Após ver seu plano de construir uma plataforma global de cosméticos não surtir o efeito desejado, a Natura&Co engatou a marcha para reestruturar e simplificar suas operações. Agora, sob essa orientação, o novo passo envolve o principal passo dado em sua ambição de “conquistar o mundo”.

Na noite de segunda-feira, 5 de fevereiro, o grupo informou que sua diretoria recebeu a autorização do conselho de administração para avaliar uma possível separação da operação da Natura na América Latina da Avon em duas companhias independentes e de capital aberto.

Em fato relevante, a Natura observou que a possível separação dos dois ativos está em linha com a estratégia de “simplificar sua estrutura corporativa e proporcionar mais autonomia para suas unidades de negócios”.

Segundo a companhia, atualmente, as duas empresas têm abrangências geográficas distintas. Essa diferença se estender aos perfis de consumidores e também aos batalhões de consultoras que fizeram a fama do grupo brasileiro.

A Natura ressalta que a estrutura a partir de um eventual spin-off ainda está sendo avaliada, mas a ideia é que as duas companhias tenham planos de negócios próprios, governança independente e equipes de gestão específicas.

A princípio, a Natura seguiria operando com as duas marcas no mercado latino-americano. Nesses moldes, a Avon se beneficiaria indiretamente das vendas na região por meio de um acordo comercial com a marca brasileira.

Em linha com os racionais por trás de processos dessa natureza, o grupo brasileiro observou ainda que uma potencial segregação daria aos acionistas e ao mercado maior visibilidade sobre desempenho, estrutura, perspectivas de crescimento e teses de investimento das respectivas companhias.

Principal acordo na direção de fincar definitivamente os pés da Natura no mercado global, a compra da Avon foi anunciada em maio de 2019 e concluída dois anos depois, em uma transação de aproximadamente US$ 2 bilhões.

Com o tempo, porém, a integração de uma operação dessa magnitude se mostrou um peso para a Natura e contribuiu para que a empresa revisse seus planos. O que, claro, não está restrito a essa possível cisão na América Latina.

Recentemente, a Natura se desfez de outros dois ativos que compunham seu plano global. Em novembro do ano passado, vendeu a marca The Body Shop à gestora alemã Aurelius Investment, em uma transação avaliada em 207 milhões de libras, ou R$ 1,25 bilhão. Considerando um potencial earn out de 90 milhões de libras, a venda pode atingir R$ 1,8 bilhão.

Antes disso, em abril, o grupo acertou a venda da marca de cosméticos australiana Aesop para a L’Oréal, em uma transação avaliada em US$ 2,5 bilhões.

Essa mudança de marcha na Natura teve início com a entrada de Fabio Barbosa, que assumiu o comando da companhia em junho de 2022, justamente simplificar as operações e voltar ao básico, no caso, as vendas porta a porta.

Outra missão de Barbosa era justamente reduzir o endividamento, algo que vem tendo sucesso. No terceiro trimestre, a relação entre dívida líquida e Ebitda ficou negativa em 0,66 vez, enquanto no mesmo período de 2022 ela foi de 4,15 vezes.

As ações da Natura fecharam o pregão de segunda, 5, com queda de 0,50%, a R$ 16,06. No ano, elas acumulam queda de 5%.

(Colaborou Ivan Ryngelblum)