A situação não anda nada bela pelos lados da Estée Lauder. Em meio a um processo de troca de comando marcado por desavenças na família controladora e no conselho de administração, e um resultado bem abaixo do esperado, com direito a corte de dividendos, as ações da dona das marcas Clinique e MAC estão despencando na Bolsa de Nova York.

Por volta das 16h45, as ações da companhia registravam queda de 21,74% a US$ 69,28. A última vez que os papéis tiveram uma queda tão pronunciada foi em novembro do ano passado, quando recuaram 18,9%.

A queda é resultado, principalmente, do anúncio do corte do dividendo trimestral. A Estée Lauder reduziu de US$ 0,66 para US$ 0,35 e informou e que descontinuará o guidance por conta da falta de clareza a respeito da retomada do mercado chinês.

A companhia fechou o primeiro trimestre do ano fiscal de 2025, encerrado em 30 de setembro, com um prejuízo de US$ 156 milhões, revertendo o lucro líquido de US$ 36 milhões apurado no ano passado. Além da questão da China, o balanço registrou um impacto de US$ 159 milhões a acordos para encerrar processos na justiça relativos a talco e supostos casos de câncer.

No período, as vendas na região Ásia Pacífico recuaram 11% em relação ao mesmo período do ano fiscal anterior, com a situação econômica da China e de Hong Kong ofuscando o crescimento de dois dígitos no Japão. A receita consolidada caiu 4%, para US$ 3,3 bilhões.

“A receita líquida na China continental caíram dois dígitos, refletindo os impactos de uma maior desaceleração na parte de beleza, em boa parte devido à piora no sentimento do consumidor”, diz trecho do balanço. “Em Hong Kong, a receita caiu a duplo dígitos principalmente pelos menores pedidos de reposição [de estoques], fruto das menores taxas de conversão entre os consumidores.”

A Estée Lauder é mais uma marca de luxo a sofrer com a deterioração da situação da China, que nos últimos anos foi responsável por fortes resultados. Na semana passada, a L’Óreal divulgou vendas abaixo do esperado justamente por conta da situação no gigante asiático – as vendas na China caíram 6,5% no terceiro trimestre, em base anual, abaixo da previsão de alta de 2,9%, segundo o jornal Financial Times.

Sob nova direção

A decisão da Estée Lauder de reduzir seus dividendos e descontinuar o guidance ocorre um dia após a companhia anunciar Stéphane de La Faverie como seu novo presidente e CEO, no lugar de Fabrizio Freda, que anunciou a intenção de se aposentar no início deste ano, após mais de 16 anos na empresa.

A escolha de La Faverie, que está na companhia desde 2011, ocorreu depois de divergências entre o conselho de administração e os membros da família Lauder sobre quem deveria ser o próximo CEO. A dúvida era se alguém de fora ou de dentro da companhia ou se deveria ser alguém do grupo de controladores, segundo apuração do jornal The Wall Street Journal.

Desde o fim do ano passado, havia um descontentamento de parte do conselho e da família Lauder com Freda, de acordo com o WSJ, cuja aposta forte no mercado chinês rendeu frutos num primeiro momento, mas agora pesa sobre o desempenho. Já outros membros da família e do conselho preferiam manter Freda para que ele continuasse tocando o plano de reestruturação que colocou em marcha.

A decisão por La Faverie marca uma fase de transição para a família Lauder, que ficará mais afastada das operações. Jane Lauder, neta da fundadora da companhia, atual diretora de dados e vice-presidente executiva de marketing (que era cotada para o cargo de CEO) deixará seu cargo no fim deste ano. Seu primo, William Lauder, deixará de ser presidente executivo e permanecerá como presidente do conselho.

No acumulado do ano, as ações da Estée Lauder acumulam queda de 53,1%, levando o valor de mercado a US$ 24,4 bilhões.