As lojas de vestuário e artigos esportivos ainda são o principal negócio da Track&Field. Nos últimos anos, porém, a varejista buscou se fortalecer com outras frentes atreladas à sua marca. Das corridas de rua e outros eventos a uma plataforma que conecta treinadores a atletas amadores e profissionais.
Agora, uma modalidade ainda recente nesse circuito começa a ganhar corpo: o TFC Food & Market. TFC é a abreviatura para Track&Field Coffee, os cafés instalados em espaços integrados às lojas da rede e cujo conceito abriga ainda a oferta de produtos saudáveis, a princípio, na categoria de mercearia.
Fruto de um exercício que começou a ser testado há dois anos, com uma primeira unidade no Shopping Iguatemi, em São Paulo, o formato já está presente em nove unidades da rede – próprias e de franqueados. E é um dos pilares estratégicos da companhia para 2024.
“Nós fizemos uma série de ajustes nessa operação e fomos entendendo qual era realmente a atratividade desse modelo”, diz Fernando Tracanella, CEO da Track&Field, ao NeoFeed. “Demos um pouco mais de velocidade neste ano e, agora, estamos muito confiantes na expansão do formato.”
A decisão de imprimir um ritmo mais forte acontece na sequência de uma mudança recente no alto escalão da varejista. Em agosto, Tracanella, que atuava como CFO da rede há cinco anos, foi promovido a CEO, em substituição à Fred Wagner, um dos sócios-fundadores da companhia.
Wagner, por sua vez, assumiu o posto de CEO da TFSports, plataforma de promoção de eventos esportivos e de bem-estar da marca. Além de manter seu assento no board e de acumular a posição de vice-presidente de estratégia e novos negócios da Track&Field.
Como prova do fôlego do TFC Food & Market dentro dessa nova organização, o projeto está ganhando escala a partir do core da operação, ou seja, as lojas físicas, agora no centro das atenções de Tracanella. Mas já prevê conexões com as iniciativas que estão sob a alçada de Wagner.
Os primeiros nove cafés da marca são fruto de uma onda de reformas iniciada pela Track&Field, também há dois anos. Boa parte da leva inicial nesse formato fica em São Paulo. Mas já há unidades em praças como Belo Horizonte, Salvador e João Pessoa.
Outros dois cafés serão inaugurados entre o fim do ano e a largada de 2024. E, embora não crave uma projeção de aberturas para o ano, o CEO da rede ressalta que esse avanço deve incluir mais lojas fora de São Paulo e está sendo impulsionado, em boa medida, pelo interesse de franqueados.
Essa demanda é acompanhada pelo desafio de encontrar pontos viáveis para receber os cafés. As lojas têm, em média, 250 metros quadrados, contra os 100 metros quadrados das unidades tradicionais da rede – os investimentos iniciais nos dois formatos não são revelados.
Em contrapartida, a procura tem sido alimentada por um outro ingrediente. “As lojas com café crescem mais”, explica Tracanella. “Os cafés são um direcionador de fluxo e de aumento da frequência dos clientes.”
Como uma sinalização desse desempenho, ele recorre a dados consolidados do terceiro trimestre. No período, as vendas totais da rede cresceram 20%, enquanto as lojas próprias e as franquias reformadas tiveram um salto, respectivamente, de 34,3% e de 33,8%.
“As lojas com cafés estão acima dessas médias”, observa. “Nossa visão não é depender apenas das aberturas de unidades. O crescimento mais eficiente e rentável é o de mesmas lojas. E, nessa direção, temos as reformas, o omnichannel, os produtos e projetos como os cafés, que geram mais fluxo.”
Nesse percurso, o TFC Food & Market deve ter como destino, em uma segunda fase, a TFSports. Esse braço reúne tanto as corridas de rua e circuitos de beach tennis da marca como a plataforma que já conta com mais de 540 mil usuários e mais de 5,7 mil treinadores, de 45 modalidades.
“Estamos usando os cafés como um teste para entender o comportamento do nosso consumidor sob ponto de vista da alimentação saudável”, diz o CEO. “O passo seguinte, que deve acontecer, provavelmente, em 2024, é vender esses produtos dentro de um marketplace na TFSports.”
Marketplaces, reformas e expansão
O marketplace de produtos saudáveis não será, porém, o primeiro da TFSports. A unidade já conta com o tfmall, voltado à venda de artigos esportivos, como tênis, wearables e fones de ouvido. Apple, Samsung e Garmin são alguns dos sellers parceiros.
Tracanella entende que a TFSports, vista como uma startup dentro da varejista, sai na dianteira em relação a muitas outras “novatas”. A maior delas, diz ele, é o fato de a operação começar já muito próxima do break even.
“A TFSports tem receitas com patrocínios e inscrições de corridas e eventos”, afirma ele. “E isso também aumenta o contato dos clientes com a marca, gera experimentação do produto e traz mais movimento nas lojas, a partir da retirada dos kits.”
Entre julho e setembro, a TFSports promoveu 577 eventos e previsão é fechar o ano com mais de 2 mil. E, em um outro exemplo da sua conexão com o core da rede, já há franqueados montando estúdios em suas lojas para que treinadores e usuários cadastrados na plataforma façam suas aulas.
Nas lojas físicas, a prioridade da rede será dar sequência às reformas para o modelo batizado de Experience Store, com recursos multicanal. A meta é fechar 2023 com 25 projetos concluídos e superar a marca, entre reformas e aberturas já nesse formato, de mais de 100 unidades sob esse conceito.
Hoje, a Track&Field tem 343 lojas, sendo 44 próprias e 299 franquias. Em termos de expansão, a projeção para 2023 e para os próximos anos é manter o ritmo entre 35 e 40 aberturas. Alguns dos nortes dessa tese serão reforçar a presença em cidades menores e, nas capitais, em lojas de rua.
Aqui, Tracanella discorda da visão de alguns analistas que apontam o posicionamento premium da marca como um possível limitador para essa expansão. “Existem muitas cidades, por exemplo, com relação com o agronegócio e com um consumidor de renda mais alta. Ainda temos muito a fazer”, diz.
Com sua base atual, a Track&Field fechou o terceiro trimestre com um lucro líquido ajustado de R$ 29,1 milhões, alta anual de 16,1%. Já a receita líquida cresceu 18,9%, para R$ 164,3 milhões, enquanto o Ebitda ajustado avançou 22,4%, para R$ 36,8 milhões.
No Brasil, com essa escala e a proposta de criar um ecossistema a partir do varejo esportivo, o grande paralelo na concorrência é a SBF, dona da Centauro. O grupo tem, porém, um posicionamento um pouco diferente da Track&Field, dado que trabalha com outros perfis de consumidores.
Diferenças à parte, em mais uma etapa dessa corrida no mercado de capitais, as ações da Track&Field encerraram o pregão da segunda-feira, 13 de novembro, cotadas a R$ 13,84, queda de 0,65%. A empresa está avaliada em R$ 2,13 bilhões e, no ano, seus papéis acumulam uma alta de 31,8%.