Marrakesh — Tente imaginar o máximo de sofisticação que um hotel pode oferecer. Não é fácil. Mas os hóspedes que dormem nos lençóis de seda egípcia do Royal Mansour conseguem ter uma ideia do gostinho de “não tem como melhorar”.

Construído a mando do rei do Marrocos, o conservador Mohammed VI, o lugar é uma fortaleza de luxo localizada no coração de Marrakesh, capital e ímã turístico do país africano.

Das instalações ao serviço, tudo por lá é superlativo, incluindo o orçamento ilimitado gasto na construção do hotel palaciano, jamais revelado. Isso, sem mencionar os cerca de 1,5 mil artesãos marroquinos que emprestaram seu talento para esculpir, moldar e pintar cada detalhe, do chão ao teto — até mesmo nos cantinhos onde os olhos mal alcançam.

Vitrine perfeita do artesanato e da arte marroquina, o xodó do rei, inaugurado em 2010, se tornou um dos hotéis mais cobiçados do mundo e nunca saiu de moda entre artistas, políticos e astros do futebol. Mas adentrar no que facilmente poderia ser o palácio das histórias de Mil e Uma Noites custa (muito) caro.

As diárias vão de R$ 10 mil a R$ 45 mil. Preço alto para alguns, mero detalhe para outros, incluindo nossos compatriotas ultrarricos. “Os brasileiros normalmente chegam em jatos privados e costumam ser muito generosos”, diz ao NeoFeed um integrante da equipe do hotel.

Nesse nível da alta hotelaria, a discrição sobre os hóspedes é levada muito a sério, condição sine qua non para o sucesso do negócio.

Publicamente, sabe-se que figuras como os americanos Joe Biden, Hillary Clinton, Melania Trump e Will Smith já passaram por lá no passado, bem como o jogador brasileiro Ronaldinho Gaúcho.

“Quando tem jogos de futebol em países próximos do Oriente Médio, muitos jogadores se hospedam aqui depois que os campeonatos acabam”, releva outro funcionário. Em duas ocasiões, o português Cristiano Ronaldo jantou por lá.

Os hóspedes são paparicados desde o momento em que descem do avião no aeroporto de Marrakesh. Não é preciso passar pelo posto de imigração comum porque representantes do Royal Mansour agilizam a burocracia em poucos minutos.

O translado para o hotel é feito em um Bentley repleto de amenidades, incluindo toalha quente para mãos e rosto. Já as malas “desaparecem” como num passe de mágica, com a garantia de que estarão no quarto assim que o viajante abrir a porta.

Funcionários invisíveis

Chegando no Royal Mansour, não há quartos, mas sim riads, os luxuosos palacetes marroquinos. Ao todo são 53 “casas” de três andares espalhadas pela propriedade. Cada uma conta, no térreo, com um pátio interno privativo, sala, copa e lavabo.

As suítes ocupam todo o segundo pavimento. No último andar, há uma piscina, espreguiçadeiras e mesa, caso o visitante prefira um café da manhã mais intimista.

O que mais impressiona no interior dos riads é o meticuloso trabalho dos artesãos. O teto é esculpido em madeira e pintado à mão. A arte também está presente no gesso e cerâmica das paredes, rodapés e escadas. É impossível não se pegar pensando em como tudo foi feito, afinal, até objetos banais como a lixeira do banheiro foi fabricada para ser uma peça de arte — em prata, frise-se.

Para servir hóspedes tão ricos quanto exigentes, o hotel possui 700 funcionários — 10 por riad, aproximadamente. Mas eles são raramente vistos, porque costumam circular em uma rede de túneis subterrâneos que conectam as habitações.

O objetivo dos túneis é permitir que o “grosso” do serviço aconteça sem que o hóspede nem sequer perceba. Passar uma camisa em 15 minutos? Arrumar um botão? Providenciar um cosmético específico? Tudo é permitido, menos a palavra “não”, nunca proferida pelo staff.

O gesso trabalhado na entrada do spa do hotel é um espetáculo à parte (Foto: Royal Mansour/Divulgação)

Com seis estrelas Michelin no currículo, a francesa Helene Darroze comanda o restaurante La Grande Brasserie (Foto: Royal Mansour/Divulgação)

Uma rede de túneis percorre todo o subterrâneo do hotel para esconder o "grosso" do serviço (Foto: Royal Mansour/Divulgação)

De três andares, cada riad conta no térreo com um pátio provativo, copa, lavabo e sala de estar, como a da foto (Foto: Royal Mansour/Divulgação)

As suítes ocupam todo o segundo andar das riads (Foto: Royal Mansour/Divulgação)

A suntuosidade do hotel está até em suas piscinas (Foto: Royal Mansour/Divulgação)

Uma atração à parte do hotel é o famoso spa, eleito o melhor do mundo em inúmeros rankings internacionais. A entrada branca imponente, trabalhada em gesso, e uma fonte de água no centro, precede o disputado hamam, verdadeira instituição no Marrocos.

O tratamento, um pouco diferente do tradicional banho turco, é realizado em uma sala de mármore com chão e paredes aquecidas, onde o hóspede se deita sobre a pedra aquecida. Um terapeuta faz uma espécie de balé de massagens, esfoliações e baldes de água morna sobre o corpo do visitante, relaxado pelo vapor.

A gastronomia também é um show à parte. O principal, chamado de La Grande Table Marocaine, foi eleito recentemente como o melhor do reino marroquino pelo The Worlds 50 Best Restaurants.

A francesa Helene Darroze, dona de seis estrelas Michelin, está à frente do La Grande Brasserie. O hotel conta com outro craque, o italiano Massimiliano Alajmo, o chef mais jovem com estrela tripla, honraria recebida por ele aos 28 anos, que comanda o Sesamo.

Em abril, o Royal Mansour inaugurou a sua segunda unidade, também de propriedade do rei, em Casablanca, a cidade dos negócios do Marrocos. Em um prédio vertical, o hotel tem 149 quartos e se desafia a reproduzir o luxo sem limites do “irmão” na capital.

“Assim como em Marrakech, a assinatura da marca Royal Mansour está aqui: você encontrará a excelência no serviço, privacidade e confidencialidade tão cobiçadas por nossos hóspedes”, diz o diretor Jean-Claude Messant, em entrevista ao NeoFeed.

O desafio não é fácil, mesmo para um rei sem limites de orçamento.