Imagine que você está em uma praia paradisíaca, o lugar dos sonhos para qualquer pessoa em busca de se desconectar do mundo, porém é feriado e o lugar está lotado. Você está sentado na areia e não consegue enxergar a água do mar de tantos guarda-sóis, nem ouvir as ondas batendo de tanto barulho que as pessoas fazem.
O que era para ser um paraíso, virou um tormento. Para empreendedores e investidores de Web3, esse era o “Bull Market” (mercado de alta) de cripto no início de 2022.
Agora, imagine outro cenário, em você já estava sabia que seria feriado, e que era passageiro. Então, você se programou para esticar mais alguns dias além do feriado. Na segunda feira, você olha para o céu azul e o sol bate forte. Ao colocar o pé na areia, toda aquela multidão foi embora, todo o barulho cessou e, finalmente, você tem tudo a sua disposição.
O mar, a calmaria, e todo o potencial de um lugar paradisíaco para você e outros amantes de uma praia tranquila. Para os empreendedores e investidores de cripto essa é a sensação do “Bear Market”. Hora de focar no que realmente importa.
A grande verdade é que enquanto o público se distrai com os grandes desastres do mercado cripto, com a volatilidade das moedas, e questionam se a Web3 terá futuro, quem está empreendendo e investindo seriamente em Web3 nem pensa se a Web3 terá futuro. Eles simplesmente sabem que terá. Agora, como, quando e onde, é impossível prever.
Mas você pode se perguntar: “como eles podem ter tanta certeza?”. Basta afastar o barulho das mídias e focar nos fundamentos e aplicabilidade da tecnologia blockchain, para entender que a Web3 não se trata de uma promessa, mas sim de uma realidade com potencial já no presente.
Alguns aspectos fundamentais de blockchain como a criptografia das informações, a rastreabilidade das transações, o anonimato e o mecanismo de consenso, bem como alguns mecanismos como os contratos inteligentes, abrem espaço para que novos modelos de negócio sejam criados, novas features para aplicações sejam inventadas, novas dinâmicas sociais sejam implementadas. E isso é real.
Agora, você pode se perguntar novamente: “então, porque ainda não vemos startups virando “mainstream”, como vimos Facebook crescer na Web2?” Bom, não existe uma resposta certa para essa pergunta, assim como não existe uma fórmula mágica para se criar empresas de sucesso.
Você pode se perguntar: “porque ainda não vemos startups virando “mainstream”, como vimos Facebook crescer na Web2?”
Para encontrar possíveis respostas, é preciso exercitar seu racional independente. Pois se você seguir o barulho, o que você vai encontrar é o famoso “mais do mesmo”. E não é no barulho que você encontra a originalidade, a criatividade e soluções profundas e reais. É no silêncio.
Para facilitar a sua vida em busca dessas respostas, eis aqui alguns pensamentos que podem parecer estar indo na contramão do que a maioria pensa, mas que podem ser pensamentos riquíssimos que foram produzidos por pessoas que pensam de maneira independente.
1) Pare de pensar em negócios “Token Holder-Centric”: Muitos negócios em Web3 hoje são focados em quem é token holder (Token Holder-Centric). Em sua maioria, a grande utilidade desses tokens é acesso a um grupo exclusivo e direito a voto como poder de governança. E isso não basta.
Ainda é preciso ver mais negócios “Participant Centric”, ou seja, negócios que focam nos usuários do protocolo. Como criar um negócio onde cada participante é incentivado a possuir o token e como resultado disso, a experiência do participante se amplia? Essa é uma proposta muito mais valiosa e duradoura do que perguntar “O que os detentores de tokens ganham?”.
Você pode entender melhor essa ideia nesse artigo do Mike Sall, fundador da Goldfinch.
2) Não existe problema de UX na Web3: Muitos empreendedores, investidores e usuários da Web3 acreditam que existe um grande problema de User Experience (UX) a ser resolvido na Web3. Afinal, ter uma wallet descentralizada (ex: Metamask), com uma Private Key, uma Public Key, e diferentes Moedas, diferentes Redes para se conectar, e a responsabilidade de cuidar dos seus próprios dados e informações... é algo pouco “friendly”.
É entendível que essas “novidades” podem ser uma barreira. Mas algumas pessoas como a Li Jin e Mhonksalo acreditam que isso não é um problema de UX, mas sim de Product Market Fit. O argumento deles é o seguinte: se o produto for bom o suficiente para um grupo de pessoas específico, elas não se importariam com essas “novidades” necessárias para usar o produto.
