A MRV&CO já tinha dado um spoiler do seu desempenho no primeiro trimestre de 2024 ao divulgar uma prévia operacional do período no último dia 16 de abril. E acaba de confirmar o que os dados iniciais sugeriam ao reportar o resultado consolidado na noite desta quarta-feira, 8 de maio.
“O balanço reforça a nossa recuperação operacional”, diz Ricardo Paixão, CFO da MRV&CO, ao NeoFeed. “Mas também reforça que a recuperação financeira ainda não está nesse mesmo nível. Temos um gap entre essas duas pontas para fechar.”
Boa parte do peso financeiro e dos questionamentos do mercado segue sendo a queima de caixa da construtora e incorporadora, apesar da melhora registrada. O grupo fechou o trimestre com um consumo de caixa de R$ 281,5 milhões, ante R$ 788,7 milhões, um ano antes.
Operação de multifamily da MRV nos Estados Unidos, a Resia continua, da mesma forma, contribuindo com a maior parcela nesse indicador. Mas também mostrou avanços, saindo de uma queima de caixa de R$ 578,4 milhões, há um ano, para R$ 274,9 milhões entre janeiro e março de 2024.
“Nossa prioridade máxima em 2024 é gerar caixa”, diz Paixão. Ele pontua que os números nessa linha vieram dentro do esperado e reitera o guidance de fechar o ano com uma geração de caixa entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões no segmento de incorporação nacional, que engloba as marcas MRV e Sensia.
O CFO elencou os três grandes alicerces no caminho para virar essa página. A primeira é a redução no pro-soluto concedido, ou seja, no percentual dos imóveis financiados pelo grupo. No trimestre, esse índice foi de 15%, contra 20,9% em igual período de 2023.
Uma segunda medida envolve a compra de terrenos restrita a permutas financeiras. “E temos comprado menos terreno do que temos lançado, dado que nosso landbank hoje é bem maior do que precisamos para o tamanho da operação atual”, observa o executivo.
Na outra ponta, esses movimentos estão sendo reforçados pela perspectiva de melhora gradual nos indicadores operacionais, à medida que as safras mais antigas – e menos saudáveis - de projetos que pesam no balanço vão sendo substituídas por empreendimentos mais recentes.
Nessa equação, o Valor Geral de Vendas (VGV) de lançamentos no trimestre ficou em R$ 1,59 bilhão, alta de 150,4% em base anual. Dessa base, 45% dos projetos foram centrados na faixa 1 do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), destinada a famílias com renda mensal de até R$ 2.640.
Para o ano, a projeção é de que esse segmento concentre cerca de 35% dos lançamentos. O mix incluirá ainda 15% dos projetos fora do MCMV e o restante será reservado, em sua maioria, para a faixa dois do programa, voltado a famílias com renda mensal de até R$ 4,4 mil.
Em outros indicadores que sinalizam a recuperação operacional, as vendas cresceram 18,4% no período, para R$ 2,1 bilhões. A venda sobre oferta – métrica que traz o percentual de unidades vendidas em relação ao estoque disponível – foi de 33,1%, um avanço de 11,1 pontos percentuais.
Ao mesmo tempo, o tíquete médio por unidade registrou um salto de 13,7%, para R$ 248 mil. A margem bruta, por sua vez, evoluiu de 20,6%, um ano antes, para 25,9%. Na mesma base de comparação, o Ebtida foi de R$ 241 milhões, alta de 111%.
O lucro líquido ajustado foi de R$ 54 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 65 milhões no primeiro trimestre de 2023. Os ajustes excluem os efeitos de equity swap, marcações a mercado e ganhos e perdas não recorrentes. Com esses impactos na conta, o prejuízo teria sido de R$ 104,2 milhões.
Já a receita operacional líquida registrou um crescimento de 12,7%, para R$ 1,85 bilhão. Enquanto o endividamento – medido pela dívida líquida sobre o patrimônio líquido – ficou em 43,4%, contra o patamar de 65,2%, registrado um ano antes.
As ações MRVE3 fecharam o pregão de hoje na B3 com alta de 4,20%, cotadas em R$ 7,44. No ano, os papéis acumulam, porém, uma desvalorização de 33,7%. A companhia está avaliada em R$ 4,18 bilhões.