Recentemente participei de um painel cujo tema era liderança tóxica, assunto cada vez mais debatido, discutido, analisado e… persistente. Infelizmente, não faltam exemplos de comportamentos destrutivos, mas neste artigo, vou me ater a um líder tóxico muito comum: aquele que adora gritar com os subordinados, o infeliz “Chefe Gritão”. Muitas vezes viram piada entre os funcionários, mas, na verdade, o problema é sério e grave.
Antes de prosseguir com a cena, já adianto que não há covardia maior do que brigar e levantar a voz para um subordinado. Mas, infelizmente, tenho certeza de que você já viu ou viveu isso muitas vezes. Estamos falando daquela pessoa que acha que pode tudo, que levanta a voz como se estivesse num show de heavy metal, que carrega na garganta um megafone para impor sua liderança covarde e insegura, evidentemente.
A coisa é tão bisonha que vou dar algumas sugestões fora da caixa, para você que vive ou presencia situações de um Chefe Gritão.
Primeiro, considere adotar no seu e-mail e no seu WhatsApp uma assinatura com o seguinte ditado persa: “o que faz a horta crescer é a chuva, não o trovão”. Vai que o gritão talvez não saiba disso e ache que trovejando vai gerar mais colheita. Já começamos o letramento.
Segundo ponto. Na próxima pesquisa de clima, sugira urgentemente a ampliação dos banheiros. Com certeza está faltando espaço para a turma chorar escondida. E a paz da privacidade, nessas horas, é fundamental. Claro que estou imaginando aqui que a chefia tóxica ainda não está invadindo os banheiros, embora não duvide de que isso vai acabar acontecendo, mais dia, menos dia.
Mais uma dica, a terceira. Deixe sutilmente um livro sobre escaladas ao Everest de presente para o Gritão. Então, vai ficar claro para ele que todo cadáver encontrado no Everest também já foi alguém motivado, proativo e fora da zona de conforto. Dá para sair da zona de conforto, se é que isso é preciso, sem correr risco de vida. Aliás, para alguém sair da zona de conforto, primeiro é preciso conhecê-la, o que parece não ser o caso de alguém que convive com o Gritão.
Quarta iniciativa. Buscar alguém para falar e aconselhar? Faça isso, mas cuidado, pois se o Gritão está lá é porque foi colocado por alguém que apoia o modelo. Vai no RH ou em casos extremos no Jurídico, mas pode ser que estes também estejam surdos de tanto ouvir gritos. Um terapeuta? Sim, vai ser uma boa, embora não existam milagres, pois um mal gestor tem muito mais poder de adoecer sua cabeça do que um terapeuta tem de curar. Aviso só pra alinhar expectativas. Mas conversando com gente do bem você vai descobrir que existem caminhos possíveis para reaver sua saúde mental.
Como não dá para pensar fora da caixa em tudo, vamos adotar uma atitude mais pragmática. Até porque “se for dito a todos que pensem fora da caixa, é de se esperar que as próprias caixas comecem a se deteriorar”, usando uma máxima da jornalista Tina Brown.
E aí vem o quinto elemento: tenha calma e vá à luta. No artigo passado, recomendei isso para realizar sonhos, mas vale também para sair do pesadelo. Se você ainda está vivo é porque sobreviveu a 100% dos seus problemas. Adote uma atitude positiva, não se deixe transformar em vítima e descubra que o mundo é cheio de oportunidades e a vida é campeã em recomeços. Sua autoestima tem que ser maior do que seus ouvidos, algum gestor educado e do bem está precisando de uma pessoa como você.
O lobo em pele de cordeiro, campeão da covardia, o Chefe Gritão vai acabar descobrindo que ele é o único fator comum a todos os problemas de relacionamento que já teve. E no final ninguém mais vai ouvir suas bravatas, pois os que gritam mais alto são os que têm menos a dizer, basta ver que tambores vazios são os que fazem mais barulho. Segue a vida!
Leonel Andrade é mentor, palestrante e articulista do NeoFeed. Atuou por 40 anos no mundo corporativo, tendo sido por duas décadas CEO de empresas como Losango, Credicard, Smiles e CVC Corp. Foi também conselheiro de Vibra e Redecard, sempre reconhecido pela sua liderança, formação de times e desenvolvimento de executivos.