o momento em que todos compram o mesmo ativo. No entanto, a grande maioria chega no “fim da festa” quando o ativo já subiu tudo o que tinha que ter subido e está prestes a sofrer uma correção.

Essas duas reações inerentes ao ser humano o fazem escolher realizar perdas em mercados em queda. E a investir apenas quando os mercados estão subindo - com o agravante de escolher os ativos que não irão mais se valorizar.

Junta-se a esses dois movimentos a ideia de que é possível acertar o melhor momento de entrar e sair de um investimento. Mesmo grandes hedge funds erram. E, acima de tudo, o pequeno investidor não aguenta a volatilidade e sai no pior momento.

Wilson Barcellos, CEO da Azimut Wealth Management, recorre ao clássico estudo da empresa de investimentos americana Fidelity, com cerca de US$ 15 trilhões sob administração, para reforçar que não adianta tentar fazer market timing (escolher a melhor hora de entrar e sair de um investimento). O importante é manter uma carteira com o seu perfil de investidor.

O estudo da Fidelity compreende a análise dos portfólios dos seus clientes entre 2003 e 2013. Nele, observou-se que as melhores rentabilidades estavam nos portfólios intocados - aqueles investidores que tinham esquecido o dinheiro.

Dessa forma, as carteiras foram rebalanceadas anualmente para seguir o percentual estipulado a princípio em cada classe de ativo, vendendo quando se tinha mais que o combinado e comprando quando se faltava exposição. Sem a intervenção dos clientes ou mesmo de uma estratégia mais ativa.

“O market timing só é bom para as corretoras, que ganham comissões com cada movimentação. O investidor deve ter uma carteira diversificada de acordo com a sua idade, objetivos de curto, médio e longo prazo e tolerância ao risco e fazer revisões estratégicas anuais”, afirma Barcellos.

No Brasil os mercados são bem mais imperfeitos que nos Estados Unidos, criando muito mais oportunidade para uma gestão mais ativa gerar alfa (retorno acima do benchmark). No entanto, a volatilidade é muito maior e é preciso não só ter tolerância ao risco como poder ter um prazo mais longo de investimento para capturar essas oportunidades - o que nem sempre é possível.

Mas, diante de tantas incertezas atualmente nos mercados brasileiros, a recomendação é de cautela e ser mais conservador do que o costume. Mas sem tirar totalmente o pé da diversificação. Afinal, ninguém sabe quando a maré vai mudar.

“O melhor risco-retorno hoje está na renda fixa, sem dúvida. É inteligente capturar isso. Seguir uma alocação mais conservadora até conseguir ver no horizonte uma solução fiscal é prudente. Mas, diversificação é sempre importante. É o único instrumento que sempre ganha”, diz o CEO da Azimut Wealth Management.