Já estamos no último quarter do ano e enquanto os filhos já começam a pensar na lista de pedidos para o Papai Noel, os executivos e executivas estão focados na lista de orçamentos para 2025.

Pensando em colaborar com todos neste momento de annual plans, te convido a refletir sobre três itens para nossa “lista de Papai Noel do orçamento”.

Três pontos importantes com enfoque duplo: o progresso dos nossos negócios e do mercado brasileiro em inteligência artificial (IA).

São eles:

Desejo 1: Que olhemos com atenção aos investimentos em capacitação de IA
Para as empresas que buscam ganhos de produtividade com o novo ferramental de IA, o treinamento, atualização e preparo dos seus profissionais é primordial. Em companhias de centenas ou milhares de funcionários, não será um time ou squad que mexerá sozinho o ponteiro da eficiência. Precisamos pensar no avanço da equipe como um todo.

Montar um time interno dedicado a um programa de educação e treinamentos em IA? Acelerar conteúdos por parceiros externos? Começar em ondas, mas com foco em uma cobertura total?

Existe uma série de boas práticas para definir o “o quê”, “como” e “quando” capacitar pessoas em IA. Podemos aprender muito com outras experiências em transformação digital e tecnologias anteriores, mas meu ponto aqui é reforçar o “porquê”.

E esse “porquê” não olha só para o seu negócio e o “quanto” está na mesa em termos de redução de custos, ganho de eficiência e eficácia operacional.

Há um “porquê” também social. Não é novidade que teremos um desmatamento de empregos promovidos pela IA. OK, a IA não substitui empregos. Ela substitui skills, mas quanto mais ela avança, maior é a cobertura de “human skills” que podemos transferir para “AI skills”.

Historicamente, com o tempo, o ser humano também se adapta, mas em quanto tempo? Qual é o tamanho dessa ponte de adaptação?

Investir em educação e capacitação em IA é colaborar com a redução dessa ponte e significa também colaborar com o Brasil em neutralizar os danos do desmatamento de empregos pela IA.

Desejo 2: Que aproximemos as empresas da academia
Nos Estados Unidos, Europa e China, o mundo acadêmico e o mundo dos negócios caminham em simbiose. Um se inspira no outro. Um evolui ao aprender com o outro. Os dois saem ganhando e formam um ciclo virtuoso de resultados que, consequentemente, puxam mais e mais investimentos.

A pesquisa às vezes acontece de forma aberta ou privada — pelas universidades ou em parcerias privadas com startups e hyperscalers. Quantas empresas e produtos comerciais nasceram de pesquisas acadêmicas?

Veja, por exemplo, a história da Google, Open AI, Nvidia e Tesla e se surpreenderá.

No Brasil, sim, temos menos capital e recursos. Sim, temos um cobertor curto nos times de produto que nos força priorizar investimentos em apostas mais de curto prazo do que de longo prazo. Sim, as pesquisas são arriscadas e ainda há muita burocracia e letargia para “fazer negócio” com os laboratórios acadêmicos.

Porém, já temos bons casos de sucesso por aqui também. Temos entidades no Brasil com preparo e sucesso nessa aproximação entre academia e empresas. O CEIA (Centro de Excelência em Inteligência Artificial), vinculado à Universidade Federal de Goiás, é um desses casos.

Me espantei ao descobrir, em 2023, que eles tinham em média 400 pesquisadores em IA analisando dores reais de negócios. Hoje, já são mais de 700 bolsistas de grandes empresas, de diversos setores, com um primeiro bacharelado em IA. O CEIA é associado com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e realiza um fomento relevante de investimentos em IA, em projetos desenvolvidos lá, mas que já originaram novas empresas e produtos.

E o CEIA não é o único. Há outros centros de pesquisa brasileiros que já despontam nessa direção.

Desejo 3: Que as grandes empresas priorizem investimentos no ecossistema de AI software Brasil
Está cada vez mais claro que parte da fórmula de sucesso de empreitadas em tecnologia passa por uma estratégia de parcerias e fomento de novos produtos, serviços e negócios com o ecossistema de softwares em sua arena competitiva.

O potencial dessa estratégia de parcerias em ecossistema é explicado por três nomes que são referência no assunto: Juliana Tubino que, além do mérito com RD Station, escreveu um livro e ministra cursos sobre o assunto; Philemon Mattos, expert no tema e sócio da Blip; e Avanish Sahai, brasileiro que revolucionou algumas gigantes internacionais nessa direção.

Além deles, existem três players que promovem essa aproximação: ACE, Distrito e Endeavor.

Temos no Brasil uma cultura forte de personalização de software e desenvolvimento dentro de casa. É comum construir, contratar ou aliar, mas o executivo brasileiro costuma pender para o “construir”. E, na maioria dos casos, os projetos não terminam bem.

Parte das empresas percebe que constroem softwares fora de seu core business, criando distrações, perrengues e custos de manutenção com a evolução incremental desses produtos. Depois, percebem também que os modelos de negócio nem sempre se encaixam, uma vez que eles dificilmente convivem sob um mesmo telhado.

Nessa nova geração de AI softwares e AI Agents, as barreiras de programação e construção de softwares são menores. Há opções low code e no code disponíveis e surgindo a cada semana.

Mas não se iluda: o desenvolvimento de AI Skills e AI Agents seguem o mesmo ciclo de desenvolvimento de software (dev > test > deploy > maintain > evolve). Logo, precisam de uma atenção, expertise e investimentos que provavelmente você encontrará em startups e scale ups. Essas, por sua vez, aprendem e rateiam este investimento de tempo, senioridade e equipe entre uma série de clientes.

Se estamos no Brasil, como podemos priorizar a aproximação de startups e scale ups brasileiras que, em diversos setores, competem de frente com soluções estrangeiras e geram empregos aqui, fazendo girar a nossa economia? Sua organização pensa nessa questão antes de decidir qual software contratar?

Se sim, os empreendedores brasileiros só terão a agradecer! Caso contrário, considere incluir esses itens em sua lista de Natal.

Rodrigo Helcer é conselheiro de empresas na área de Inteligência Artificial e fundador l da STILINGUE by Blip.