Mais do que uma questão econômica, o desperdício de alimentos é um problema social. Enquanto 795 milhões de pessoas, ou 12,9% da população mundial, passam fome, segundo dados da Food Aid Foundation, 40% de tudo o que se cultiva acaba no lixo. Se por um lado o prejuízo humano é incalculável, o financeiro tem uma cifra bem definida – e inaceitável: US$ 2,6 trilhões.
Esse duplo desafio é a "dor" que a startup Apeel Sciences quer resolver. Fundada em 2012 na cidade de Santa Bárbara, na Califórnia, a empresa consegue prolongar a "vida útil" de frutas e legumes, estendendo ao máximo seu potencial de consumo. Não à toa, a companhia foi nomeada como uma das mais disruptivas do ano pela rede de televisão CNBC e uma das mais inovadoras pela revista americana Fast Company.
Aprovado pelo FDA, órgão americano equivalente à Anvisa no Brasil, o produto é uma solução líquida que dá aos alimentos uma espécie de segunda pele – tudo de forma natural. "Não há absolutamente nada em nossa fórmula que você não consuma em uma mordida de fruta ou legume todos os dias. Os alimentos continuam orgânicos", diz o fundador da empresa, James Rogers.
Engenheiro mestre em materiais pela Universidade da Califórnia Santa Bárbara, Rogers afirma que sua invenção não altera as propriedades nutricionais, nem o sabor dos produtos. "Os alimentos começam a estragar quando a água sai e o oxigênio entra. É um processo de desidratação e de oxidação", explica Rogers.
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Sem revelar quanto tempo de pesquisas e de testes dedicou para chegar ao resultado final, a Apeel Sciences confirma que não tem uma única fórmula que funciona para todos os alimentos. Cada produto, fruta ou legume, pede componentes específicos.
Apoiada pela Fundação Bill & Melinda Gates, a startup já fez seis rodadas de investimentos, captando um total de US$ 110 milhões junto a grandes investidores, como o Andreessen Horowitz, um dos principais fundos de venture capital do Vale do Silício, fundado por Marc Andreessen e Ben Horowitz.
Com o dinheiro, a companhia pôde se estruturar para lançar sua tecnologia em meados deste ano no mercado americano. Os resultados foram animadores: houve uma redução de 50% no desperdício dos alimentos que usaram a fórmula da Apeel Sciences.
"Temos em nosso laboratório fórmulas que podem prolongar três vezes a vida dos alimentos, e já estamos nos aproximando de alternativas que aumentam em quatro vezes", afirma Rogers.
Ao NeoFeed, a empresa confirmou que em breve abrirá escritórios na Holanda, Peru e México. A startup já está também em fase de testes junto à ASDA, a Anvisa inglesa. O Brasil, por outro lado, ainda não faz parte dos planos da Apeel Sciences.
Países emergentes, segundo Rogers, serão os mais beneficiados. "Nos países onde a infraestrutura ainda é um desafio, o desperdício de alimentos pode variar entre 80 e 90% por conta da falta de refrigeração", afirma o empreendedor.
Com o uso da tecnologia da Apeel Sciences, é possível transportar produtos perecíveis por grandes distâncias. Um caso prático é o limão caviar, muito comum na Austrália. A fruta dificilmente chegava às lojas americanas, pois seu "tempo de prateleira" não passava de sete dias. Agora, com a Apeel, o limão caviar mantêm-se "saudável" de 21 a 25 dias úteis. "Foi o primeiro produto que lançamos comercialmente", afirma Rogers.
Com o uso da tecnologia da Apeel Sciences, é possível transportar produtos perecíveis por grandes distâncias
Atualmente, os produtos com a tecnologia da Apeel já podem ser encontrados em 2 mil lojas e supermercados nos Estados Unidos. E seriam imperceptíveis aos olhos dos consumidores, não fosse um pequeno adesivo com o nome da empresa, que diferencia os tomates ou abacates cobertos pela fórmula.
O nome da startup é uma união de duas palavras. Apeel tem o mesmo som da palavra inglesa appeal, que significa "apelo", ao mesmo tempo que faz uma brincadeira com o termo peel, que quer dizer casca em inglês.
Ao que tudo indica, há muito apelo para o uso dessa tecnologia. De acordo com Rogers se continuarmos com esse mesmo sistema de colheita e de manuseio, o crescimento populacional dos próximos 30 anos vai exigir o aumento produção de alimentos em 70% e de 55% no consumo de água potável.
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