Os termos do acordo firmado entre os acionistas controladores Multiplan, a MPAR (leia-se, a família Peres), e o Ontario Teachers Pension Plan (OTPP), para o desembarque do fundo de pensão canadense do capital da operadora de shopping centers foi bem recebido pelo mercado na manhã de sexta-feira, 20 de setembro.
A avaliação de analistas é de que a operação possui termos positivos para os minoritários e não prejudica a estrutura de capital da companhia. Em dia de queda do Ibovespa, as ações da Multiplan reagem positivamente ao anúncio - por volta das 11h37, as ações subiam 0,45%, a R$ 26,66.
O acerto prevê que o OTPP venderá suas 111,2 milhões de ações, equivalente a 19,2% do capital social da Multiplan, encerrando assim o acordo de acionistas, a um preço de R$ 22,21 a unidade, um desconto de cerca de 16,2% em relação à cotação média dos papéis nos últimos 30 pregões.
A família Peres vai adquirir cerca de 21,2 milhões dessas ações, desembolsando R$ 471 milhões, enquanto o restante, quase 90 milhões de papéis, serão objeto de uma recompra feita pela Multiplan, que deve gastar cerca de R$ 2 bilhões.
A aquisição das ações pela companhia será decidida pelos acionistas da companhia, em assembleia extraordinária prevista para o dia 21 de outubro. Caso a operação não seja aprovada, o acordo prevê que a MPAR tem direito de recomprar essas ações pelo preço estipulado.
Em teleconferência com analistas para tratar da operação, os executivos da Multiplan destacaram que a decisão sobre qual parcela ficaria com a MPAR e qual seria destinada à companhia foi decidida de acordo com uma análise sobre "o que geraria valor no longo prazo" e o que maximizaria o caixa da companhia.
Questionados sobre a possibilidade da Multiplan buscar um novo sócio estratégico, os executivos disseram que não há essa intenção. "Quando trouxemos o Ontario, a ideia era trazer recursos e capital que não tínhamos, mas hoje não vemos essa necessidade", afirmou o CEO da companhia, Eduardo Peres.
O acordo coloca fim às dúvidas em relação à saída do OTPP do quadro societário da Multiplan, uma posição que foi consolidada em acordo de acionista celebrado em julho de 2007. O fundo se desfez de quase um terço do capital em abril, por meio de um block trade, com o restante vinculado ao acordo firmado com a família Peres, que tinha direito de preferência e cedeu parte dele para a Multiplan.
Para os analistas do BTG Pactual, a estrutura acertada entre a MPAR e o OTPP deve manter a estrutura de capital da companhia sólida, ao mesmo tempo em que demonstra o compromisso da família Peres com a Multiplan, considerando que sua participação subirá de 26,2% para 35,4%, excluindo o total em tesouraria, evitando a possibilidade de mudanças bruscas na estratégia da companhia. A recomendação do banco é de compra, com preço-alvo de R$ 33 para o MULT3.
“Se o programa de recompra for aprovado e implementado, esperamos que a Multiplan registre uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 2,4 vezes, do 1,3 vez atual, que achamos bastante confortável, ao permitir a manutenção dos planos de investimentos, a maior parte deles em expansão, e conseguirá se engajar em M&As, se necessário”, diz trecho do relatório.
Na teleconferência, os executivos da Multiplan afirmaram que o patamar que a alavancagem pode alcançar não preocupa, mas que a companhia estuda formas de reduzir o endividamento, para ficar confortável e aproveitar outras oportunidades. Uma das opções na mesa são desinvestimentos.
"Estudamos, sim, desalavancar a companhia de diversas formas, uma delas sendo essa [desinvestimento], talvez negociar participação em algum lugar", disse Peres. "Pode acontecer no futuro próximo, porque queremos estar prontos para a próxima oportunidade que possa aparecer."
Os analistas do Goldman Sachs apontam ainda que o preço acertado representa um cap rate, a média de retorno de capital investido em um imóvel, de 13%, acima dos 11% apurados na cotação em que os papéis fecharam na quinta-feira, 19 de setembro, de R$ 26,54. O banco americano recomenda a compra das ações da Multiplan, também com preço-alvo de R$ 33.
No caso dos acionistas minoritários, a operação proposta é assertiva ao elevar a sua participação efetiva em 18%, passando de 54,5% para 64,6%, segundo a Genial Investimentos.
Além disso, os analistas apontam que ela promoverá um incremento do FFO – indicador que mede a capacidade de geração de caixa operacional – por ação em 4,6% e deve derrubar o múltiplo P/FFO dos próximos 12 meses da companhia de 12,2 vezes para 11,7 vezes.
No ano, a ação MULT3, da Multiplan, registra queda de 4,34%, levando o valor de mercado a R$ 16,1 bilhões.