No prazo de um mês, a JHSF terá inaugurado três operações internacionais, numa nova rodada de luxo do grupo em São Paulo. No Shops Jardins, acaba de abrir uma Louis Vuitton com 331 m² que além da moda masculina e feminina, traz um mix de produtos complementares as demais butiques da grife, com artigos para bebês, gifts e joias.
No outro empreendimento do grupo, o Cidade Jardim, a pop-up da Bulgari se transformou na maior boutique da grife na América Latina, com mais de 300 m². Com isso, o shopping reforça sua operação de joalheria internacional, com as já instaladas flagships da Tiffany e da Cartier (aberta este ano com 263 m²).
Em janeiro, a Valentino amplia sua área no mesmo shopping com uma flagship de 300 m² no modelo arquitetônico recém-implantado na Avenue Montaigne, em Paris. Há ainda a já revelada abertura do restaurante parisiense L’Avenue. E duas outras operações estão na previsão de 2024.
O anúncio do grupo Iguatemi da abertura de mais cinco operações internacionais para o próximo ano, sendo uma delas ainda sem butique própria no país, também jogou mais lenha na fogueira. Será que agora vai? O Brasil entrou no radar de investimento das marcas internacionais novamente?
Há pouco mais de uma década o país viveu um frenesi com a chegada de butiques de marcas internacionais. No período desembarcaram aqui, por exemplo, grifes do grupo Richemont - Vacheron Constantin, Piaget, Panerai , IWC -, assim como de marcas na categoria masstige - Kate Spade, Longchamp.
Com a crise, fecharam lojas e deixaram de operar diretamente no país. Este ano Panerai e IWC voltaram a ter butiques monomarcas capitaneadas pela joalheria Frattina.
O que difere aquele momento do atual? “Nesse intervalo de tempo a JHSF acabou se consolidando e unificando em um único grupo econômico uma série de atividades empresariais que são voltadas para o público de renda alta, com varejo, hotelaria, restaurantes, condomínios”, disse ao NeoFeed Thiago Alonso, CEO da JHSF.
“Com esse salto, as marcas de luxo têm uma conexão muito forte com o público de interesse no ambiente que criamos na última década”, completa.
"O mercado amadureceu", avalia Francisco Finocchiaro, diretor comercial do Iguatemi S/A. Os clientes entenderam, diz, que é vantajoso comprar em casa pela similaridade dos preços, somada a benefícios como facilidade de pagamento.
"O relacionamento que se constrói com as marcas é outro fator que contribui para essa mudança de comportamento em relação ao passado", disse ele ao NeoFeed. Este ano a Moncler expandiu sua loja no JK Iguatemi, a Dolce & Gabanna abriu no Iguatemi Campinas e a Gucci chegou no shopping do grupo em Porto Alegre.
Para Alonso, da JHSF, esse novo momento da retomada de investimentos das marcas internacionais não está associada ao boom alcançado pela indústria no mundo na pandemia. Nem ao fato de os brasileiros terem feito suas compras no país, com as restrições de viagens, aumentando o resultado das marcas localmente.
“No mundo dos negócios essas decisões de investimento não são tomadas assim, num momento de exceção”, avalia. “O fato do Wealth Report, do UBS, por exemplo, mostrar que o público de alta renda vai dobrar nos próximos cinco anos no Brasil é mais relevante. Essa criação de riqueza no país é importante para atrair as marcas.”
De acordo com o relatório, 1% dos brasileiros detinha 48,4 % da riqueza do país em 2022. O Brasil, ao lado da Rússia, apresentou um dos maiores percentuais de crescimento de indivíduos UHNW (Ultra Hight Net Worth) tanto nas faixas até US$50 milhões como até US$ 100 milhões.
Esse é o ponto crucial para o cenário atual, a “concentração de renda”, avalia Martin Gutierrez, senior partner da consultoria MCF. “Há uma década havia mobilidade social na pirâmide. As marcas estavam num movimento de expansão, de globalização, em busca dos consumidores aspiracionais”, lembra.
Gutierrez destaca que foi uma era de muitos frequentadores estreantes no mercado o que atraiu também marcas intermediárias para o país.
Agora o cerco das grifes é aos ultrarricos que “sofreram menos os efeitos do impacto econômico da pandemia e compraram como nunca nesse período.” O foco, na década anterior, era o da democratização, o acesso para os consumidores emergentes, o volume.
“Agora é mais evidente o cultivo dos clientes já estabelecidos. Não é à toa que as marcas estão crescendo ou abrindo novas unidades aqui. Querem ampliar o escopo, oferecer mais pontos de contato e intensificar relacionamento, além da ocupação territorial focando no longo prazo”, diz Gutierrez.
Além disso, diz ele, o crescimento do resultado das grifes também foi alicerçado pelo próprio aumento dos preços dos produtos e sofisticação dos serviços. “Na hotelaria, por exemplo, os hotéis dobraram suas tarifas no último ano.”
A dúvida, diz, é por quanto tempo as marcas vão continuar a operar no mesmo patamar. “Porque não há como as grifes se manterem só com os ultrarricos, ainda mais com os preços tão inflacionados.”
É certo que "internados" no país, os consumidores brasileiros desenvolveram uma relação muito mais próxima com as operações locais o, digamos, fator humano. Experiências e eventos foram criados para criar conexões quando o confinamento foi relaxando.“O relacionamento é o mais importante no luxo, isso é uma das chaves que define o crescimento atual no país”, diz Alonso.
Entre os associados da Abrael (Associação Brasileira das Empresas de Luxo), a previsão de crescimento este ano é de 19,27% em relação ao ano passado. Entre 2021 e 2022, chegou a 30,06%. No grupo JHSF, as vendas em todos os shoppings do grupo cresceram 6,7% no trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior chegando a R$1,03 bilhão. No período, o shopping Cidade Jardim registrou um aumento de vendas de 8,5%.