Maior produtora de cloro-soda da América do Sul e segunda maior na produção de PVC, a Unipar vive o que classifica como o maior ciclo de investimento da sua história. E acaba de ganhar um bom impulso para viabilizar a consolidação dessa nova etapa de expansão.
A petroquímica anunciou na segunda-feira, 25 de novembro, a aprovação de um financiamento de R$ 672,9 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o projeto de modernização tecnológica da sua fábrica instalada em Cubatão, no litoral de São Paulo.
O montante representa cerca de 63% do capex total de US$ 200 milhões orçado para a iniciativa. A Unipar já havia aprovado uma linha de US$ 42,9 milhões (cerca de R$ 250 milhões) junto à agência de fomento alemã Euler Hermes, com o prazo de 12 anos. Nessa soma, a empresa chega a 80% do projeto financiado. Os 20% restantes serão viabilizados com caixa próprio.
“A modernização da planta de Cubatão é muito estratégica”, diz Alexandre Jerussalmy, CFO da Unipar, ao NeoFeed. “Estamos garantindo a continuidade da unidade com maior eficiência energética e, ao mesmo tempo, com mais confiabilidade operacional, com menos interrupções não programadas.”
O projeto ganha ainda mais relevância pelo fato de que Cubatão é a principal unidade no mapa de produção da Unipar. A planta responde por 355 mil toneladas da capacidade total de 709 mil toneladas por ano da empresa, que tem ainda fábricas em Santo André (SP) e Bahia Blanca, na Argentina.
Os novos recursos que serão aplicados em Cubatão estão divididos em duas linhas do BNDES. A primeira, de até R$ 400 milhões, envolve o programa Fundo Clima e tem prazo de até 16 anos, com carência até junho de 2026 e taxa de juros de 7,53% ao ano.
Já a segunda, via FINEM – Meio Ambiente, inclui um valor de até R$ 272,9 milhões, com prazo de até 20 anos, carência até junho de 2026 e taxa de juros baseada na TLP (Taxa de Longo Prazo) +1,1% ao ano.
Com conclusão até o fim de 2025 e a geração de 1.232 empregos diretos e indiretos durante sua implementação, o projeto de modernização em Cubatão vai passar pela consolidação dos três processos atuais de eletrólise para a produção de cloro e soda em uma única tecnologia.
“O que estamos fazendo é uma transição para uma tecnologia mais limpa”, explica o CFO. “Vamos descontinuar as tecnologias de mercúrio e diafragma, ao reunir esses processos na tecnologia de membrana, que é a mais ecoeficiente de todas.”
Quando for finalizado, o projeto vai permitir que a unidade alcance uma diminuição de 18% em seu consumo de energia, além de reduzir o volume de emissões de CO² em aproximadamente 70 mil toneladas por ano e o de resíduos industriais em cerca de 150 toneladas anuais.
Com esses ganhos e três projetos já em operação na Bahia, Rio Grande do Norte e Minas Gerais, a projeção é de que a Unipar saia de um índice atual de 65% para 80% da energia consumida em suas unidades no Brasil com origem em autoprodução de energia limpa – eólica e solar.
“No Brasil, gostamos de ficar com os 20% restantes contratados no mercado privado”, afirma o executivo. “Já para a unidade de Bahia Blanca, na Argentina, temos estudado algum tipo de projeto de autogeração, assim como temos feito no Brasil.”
A Unipar também avalia investir na unificação das tecnologias de produção na planta da Argentina. Em Santo André, o processo já está 100% concentrado no processo de membrana, assim como na unidade que será inaugurada até o fim do ano no Polo Industrial de Camaçari, na Bahia.
De olho na dívida
Um outro avanço a partir do financiamento aprovado para Cubatão diz respeito ao reperfilamento da dívida da companhia. Em setembro, a Unipar já havia alongado o prazo médio de sua dívida de 3,4 para 4,4 anos, a partir de uma emissão de debêntures no valor de R$ 750 milhões.
“Agora, com o desembolso total dessas duas novas linhas, vamos chegar a um prazo médio de 6,5 anos da nossa dívida”, diz Jerussalmy. “E o custo médio dessa dívida vai cair de CDI + 1,51% ao ano para CDI + 0,65% ao ano.”
Com a estrutura de capital mais equacionada, o executivo ressalta que, dentro desse ciclo de expansão, a Unipar segue avaliando oportunidades de aquisições, especialmente no exterior. E, nessa direção, o principal ponto de interesse é o mercado americano.
“Estamos olhando os EUA com mais atenção pela abundância de matéria-prima, os custos competitivos de energia elétrica e as redes logísticas diferenciadas”, afirma. “Temos muitos ativos mapeados, mas vamos ser muito seletivos e criteriosos para não comprometermos nossa saúde financeira.”
Em seu balanço trimestral mais recente, referente ao intervalo de julho a setembro, a Unipar reportou uma dívida líquida de R$ 459 milhões e uma alavancagem de 0,77 vez. No segundo trimestre, esses indicadores foram, respectivamente, de R$ 471 milhões e 0,70 vez.
As ações preferenciais da Unipar encerraram o pregão da segunda-feira com alta de 1%, cotadas a R$ 51,64. No acumulado do ano, porém, os papéis registram uma desvalorização de 25,8%. A empresa está avaliada em R$ 5,7 bilhões.