Na manhã da terça-feira, 5 de março, as ações da Vibra abriram o dia liderando as perdas na B3. Por volta de 13h, os papéis da companhia, avaliada em R$ 28 bilhões, se mantinham nessa posição incômoda ao registrarem uma queda de 5,2%, negociados a R$ 25,17.

A derrapada na cotação da empresa veio na sequência da divulgação do seu resultado do quarto trimestre e do ano de 2023. E, na trilha de um ponto, em particular: a perda de market share entre outubro e dezembro.

A Vibra encerrou o período com uma participação de mercado de 24,8%, o que representou uma retração de 3,5 pontos percentuais em relação ao mesmo intervalo de 2022 e de 0,6 ponto percentual na comparação com o terceiro trimestre de 2023.

Em seu balanço, a companhia atribuiu o recuo no indicador à nova dinâmica de importações do setor, em especial, do crescimento nessa esfera do diesel russo, e à sua estratégia de focar a rentabilidade e privilegiar clientes diretos no segmento do B2B e em sua rede embandeirada.

“Esse cenário nos custou um pouco mais de market share, mas, para nós, no fim do dia, o que vale é o resultado como um todo”, disse Ernesto Pousada, CEO da Vibra, em conferência com analistas para tratar sobre o desempenho no período.

“Vamos retomar essa participação gradualmente, mas não temos pressa. Entendemos essa questão como algo mais de médio e longo prazo”, observou. “O número que vamos perseguir é do fim de 2022 e início de 2023, mas com uma estratégia focada no crescimento com a manutenção das margens.”

Segundo o executivo, a empresa levou um pouco mais de tempo que seus pares para viabilizar a importação do diesel russo em função de um processo robusto de compliance, para atender todas as normas nessa instância, o que acabou afetando os indicadores, em especial, no segundo semestre.

“Voltaremos a importar de maneira mais relevante ao longo de 2024”, acrescentou Pousada. “Mas, para deixar claro, o mais relevante é que vamos vender nos canais que acelerem as nossas margens, primordialmente, isso deve acontecer na rede embandeirada e nos clientes diretos do B2B.”

Alinhado a esse discurso, Augusto Ribeiro, CFO da Vibra, complementou: “Estamos trabalhando com essa recuperação em um prazo mais longo. Não será nada a ser feito no próximo dia ou no próximo mês. E nada através de preço, mas por meio de novos canais, projetos e estratégias”, afirmou.

Em relatório, o BTG Pactual classificou o desempenho da empresa no período como “bom, mas não ótimo”, ao ressaltar fatores como as margens fortes e a sólida geração de caixa no período. Mas chamou atenção justamente para a perda de market share, dado o foco maior em rentabilidade.

“Nos surpreende o fato de que os principais pares da Vibra não pareceram sacrificar tanta participação quanto a empresa e, mesmo assim, entregaram margens trimestrais um pouco maiores”, escreveram os analistas do banco, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 28 para a ação - pouco mais de 11% sobre o preço de tela.

Já a XP, que também ressaltou os indicadores sólidos no período, embora, em linha com as suas expectativas, destacou o fato de a empresa parecer mais propensa a ampliar a importação do diesel russo.

“Isso pode potencialmente reduzir (pelo menos uma parte) o gap da Vibra em relação ao Ebitda unitário na comparação com seus pares”, escreveu a casa, em referência à margem unitária ajustada de R$ 169/ m³ da empresa no período, contra R$ 194/m³ da Raízen e 192/m³ da Ipiranga.

À parte dessas questões, Pousada também falou sobre o potencial de outras frentes além do negócio tradicional, em particular, as joint ventures que a Vibra mantém ligadas na área de transição energética, como a Comerc, de gestão e comercialização de energia, e a Zeg Biogás, de produção de biometano.

Em janeiro, no movimento mais recente nessa direção, a empresa assinou um memorando de entendimento com a Inpasa para estudar uma potencial parceria para a produção e a comercialização de metanol verde, a ser destinado principalmente para o uso marítimo.

“A Comerc, por exemplo, tem um run rating de R$ 1 bilhão de Ebitda e é um tesouro que está escondido dentro da Vibra”, disse o CEO, acrescentando que a empresa vai buscar outros negócios na via de transição energética.

“Mas nosso desafio, sobretudo, é encontrar oportunidades que tragam retorno sobre capital”, observou. “Não vamos entrar em projetos apenas porque são ESG ou de transição energética. E sim, iniciativas que vão dar o longo prazo e entregar a Vibra dos próximos 15, 20, 30 anos.”

Nesse calendário, Pousada foi questionado sobre uma agenda recente, materializada em uma proposta não vinculante feita pela Eneva, em novembro de 2023, para a fusão das duas empresas. E que foi negada, no mesmo mês, em fato relevante pela Vibra.

“Esse assunto vem sendo tratado entre acionistas e o conselho”, afirmou, quando questionado sobre a evolução das negociações. “O que nos foi apresentado na época, considerando as oportunidades que vemos de geração de valor e que, no nosso entendimento, não estão no preço da nossa ação, era algo injustificável.”

Ele acrescentou: “No entanto, zelando pelo longo prazo e pelo melhor interesse dos acionistas, estamos sempre abertos a escutar propostas que possam gerar valor.”

Balanço

Entre outubro e dezembro, a Vibra apurou um lucro líquido de R$ 3,29 bilhões, alta de 482,5% sobre igual período de 2022. No ano, o crescimento na última linha do balanço foi de 210,1%, para R$ 4,7 bilhões.

Em contrapartida, a receita líquida no trimestre recuou 3,1%, para R$ 43,8 bilhões, enquanto, no ano, a queda foi de 10,1%, para R$ 163,6 bilhões. Já o Ebitda ajustado cresceu 54,5%, no trimestre, para R$ 2,32 bilhões, e 22,5% em 2023, para R$ 6,25 bilhões.

A dívida líquida da companhia, por sua vez, teve uma redução de 30,8%, para R$ 9,5 bilhões, e a alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda ajustado foi de 1,1 vez, contra 1,9 vez, no terceiro trimestre de 2023, e 2,7 vezes no fim de 2022.