O mercado latino-americano de startups evoluiu consistentemente nas últimas duas décadas. Foram 45 unicórnios criados na região. Desses, 24 negócios nasceram no Brasil. Na região específica do Vale do Silício, a título de comparação, 63 startups atingiram valuation bilionário até o fim de 2023.
Ainda que os números não pareçam muito distantes, há um gap considerável entre os dois ecossistemas de startups. As diferenças vão desde a dificuldade para captar recursos em estágios mais avançados do negócio até a forma como os problemas são encarados pelos empreendedores.
No comando da operação latino-americana da Picus Capital, gestora early stage que já investiu em startups como BHub e Caju, Pablo Lagos afirma que a América Latina precisa se desvincular da necessidade de capital externo.
“Quando esses mercados estão em crise, ninguém consegue levantar capital”, disse o investidor durante um painel realizado no South Summit Brazil, evento que o NeoFeed é parceiro de mídia.
Lagos também defende que exista uma diferença entre a forma como o empreendedor é encarado pelo mercado de venture capital na América Latina em relação ao Vale do Silício. “Aqui coloca-se mais peso na origem, de onde a pessoa vem e onde ela estudou, em vez de ser mais analítico”, diz.
O sócio da Picus Capital também conta que diferencia as duas regiões por uma crença no Vale do Silício de que os empreendedores podem construir empresas gigantes. “É um mindset diferente, esse de ter uma convicção de que você pode construir uma solução massiva”, afirma.
Para Antonia Rojas, managing partner da Attom Capital, gestora mexicana que já investiu em negócios como Clara e Xepelin, há uma concentração maior de talentos em São Francisco. “Na América Latina você tem hubs, como em São Paulo e na Cidade do México”, diz ela. “Mas, em São Francisco, há um ambiente mais colaborativo.”
Em contrapartida, Rojas cita como ponto positivo na América Latina a resiliência dos empreendedores ante os desafios encontrados. “Tudo aqui é difícil e os empreendedores parecem que gostam de encontrar os problemas porque isso permite que eles criem coisas novas”, afirma.
A managing partner da Attom Capital diz que a América Latina poderia absorver parte desta cultura colaborativa do Vale do Silício. “É preciso ter um ciclo em que os melhores empreendedores ajudem quem está começando e o mesmo vale para os investidores maiores com os menores”, afirma.
A investidora também afirma que a América Latina carece de sofisticação no mercado de startups. “Ainda precisa de mais venture debt, de maior consolidação dos M&As e de maior atenção com as rodadas secundárias”, afirma. “Há espaço e oportunidade para crescer.”