Criada em 2018, a Avenue ajudou a desbravar a oferta de investimento internacional para clientes brasileiros. A abertura dessa fronteira atraiu outros players financeiros e colocou a corretora no radar do Itaú Unibanco, que, em julho de 2022, comprou 35% da operação, por R$ 493 milhões.
O acordo incluiu a opção de o banco assumir o controle do negócio nos próximos anos e acelerou uma ampliação de tese que já vinha em curso na empresa. E, exatamente dois anos depois da chegada do novo sócio, esse trabalho começa a extrapolar os limites da companhia.
Para comunicar ao mercado o resultado do que foi feito até aqui nos bastidores, a Avenue está anunciando nesta quarta-feira, 24 de julho, seu primeiro rebranding. A virada será anunciada oficialmente no Avenue Connection, evento realizado pela corretora nesta semana em São Paulo.
“O racional desse rebranding é a enorme transformação que fizemos em pouco mais de dois anos”, diz Roberto Lee, fundador e CEO da Avenue, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “A marca atual não reflete mais a nossa oferta. É uma mudança de liga. Estamos conversando com outros bolsos.”
Fruto de um processo que levou cerca de um ano, o rebranding foi desenhado pela agência iN. A nova marca traz mudanças na tipologia e, com o uso de cores como o “verde Dólar”, busca reforçar atributos como confiança, autoridade, convicção e atitude, além da segurança e da expertise da corretora.
A ideia de ressaltar o potencial de diversificação disponível para o investidor brasileiro embutido na expansão da sua oferta também dá o tom da ação. Para isso, a moeda americana está em destaque na nova assinatura – “Evolução real, em dólar”.
“Vamos realçar três valores. O primeiro, de uma marca provocadora, que questiona verdades absolutas, como a ideia de que investir no exterior é arriscado”, diz Lee. “Além de uma marca que, agora, tende a estar muito mais próxima do cliente e que consegue orientar o mercado nessa nova etapa da categoria.”
A nova fase do segmento de investimentos offshore dos brasileiros mencionada por Lee se assemelha, em sua visão, ao ciclo de mudanças observado há alguns anos no mercado brasileiro com a ascensão das plataformas abertas de investimento.
Se, antes, a Avenue tinha quase que uma pista livre no campo dos investimentos internacionais, recentemente, esse território começou a ser explorado com mais atenção por uma série de players financeiros. Essa corrida inclui nomes como Bradesco, Santander, XP, BTG Pactual e Inter.
O BTG, por exemplo, tem sido bastante ativo nesse contexto. Em junho, o banco comprou o M.Y. Safra Bank em seu passo mais ambicioso nos Estados Unidos. E, em 2023, após abrir uma operação na Espanha, já havia adquirido o FIS Privatbank, em Luxemburgo, de olho no mercado europeu.
Outro nome que tem movimentado esse espaço é o Bradesco. Após comprar o BAC Florida Bank, em Miami, em 2019, o banco rebatizou a operação de Bradesco Bank, em 2022, e, desde então, tem ampliado seu portfólio e feito contratações de peso para reforçar esse time internacional.
“A vizinhança é muito diferente daquela que tínhamos no passado, mais de fintechs. Esses bancos e corretoras têm 99,99% do patrimônio das pessoas”, observa. “Então, a chegada dessa concorrência fez com que a gente se questionasse se havíamos plantado uma semente que outro player iria colher.”
Esse novo contexto, por sua vez, também vem sendo alimentado por um terreno mais fértil no que diz respeito ao perfil e ao bolso dos investidores locais no offshore. Um universo antes mais restrito aos interessados em investir em ações no exterior, em particular, de empresas de tecnologia.
“A conversa está deixando de ser com o dinheiro mais tolerante ao risco e migrando para o dinheiro do patrimônio, que fala com ativos muito menos voláteis”, diz. Com a evolução desse diálogo, ele entende que todos os players locais precisarão ter uma oferta de offshore nativa em suas operações.
“Em cinco anos, os investimentos offshore dos brasileiros vão movimentar R$ 1 trilhão e queremos ter, pelo menos, 35% desse mercado”, afirma. “E esse rebranding capta a transformação que fizemos nessa direção em pouco mais de dois anos. Não adiantaria nada mudar a marca se não estivéssemos prontos.”
Dos bastidores ao rebranding
Nos bastidores, um dos focos iniciais da Avenue para falar com outros bolsos foi encorpar seu portfólio. Da oferta centrado no acesso aos investimentos em ações no exterior para um leque que, hoje, inclui, por exemplo alternativas em renda fixa, com opções como Tesouro e bonds corporativos.
Outra linha foram as aplicações em fundos administrados por gestoras e players como BlackRock, J.P. Morgan, Morgan Stanley, Goldman Sachs e Pimco. Além de uma vertente de banking, com contas internacionais, em dólar e euro, cartões, pagamentos, transferências e operações de câmbio.
A Avenue já tem outras ofertas no forno para seguir ampliando sua prateleira. Em investimentos, a principal delas será o acesso ao mercado de opções, que já está sendo testado no âmbito de “friends & family” e tem previsão de lançamento oficial no quarto trimestre de 2024.
Já em banking, as próximas áreas a serem exploradas serão crédito, com modalidades como o crédito imobiliário, e seguros. A corretora estruturou times dedicados que estão olhando para esses segmentos. Aqui, porém, a projeção não é ter novidades nesse ano, mas sim, em uma agenda mais de médio prazo.
Lee revela ao NeoFeed alguns indicadores que refletem essa diversificação do portfólio estruturada nos últimos dois anos e a mudança perfil de clientes atendido pela operação. Antes dessa virada, o tíquete médio da corretora era de US$ 1,5 mil.
“Nas safras mais recentes, essa cifra já supera US$ 60 mil”, diz. “Antes, 99% dos clientes tinham menos de US$ 10 mil com a Avenue. Hoje, 90% do que temos sob custódia vêm de clientes que têm mais de US$ 10 mil conosco. E mais de 80% já são aplicados em produtos de renda fixa ou fundos.”
Além do peso institucional, da chancela e da expertise de uma marca centenária, Lee ressalta que a associação com o Itaú trouxe outros componentes essenciais na trilha da Avenue para estabelecer uma conexão com os investidores da alta renda e enfrentar o acirramento da competição nesse espaço.
“Uma coisa é liderar uma categoria de poucos bilhões. Outra é uma categoria de trilhão. A gente precisava dessa robustez”, diz. “E não apenas para falar com esse dinheiro mais conservador, mas também, com os reguladores e os parceiros nessa cadeia.”
Outro reflexo foi a ampliação da estrutura. Boa parte do “cheque” do Itaú teve como destino o desenvolvimento de novas áreas diante das demandas mais complexas desse novo cliente. Entre elas, a de advisory. Assim, em dois anos, a Avenue saiu de um time de 200 para cerca de 450 profissionais.
Nesse intervalo, uma terceira frente completou o pacote da corretora para virar a chave de um atendimento antes mais centrado em seu app para um relacionamento mais estreito com esse cliente: a estruturação de um braço B2B, por meio da parceria com escritórios de agentes autônomos.
“Já são mais 500 escritórios e 9 mil assessores independentes que nos trazem clientes”, diz Lee. “Hoje, nós já assessoramos 65% de todo o dinheiro que está dentro da Avenue, seja por meio do nosso time ou via parceiros. E nossa meta é caminhar para 90% até o fim do ano.”