A comunicação é a base de qualquer relacionamento. Inclusive a dos fazendeiros com suas plantas. A linguagem vegetal, porém, sempre foi incompreensível para os agricultores. Até agora. Os inovadores do ecossistema agtech estão descobrindo como decifrar o que a lavoura tem a dizer – e, assim, garantir culturas mais saudáveis, produtivas e sustentáveis.
O bioquímico americano Kyle Mohler, PhD em biotecnologia, é um deles. Em 2019, ele fundou, em Atlanta, Indiana, a Insignum AgTech.
Graças aos avanços dos conhecimentos da fisiologia vegetal e do aperfeiçoamento das ferramentas de edição gênica, a tecnologia desenvolvida pela startup permite à plantação avisar quando está doente, sob o ataque de insetos ou estresse nutricional. E melhor: o alerta é dado em estágios bem iniciais, quando ainda é possível proteger a cultura, sem a necessidade de uma intervenção pesada.
A linguagem escolhida por Mohler foi a das cores e ele começou trabalhando com o milho. O pigmento é natural da espécie. O bioquímico apenas o ativou para que, frente a um agente de tensão, as folhas fiquem roxas.
A Insignum recebeu o aval do Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), para comercializar as sementes de milho colorido.
A startup está indo para seu quarto ano de experiências em campo. No início de 2023, a Insignum estabeleceu parceria com a gigante americana de sementes Beck’s Hybrids. Lançada em 1937, a equipe de P&D da companhia está testando as sementes da agtech.
Na agricultura tradicional, quando os sintomas de uma doença ou praga se tornam visíveis para o agricultor, é tarde demais para evitar a queda de rendimento da lavoura. Em 2000, por exemplo, os produtores de milho do sudoeste de Goiás enfrentaram uma grave epidemia de cercosporiose, doença causada pelo fungo Cercospora beticola. As perdas chegaram a 80%.
O prejuízo financeiro com a falta de precisão
Cerca de 40% da produção agrícola global é perdida para os patógenos. Em prejuízos financeiros, são US$ 220 bilhões, segundo analistas da FAO, a agência para alimentação e agricultura da Organização das Nações Unidas.
Na tentativa de proteger as lavouras contra as incertezas, os fazendeiros recorrem aos defensivos profilaticamente. Em geral, é usada uma quantidade 30% maior do que a realmente requerida pelas plantações. Anualmente, o mundo gasta US$ 30 bilhões com insumos sem nenhuma serventia para as lavouras. Além do desperdício de dinheiro, a prática prejudica as culturas que deveriam proteger e contamina o solo.
Inovações da agricultura de precisão, como as da Insignum, prometem reduzir o desperdício. Outra agtech que se dedica a criar traduzir a linguagem das plantas é a InnerPlant. Sediada em Davis, na Califórnia, lançada em 2018 e com US$ 22,2 milhões, a startup também conseguiu aprovação do USDA para sua soja.
Com o apoio da Deere & Co., uma das principais fabricantes de máquinas agrícolas, e da Syngenta AG, produtoras de sementes, o cultivar da agtech foi programado geneticamente para brilhar no escuro, quando contaminado por fungos.
O efeito é deflagrado em, no máximo, 48 horas depois da infeção. “Isso permite antecipar o diagnóstico em até duas semanas antes de o estresse se tornar visível no campo”, lê-se em relatório da InnerPlant.