Em meados de 2021, a Stone surpreendeu negativamente o mercado ao interromper sua oferta de crédito, em meio a uma perda de quase R$ 400 milhões. Com o anúncio, a empresa viu sua credibilidade abalada, o que se refletiu na desvalorização das suas ações em cerca de 90% naquele ano.

Três anos depois, a área de crédito volta a ser notícia na companhia. Desta vez, porém, sob uma ótica favorável. Ao divulgar seu balanço referente ao terceiro trimestre, a empresa reportou que superou o guidance para o ano nessa linha de negócio.

A Stone fechou o período com uma carteira de crédito de R$ 923 milhões, contra R$ 113 milhões, um ano antes. A cifra veio acima dos R$ 800 milhões projetados para todo o ano de 2024 e representou um crescimento de 30% sobre o volume reportado no segundo trimestre desse ano.

“Estamos no caminho certo, de forma conservadora, olhando o risco-retorno e com ajuda da nossa mesa de crédito especializada, que começou no início do ano”, afirmou Pedro Zinner, CEO da Stone, em conversa com jornalistas. “Vamos preservar esse conceito. O foco é dar pequenos grandes passos.”

Mesmo com essa postura ainda mais cautelosa e sob um cenário macroeconômico menos favorável do que no início do ano, especialmente no que diz respeito a taxa de juros, a empresa enxerga boas perspectivas de seguir avançando rumo à projeção de uma carteira de R$ 5,5 bilhões em 2027.

“Ainda temos um chão grande até lá”, disse Mateus Scherer, CFO da Stone. “Há muitas oportunidades para explorar que não dependem tanto do ambiente macro. Vamos seguir testando e, à medida que tivermos sucesso nesses experimentos, vamos desbloquear novos públicos e crescer a carteira.”

No que diz respeito à inadimplência, a Stone encerrou o trimestre com um NPL acima de 90 dias de 3,7%, contra 2,6% no segundo trimestre. Nessa mesma base de comparação, o NPL de 15 a 90 dias recuou de 2,85% para 1,9%.

“Isso é resultado das safras novas, que estão vindo numa qualidade melhor”, afirmou o CFO. “E, conforme essas safras vão maturando, vamos convergir as provisões para perto da perda esperada com a carteira. Começamos com 20%, estamos em 14% agora e ainda não finalizamos esse movimento.”

Os executivos da Stone também comentaram pela primeira vez de forma oficial uma outra notícia recente envolvendo a empresa e que foi antecipada, em setembro, pelo NeoFeed: a informação de que a empresa contratou o Morgan Stanley e o J.P. Morgan para buscar um comprador para a Linx.

Comprada em 2020, por R$ 6,7 bilhões, em uma disputa intensa travada com a Totvs pelo ativo, a Linx é o braço de software da Stone e foi incorporada com a tese de impulsionar as vendas de produtos e serviços financeiros para os clientes desses sistemas.

“Nós contratamos financial advisors para olhar alternativas para o nosso negócio de software”, disse Zinner. “Não temos um prazo específico e estamos considerando todas as opções de forma mais cuidadosa.”

Segundo o executivo, uma das possibilidades seria buscar uma parceria comercial para seguir incentivando as vendas cruzadas, sem que a Stone precisasse necessariamente manter o controle do negócio de software.

“Isso permitiria otimizar nossa estrutura de capital e gerar mais valor”, observou, ressaltando que já são mais de vinte interessados no ativo. “São desenhos alternativos e modelos diferentes, mas não fechamos um formato específico. Até porque o processo ainda é incipiente.”

Em paralelo, a Stone segue executando a estratégia de cross-sell com foco em quatro verticais prioritárias – postos de combustível, farmácias, varejo e alimentação. No trimestre, a área apurou uma receita de R$ 393 milhões, contra R$ 387,9 milhões, um ano antes.

Como parte dessa abordagem, a companhia ressaltou que o volume de vendas cruzadas de serviços financeiros para clientes de software foi de R$ 5,8 bilhões entre julho e setembro, um crescimento de 18% sobre o mesmo intervalo de 2023.

A Stone superou ou se aproximou de outras marcas previstas no guidance para o ano. Na plataforma de banking, por exemplo, os depósitos cresceram 53%, em base anual, para R$ 6,8 bilhões, perto da meta de R$ 7 bilhões para 2024.

Ainda nessa área, a empresa reportou um take rate recorde de 2,58%, contra o índice de 2,49% registrado um ano antes. E viu sua base de clientes ativos no segmento contabilizar um crescimento de 47%, para 2,8 milhões.

No período, o lucro líquido ajustado teve um avanço de 35%, para R$ 587 milhões. Enquanto a receita total avançou 7%, para R$ 3,4 bilhões, e o EBT ajustado ficou em R$ 733 milhões, um desempenho 35% superior na comparação anual.

Em outra linha, a base de micro, pequenas e médias empresas cresceu 21%, para quatro milhões de clientes ativos. Nesse segmento, o volume total de pagamentos (TPV) foi de R$ 114 bilhões, o que representou um salto de 20%.

As ações da Stone fecharam o pregão dessa terça-feira na Nasdaq com ligeira alta de 0,26%, cotadas a US$ 11,59. No ano, os papéis têm uma desvalorização de 35,7% e a empresa está avaliada em US$ 3,5 bilhões.