Superado o pior momento da pandemia, o mercado de shopping centers deu sinais de abertura para uma consolidação entre os principais grupos do setor. Nesse cenário, o grande exemplo foi a fusão entre a Aliasnce Sonae e a BRMalls, em abril de 2022, que criou a Allos, o maior player do setor na América Latina.

Desde então, volta e meia, o mercado convive com a sensação e a expectativa de que a Multiplan, outra gigante do setor, venha a fazer movimentos nessa direção ou mesmo um acordo dessa magnitude. Mas, ao que tudo indica, essa não é uma possibilidade no balcão da companhia. Ao menos nesse momento.

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“Pode acontecer? Sempre pode. É uma porta aberta. Mas não vejo nada que nos anime e, hoje, posso afirmar que não temos nenhuma negociação na mesa”, afirmou Eduardo Peres, CEO da Multiplan, em conferência com analistas no fim da manhã desta sexta-feira, 27 de outubro.

O executivo observou que o grupo não deixa de avaliar absolutamente nenhuma oportunidade. E deixou claro qual é a prioridade da empresa nesse contexto. “Não é uma perseguição para ser o maior. Nossa obsessão é ser o melhor”, disse.

Na tradução dessa frase de efeito, Peres ressaltou que o foco da Multiplan, em linha com o histórico da administradora, serão as expansões e revitalizações dos empreendimentos que a companhia tem dentro de casa, com a orientação de ter o melhor ativo em cada cidade.

“Essa é a opção mais viável e rentável e os números provam que estamos no caminho correto”, destacou. “Eu consigo fazer e mensurar uma expansão orgânica e um greenfield. No M&A, eu não consigo. Então, tem gente que para existir precisa de um M&A. Eu não preciso.”

Recados à parte, as próximas etapas nessa estratégia, programadas para 2024, envolvem um radar de sete projetos de expansões e revitalizações na rede da Multiplan. Entre eles, no MorumbiShopping, um dos ícones desse portfólio.

Com início das obras em janeiro e as licenças já aprovadas, Peres projeta uma “renovação total” que vai demandar um investimento entre R$ 300 milhões e R$ 350 milhões nesse banho de loja no empreendimento localizado na zona sul de São Paulo.

“Nós enxergamos falhas no ativo que, talvez, as pessoas não vejam. E isso num mercado competitivo como São Paulo”, afirmou. “Não fizemos nenhuma revitalização no MorumbiShopping há muitos anos e a pandemia nos ensinou muito, mas também atrapalhou muito.”

O pacote nessa linha inclui ainda empreendimentos como o ParkShopping, em Brasília (DF); o Parque Shopping, em Maceió (AL); o ParkShopping Barigui, em Curitiba (PR), cuja expansão já envolveu R$ 300 milhões e está 90% locada; e o DiamondMall, em Belo Horizonte.

“Vamos levar o luxo a Belo Horizonte”, disse Peres. “Pela primeira vez, conseguimos transformar um piso inteiro em restaurantes de alta gastronomia e levar marcas internacionais para lá. Sabíamos que havia esse nicho.”

Em contrapartida, o executivo frisou que não há discussões sobre a venda de ativos. Em outra frente, ele não fechou as portas para projetos greenfield, mas disse que, nesse caso, o momento é “muito mais desafiador”, especialmente por conta das incertezas sobre as variáveis econômicas à frente.

A alguns metros do bilhão

Enquanto as variáveis econômicas ainda não dão confiança para que a Multiplan volte a olhar também para essa via de expansão, no balanço da empresa, divulgado na noite de quinta-feira, os indicadores vieram acima das expectativas de analistas.

Entre julho e setembro, a Multiplan reportou um lucro líquido de R$ 263,3 milhões, o equivalente a um crescimento de 41,5% sobre o resultado apurado na última linha do balanço em igual período, há um ano.

Aqui, Peres destacou o fato de o lucro acumulado pela companhia entre janeiro a setembro de 2023, de R$ 711,8 milhões, estar bem próximo do lucro reportado em todo o ano de 2022, de R$ 769,3 milhões.

“Já produzimos quase o lucro do ano passado inteiro e, isso, faltando ainda o melhor trimestre do ano”, afirmou. “Estamos a alguns metros do bilhão, o que é uma marca interna e uma meta importante para a companhia. E próxima de se fazer real.”

Já a receita líquida no trimestre foi de R$ 511,7 milhões, alta anual de 12,3%. A soma das vendas dos lojistas nos empreendimentos da companhia, por sua vez, chegou a R$ 5,2 bilhões, uma expansão de 8,1%.

Em outro indicador, as vendas mesmas lojas registraram um salto de 7,8%, impulsionadas, em particular, pelo segmento de serviços, que cresceu 16,4%. A taxa de ocupação saiu de 94,3%, um ano antes, para 96,1%.

No período, a receita de locação cresceu 4%, para R$ 394 milhões. Ao mesmo tempo, a Multiplan reportou, pela primeira vez em sua história, uma taxa negativa de inadimplência líquida de 0,2%, com o volume de inadimplência recuperado superando os atrasos de aluguel no trimestre.

No trimestre, o Ebitda apurado pela companhia ficou em R$ 390,7 milhões, o que representou um desempenho 21,1% superior na mesma base de comparação, enquanto a margem Ebitda evoluiu de 70,8% para 76,4%.

A dívida líquida recuou 1,8%, para R$ 1,96 bilhão, em relação ao segundo trimestre de 2023. Já a alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, ficou em 1,32 vez, o menor nível desde junho de 2012, contra 1,72 vez, há um ano.

Em relatório, o Santander ressaltou que a Multiplan reportou resultados “impressionantes”, destacando frentes como o crescimento das vendas mesmas lojas, a taxa de ocupação média e a taxa negativa de inadimplência líquida.

“Acreditamos que os resultados do terceiro trimestre da Multiplan reforçam a sólida saúde financeira de seus lojistas, apesar das preocupações recorrentes em relação ao varejo e seu impacto geral nos shoppings”, escreveu o time de analista do banco, que reiterou a recomendação de compra e o preço-alvo de R$ 33 para a ação.

Na B3, porém, os papéis da Multiplan operavam em queda de 1,01% por volta das 13h20, cotados a R$ 25,48. No ano, entretanto, as ações do grupo acumulam uma valorização de 16,3%. A empresa está avaliada em R$ 15,7 bilhões.