No início de março, uma notícia sacudiu o mercado de gestão de recursos. Era o anúncio de que a carioca Vinci Partners havia comprado a Compass fazendo o seu asset under management (AUM) passar de US$ 14 bilhões para mais de US$ 51 bilhões. Na disputa “não declarada” com o Pátria Investimentos, ultrapassava o concorrente na chegada do número mágico dos US$ 50 bilhões.
O Pátria Investimentos, é bom lembrar, tem como meta chegar a US$ 50 bilhões sob gestão até 2025. Atualmente, depois das aquisições do private equity da britânica abdrn e da gestora de fundos imobiliários Credit Suisse Hedgin-Griffo (CSHG), está em cerca de US$ 43 bilhões. Mas um olhar um pouco mais atento mostra que a busca pelos bilhões está em um patamar diferente.
Se antes Vinci e Pátria eram vistos como iguais, depois da transação com a Compass, pelo menos por enquanto, são opostos. E o motivo é simples. Vinci se tornou um negócio mais de distribuição de terceiros e o Pátria se consolidou como uma casa de gestão de produtos próprios. Cada um, a seu modo, buscando protagonismo na América Latina.
Os números mostram isso. Antes do deal, o AUM da Vinci era dividido da seguinte forma: 65% de gestão de produtos próprios e 35% de distribuição de produtos de terceiros. Com a compra e união com a Compass, a Vinci passará a ter cerca de 25% de produtos próprios e 75% de distribuição de terceiros. Em termos de produtos 56% são líquidos e 44% ilíquidos.
No caso do Pátria, cerca de 98% do AUM são de gestão de produtos próprios e 2% de produtos de distribuição de terceiros. E, do total, quase 80% são de produtos ilíquidos e 20% de líquidos.
A diferença entre as duas empresas ficou mais gritante porque a Compass tem um AUM ancorado na distribuição de produtos de terceiros, de casas como Franklin Templeton e outras.
Para se ter uma ideia, 89% dos US$ 37 bilhões sob gestão são de distribuição de produtos de terceiros, e apenas 11% são produtos próprios. E isso mexe com os resultados das empresas.
Cerca de 40% da receita da Compass vem dos 11% de gestão própria e os outros 60% de receita vêm da distribuição. Afinal, o business de distribuição tem uma remuneração mais baixa em relação ao asset management.
A taxa média cobrada pela Vinci antes do deal com a Compass era de 0,70%. Com a aquisição da Compass, ela deve cair para cerca de 0,30%. No caso do Pátria, hoje com 1,20%, depois dos M&As da abdrn e da CSHG, espera-se que caia para 1%.
São números que trazem mais uma resposta a uma indagação que muitos fizeram depois que o deal foi revelado. A Vinci teria pagado barato por uma gestora com US$ 37 bilhões de AUM?
Pelos termos anunciados, a Compass recebeu da Vinci 11.783.384 ações classe A da gestora e uma quantia em papéis conversíveis de US$ 31,3 milhões (cerca de R$ 154 milhões). Não pagou nem barato e nem caro: pagou o que é praticado no mercado quando se analisa gestoras focadas em distribuição.
A métrica da indústria é o fee-related earnings (FRE), que pode ser considerado o equivalente ao ebitda. A Vinci pagou 12 vezes o FRE. Empresas como Invesco e Janus Henderson negociam entre 10 e 13 vezes. E isso evidencia mais um ponto a ser destacado nesse rearranjo de mercado.
Olhando para o mercado americano dá para ter uma noção de como cada um, agora, parece jogar em uma liga diferente. Nos Estados Unidos, a BlackRock, mais focada em distribuição, administra US$ 10 trilhões e a Blackstone, centrada em ativos alternativos, administra US$ 1 trilhão. Só que a Blackstone, na segunda feira 18 de março, era avaliada em US$ 149,5 bilhões e a BlackRock US$ 119,1 bi.
Outro bom exemplo é o da KKR, que tem US$ 553 bilhões em AUM, e o da Franklin Templeton, com US$ 1,45 trilhão em AUM. Duas empresas gigantes com perfis opostos: KKR atua em ativos alternativos e a Franklin em distribuição. A KKR vale US$ 84,6 bilhões e a Franklin US$ 14,1 bilhões.
Na comparação Pátria Investimentos e Vinci Partners, olhando para valores de mercado, a situação parece ser a mesma. Enquanto Pátria vale US$ 2,15 bilhões na Nasdaq, a Vinci é avaliada em US$ 606 milhões na mesma bolsa. Isso, obviamente, pode mudar. Mas vai depender do jogo que cada uma jogar.