O mercado financeiro tem subestimado o crescimento do Brasil desde 2020, quando as restrições impostas pela pandemia jogaram o País na recessão. Desde então, foram quatro anos seguidos de revisões para cima no PIB. Agora, porém, cresce a fatia do mercado que acredita que as estimativas devem começar a ser revisadas para baixo.
O consenso de crescimento do boletim Focus iniciou 2025 em 2,02% e, após algumas revisões, sofreu a primeira queda nesta semana, de 2,06% para 2,04%. Para 2026, a projeção já vinha em declínio e caiu para 1,70%, ante 1,8% há quatro semanas.
"Um novo elemento no cenário brasileiro são os sinais iniciais de desaceleração econômica. Dados de dezembro e pesquisas de janeiro indicam que os juros elevados começam a impactar a atividade", aponta a última carta mensal da Opportunity, uma das maiores gestoras independentes do Brasil, com R$ 135 bilhões sob gestão.
Além dos riscos associados às políticas tarifárias de Donald Trump, investidores esperam que, sem novos impulsos fiscais, a alta de juros tenha um efeito mais pronunciado sobre a economia este ano. Ninguém projeta que o aperto monetário será interrompido antes de a Selic, hoje em 13,25%, atingir 15%.
As projeções dos economistas apontam um primeiro trimestre ainda aquecido, impulsionado pelas exportações do agronegócio, mas com a atividade perdendo força ao longo do ano conforme a alta dos juros se dissemina pela economia. Diante desse cenário, analistas do BTG Pactual preveem uma desaceleração nos lucros das empresas domésticas listadas, com o crescimento passando de 29% em 2024 para apenas 8% em 2025.
A Bahia Asset também destacou a preocupação com o ritmo da desaceleração em sua carta a investidores, acrescentando que a piora das expectativas de inflação segue como um ponto de atenção. “Os núcleos da inflação estão rodando em níveis muito elevados e incompatíveis com a meta.”
Mesmo com a perspectiva de crescimento mais fraco, a mediana das projeções para o IPCA deste ano no boletim Focus subiu pela 17ª vez consecutiva, de 5,51% para 5,58%. Para 2026, a expectativa foi de 4,05% no início do ano para 4,30% agora.
"A desaceleração é crucial para recolocar a inflação em trajetória de convergência à meta, mas será ela suficiente para interromper o ciclo de deterioração consistente das expectativas?", questiona a Ibiuna. Outra incerteza levantada pela gestora é se o governo resistirá à tentação de intervir com estímulos para conter a queda da atividade.
O tema também foi abordado por Bruno Serra, gestor da Itaú Asset e ex-diretor do Banco Central, em entrevista recente ao NeoFeed. "Acho que será um ano difícil para tudo ligado à atividade econômica", disse. No entanto, acrescentou que a inflação pode surpreender para baixo – mas apenas se o governo não interferir.