Para especialistas, ainda é difícil medir os danos do vazamento de petróleo no litoral do Nordeste. Desde o fim de agosto, quando foram detectadas as primeiras manchas negras na Paraíba, a substância já alcançou mais de dois mil quilômetros e 78 cidades da região.

Diante do desastre ambiental e da demora do governo brasileiro em intervir, as cenas de voluntários que se prontificaram a limpar as praias atingidas tornaram-se comuns nas últimas semanas. Entre eles, Guilhermo Pinheiro de Queiroz, CEO e cofundador da Biosolvit.

Em um vídeo divulgado há uma semana, ele propôs aplicar o absorvedor orgânico de petróleo desenvolvido pela empresa nas áreas afetadas. O material vazado, em estado quase sólido, tornou, no entanto, a tentativa infrutífera. E motivou uma nova gravação compartilhada nesta semana.

Se a experiência não foi bem-sucedida, o mesmo não se pode dizer da jornada cumprida pela startup carioca de biotecnologia nos últimos dois anos. Fundada em 2014, a empresa vem colecionando prêmios e participações em eventos de inovação no Brasil e no exterior.

A conquista mais recente foi a Amcham Arena, em São Paulo, na semana passada. O maior destaque, porém, veio em maio, quando ficou entre as 12 finalistas da competição “Startup World Cup Global Pitch Competition & Conference”, em São Francisco, nos Estados Unidos.

Com essa visibilidade, a Biosolvit tem planos ambiciosos. “Não vamos nos contentar com o mercado brasileiro”, diz Queiroz. “Exportar será um primeiro passo. Mas a empresa nasceu, de fato, para ser internacional.”

Guilhermo Pinheiro de Queiroz, CEO e cofundador da Biosolvit

Inicialmente, ele enxerga mais apelo para a Biogreen, linha que inclui produtos 100% orgânicos, voltados ao cultivo de flores, como o Xaxim de Palmeira.

Essa oferta substitui o xaxim produzido a partir da samambaiaçu, planta que, sob risco de extinção, teve sua venda proibida. “Os produtos dessa linha tem uma forte demanda em países como França, Alemanha e Holanda”, afirma.

No médio prazo, no entanto, a maior aposta reside na linha Bioblue, que reúne produtos orgânicos e sintéticos destinados à absorção de qualquer derivado do petróleo, em terra ou no mar. Bem como o reaproveitamento do material coletado.

Para se ter uma ideia do potencial desse mercado, levando-se em conta apenas os oceanos, desde a década de 1970, 5,73 milhões de toneladas de petróleo foram derramadas em todo o mundo, segundo a ONG britânica International Tanker Owners Pollution Federation Limited.

Nessa vertente, o absorvedor orgânico é visto como o de maior potencial, por seu caráter de inovação. Prova disso é o fato de que o produto é um dos principais responsáveis pela atenção despertada até aqui pela startup.

Um dos exemplos foram os testes realizados pelo laboratório francês do Instituto Cedre, em 2018, a pedido da petrolífera compatriota Total. Eles comprovaram os ganhos proporcionados. E renderam uma certificação internacional, além de patentes no Brasil, Estados Unidos, Canadá e União Europeia.

Entre outros parâmetros, os testes mostraram que 1 kg da solução absorve 22kg de petróleo, em 15 minutos. No método tradicionalmente adotado pelas indústrias, 1kg de poliuretano absorve 12 kg do material, no dobro do tempo.

Ganho de escala

O roteiro para que o absorvedor orgânico conquiste seu espaço no mercado internacional passa pela estruturação dessa oferta no Brasil. Hoje, no País, além do portfólio da Biogreen, a operação está centrada em outros produtos da linha Bioblue.

Startup ficou entre as 12 finalistas da “Startup World Cup Global Pitch Competition & Conference”

Nessa frente, a empresa tem trabalhado junto a clientes de setores como mineração e siderurgia. Vale, Petrobras e CSN são algumas das empresas que já adotam, por exemplo, as soluções sintéticas da startup.

Esse portfólio é produzido na fábrica da companhia instalada em Porto Belo (SC). Parte dos recursos para construir a unidade e financiar a operação até o momento veio de um aporte da BMG UpTech e da Bossa Nova Investimentos, por meio do Conecta, programa de aceleração do BMG.

“A Biosolvit não estava na nossa tese, pois investimos mais em companhias de software”, diz João Kepler, sócio da Bossa Nova. “Mas o Guilhermo é um empreendedor muito acima da média e eles estão resolvendo um problema real. Vamos seguir com a empresa.”

Nessa trilha, o próximo passo é justamente começar a produzir o absorvedor orgânico em escala industrial. “Em um prazo de três a seis meses, estaremos prontos para voar”, afirma Queiroz.

O combustível para essa nova fase veio com um novo aporte, realizado, em setembro, pelo MCLC4, family office de Laércio Cosentino, fundador e presidente do Conselho de Administração da companhia brasileira de software Totvs. Considerando a rodada anterior, a Biosolvit já captou, no total, R$ 17 milhões.

Parceria

A nova injeção de recursos é fruto de uma parceria de longa data. Queiroz e Cosentino já se conheciam desde 1999, quando o primeiro se tornou um franqueado da Totvs no interior do Rio de Janeiro. Com o tempo, passou a administrar também outras franquias em São José dos Campos (SP) e na Baixada Santista.

Por volta de 2012, Queiroz, hoje com 44 anos, entendeu que, mais cedo ou mais tarde, teria que “passar o bastão para alguém mais novo”, pois as franquias exigiam dedicação extrema. Em busca de um plano B, decidiu investir em uma fábrica de palmito em conserva para exportação, segmento no qual seu pai havia trabalhado por toda a vida.

https://www.youtube.com/watch?time_continue=4&v=evCRfNig1Ts

Ao visitar fábricas para entender esse mercado, descobriu que apenas 3% da palmeira era aproveitada. E começou a buscar alternativas para dar algum uso também aos resíduos. A pesquisa o levou até Wagner Martins, aluno de uma faculdade da região que estava desenvolvendo um absorvedor de petróleo, a partir das propriedades da palmeira.

Juntos, eles fundaram a Biosolvit. E, à procura de recursos e fôlego para estruturar e tocar a operação, passaram a participar de eventos, premiações e programas voltados a startups.

“Como ganhamos visibilidade, entendi que era o momento de contar ao Laércio sobre a empresa”, diz Queiroz. “Tinha medo da reação, mas ele foi incrível e perguntou como poderia ajudar”. A parceria inicial, restrita à mentoria, logo evoluiu para a entrada do antigo “patrão” na operação.

A chegada do novo sócio amplia as perspectivas da Biosolvit. E, ao que tudo indica, vai impulsionar o apetite da empresa por mais inovações. “Temos cinco novos projetos em curso”, diz Queiroz. “Nosso carro-chefe será sempre o próximo produto. Somos, essencialmente, uma empresa de pesquisa e desenvolvimento.”

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