Um exemplo disso é quando o público no início dos anos 2000 foi apresentado ao “e-mail”. Eles não deixaram de usá-lo por não entender o porquê era necessário usar o símbolo de “@” no seu endereço pessoal, ou as siglas “.com” ou “.org”, ou qual provedor eles deveriam usar (Gmail, Hotmail, Yahoo?).
O fato de poder se comunicar por pessoas através de uma correspondência 100% online era mágico e as pessoas aderiram. Na visão de Li Jin, o que faltam são produtos que o público realmente ame, e isso não é um problema da Web3, é um problema da web1 e da web2 também. Simplesmente é muito difícil criar uma empresa que cresça e prospere.
Vocês podem explorar mais sobre esses argumentos nesse artigo do Mhonksalo.
3) Games, metaversos e entretenimento farão o onboarding de milhões de pessoas na Web3 - mas não tão cedo: Faltam consumidores na Web3. Apesar do número expressivo de wallets ativas no mundo, ainda é muito pouco quando comparada com a quantidade de usuários de internet (web2). Portanto, é preciso fazer o onboarding de milhões de pessoas na Web3, e muita gente acredita que games e entretenimento terão um papel muito importante nisso.
Existe uma verdade nesse argumento. Como o poder das histórias e personagens, é algo visceral para o ser humano, a audiência não se importará com todas as barreiras de entrada da Web3. Mas existe uma barreira gigantesca que empreendedores e investidores estão ignorando, ao simplesmente admitir que criar jogos e metaversos é como criar startups.
Criar games, metaversos, personagens, universos, é muito mais demorado, custoso e arriscado do que construir aplicativos e soluções online. Esse modelo de negócio da indústria criativa se assemelha muito mais com deep tech, biotech e space tech do que com startups tradicionais.
Você sabia que para a Pixar criar um filme de 2 horas leva em média 3 anos? E são 3 anos de criação sem ver nenhum produto, sem testar com a audiência, sem monetizar, sem ter a menor ideia se o público irá gostar ou não. E aproximadamente 2 anos desse período é construído com times que chegam a aproximadamente 200 pessoas. Essa é a mesma lógica para criação de videogames. E é ainda mais complexo para criar metaversos.
Ou seja, é necessário investimentos muito maiores para criação de um produto de entretenimento do que em startups, e o risco de não dar certo, é maior. Ao mesmo tempo, se for bem-sucedido, os ganhos podem ser decabilionários. Basta analisar franquias, tais como Star Wars, Stranger Things, Harry Potter, e jogos como Fortnite, Call of Duty e League of Legends.
Então, assumir que os jogos e produtos de entretenimento em Web3, que foram criados em poucos meses serão suficientemente bons para sustentar a entrada e a retenção de milhões de pessoas na Web3, pode ser ingênuo. Mas acreditar que isso poderá ser uma realidade no futuro (médio prazo), não é uma loucura. Só que para isso acontecer, será preciso encontrar investidores dispostos a investir nesse tipo de modelo de negócio, o que não está sendo fácil hoje em dia.
Você pode analisar esse ponto de vista sob a ótica do Andrew Chein nessa thread do Twitter que provoca também a ideia de que AI generativas podem acelerar essas produções e abrir um novo caminho.
Dito isso, o fato é, o mercado de Web3 precisa de tempo, investimento e talento para ver empresas indo mainstream e não acontecerá do dia para a noite. E para empreendedores e investidores, é muito importante olhar mais para os fundamentos e menos para notícias, para conseguirem se afastar do barulho e como consequência criar algo que realmente tenha valor.
Se isso for feito, é só uma questão de tempo para vejamos empresas irem mainstream nos próximos anos. Mas isso são cenas dos próximos capítulos.
To be continued...
* Alma é um DAO (Decentralized Autonomous Organization) de líderes, empreendedores, investidores e builders que mentora, investe, educa e ilumina empresas e iniciativas de Web3.
Este texto foi escrito de maneira colaborativa e descentralizada pelos membros catalisadores da Alma. São eles: Bogado, Bruno Nardon, Daniel Smolenaars, David Politanski, Felipe Bonetto, Guilherme Bettanin, Gustavo do Valle, Heli Diogo Dourado, Isac Honorato, Ivan Pereira, João Bernardtt, Juliana Walenkamp, Laio Santos, Lucas Prim, Luccas Riedo, Mariana Bernado, Paulo Orione, Pedro Bergamini, Pedro Cardoso, Pedro Sirotsky, Rapha Avellar, Ricardo Bechara, Robson Harada, Rodrigo Portaro, Rogue, Rony Meisler, Rudá Pellini, Tallis Gomes, Thiago Gil, Victor Stabile.