Depois de encerrar o mês dezembro com um viés de alta, ao registrar 194 transações, o segundo maior volume de 2023, a trilha dos M&As está sendo marcada por uma desaceleração neste início de 2024 no mercado brasileiro.
Segundo dados compilados pela plataforma de informações corporativas TTR Data, os acordos nessa arena movimentaram R$ 8,92 bilhões em janeiro de 2024, uma retração de 15,26% sobre igual período do ano passado, quando essas transações somaram R$ 10,53 bilhões.
A queda não está restrita aos valores dessas negociações, que incluem fusões e aquisições, private equity, rodadas de venture capital e aquisições de ativos. Na mesma base de comparação, o recuo no número de deals foi ainda mais acentuado, de 26,43%, para 103 operações.
Do total de transações, 49 foram M&As, 28 de venture capital, 20 de aquisições de ativos e as 6 restantes de private equity. Entre os acordos cujos termos financeiros são conhecidos, 15,24%, o maior índice, estiveram na faixa de R$ 10 milhões a R$ 50 milhões.
Já entre os setores, os destaques ficaram com os segmentos de internet, software e serviços de tecnologia da informação, com 31 acordos (+3%); business & professional support, com 17 deals (+21); real estate, com 11 transações (+10%); e distribuição e varejo, com 11 M&As (+120%).
No que diz respeito à modalidade, o private equity contabilizou seis transações, uma queda anual de 33,33% e um recuo de 28,52% em valores, para R$ 2,1 bilhões. Esse pacote foi dividido entre três operações domésticas e três cross border.
Apesar das retrações registradas nos dois indicadores, o segmento registrou a maior transação do período no País. Trata-se da compra de uma fatia de 49% da Órigo Energia pela gestora americana I Squared Capital, que desembolsou US$ 400 milhões na operação.
Já em venture capital, o topo do pódio ficou com a rodada de R$ 203 milhões recebida pela Conta Simples, com a participação de investidores como Valor Capital, Domo VC, Y Combinator, Base 10 e Big Bets.
Essa vertente também registrou, porém, um desempenho inferior na comparação anual. Em valores, a queda foi de 12,14%, para R$ 1,08 bilhão. O volume de rodadas, por sua vez, caiu 45,10%, para 28 deals. A Domo VC, uma das investidoras da Conta Simples, foi a mais ativa no período, com três aportes.
Na contramão dessa tendência de queda, as aquisições de ativos somaram R$ 3,2 bilhões no primeiro mês do ano, alta anual de 96,65%. Foram 20 acordos nesse intervalo, o que representou um crescimento de 42,86%.
O segmento de real estate se sobressaiu nesse último mapa. Nesse espaço, o destaque ficou com a aquisição do prédio que abriga o Itaú BBA, na avenida Faria Lima, em São Paulo. O imóvel, detido até então por um fundo imobiliário da Brookfield, foi comprado pelo Itaú Unibanco por cerca de R$ 1,5 bilhão, o que configurou a terceira maior transação no ranking geral do período.
Embora o ano tenha começado mais devagar para os M&As no Brasil, não são poucos os atores do mercado financeiro que nutrem a expectativa de que as movimentações nesse balcão ganhem intensidade no decorrer do ano.
É o caso de Leonardo Cabral, head de investment banking do Santander. Em entrevista ao NeoFeed no fim de janeiro, ele ressaltou que o banco vem ampliando sua equipe na área desde 2023 justamente sob a perspectiva de aceleração tanto em M&As como em operações no mercado de capitais.
“Aqui no Santander, estamos com boas transações de M&A, boa parte delas cross border. Das dez principais transações em execução aqui no banco, oito tem uma ponta internacional participando, seja na compra ou na venda. É muita coisa”, afirmou Cabral.
Quem engrossou esse discurso foi o BTG Pactual, na apresentação do seu balanço trimestral e anual, na semana passada. Entre setembro e outubro, o banco registrou 21 M&As, contra 11 no trimestre anterior e 6 em igual período de 2022. Segundo o CFO Renato Cohn, o BTG segue com um pipeline robusto nessa frente em 2024.