Entre anúncios e bravatas, o corte de gastos tem sido um dos mantras de Donald Trump em seu segundo mandato na Casa Branca. E, ao que tudo indica, ele está disposto a olhar – literalmente – para cada centavo para levar à frente esse seu discurso.
Em anúncio feito, como de costume, pela Truth Social, rede social de sua propriedade, o presidente americano disse que ordenou ao secretário do Tesouro dos Estados Unidos que interrompesse a cunhagem da moeda de um centavo, também conhecida como “penny”.
“Por muito tempo, os Estados Unidos cunharam centavos que, literalmente, nos custaram mais de dois centavos”, escreveu Trump. “Vamos acabar com o desperdício do orçamento das grandes nações, mesmo que seja um centavo de cada vez.”
Essa medida já foi alvo de diversos projetos apresentados anteriormente ao Congresso americano. Os críticos a essa proposta argumentam que o fim do penny traria impactos para varejistas e consumidores, já que os valores de transações, trocos e promoções precisariam ser arredondados para cima ou para baixo.
Já os que defendem que é preciso colocar um ponto final nessas moedas ressaltam a redução de custos que seria gerada nesse processo. Uma tese que encontra sustentação em alguns indicadores e estudos recentes.
Um relatório da Casa da Moeda americana mostra, por exemplo, que o custo de produzir um penny cresceu 20% no ano fiscal de 2024 do governo federal dos Estados Unidos, encerrado em 30 de setembro. Nessa conta, o valor saiu de 2,7 centavos, em 2022, para 3,7 centavos, no ano passado - o Brasil encerrou a produção de moedas de um centavo em 2005.
O mesmo levantamento destacou que o custo de produção de cada centavo ultrapassou seu valor nominal pelo 19º ano fiscal consecutivo do país. E coloca outras moedas em xeque: o níquel, por exemplo, de cinco centavos, tem um custo de cunhagem de 13,78 centavos.
Em outro número, o Departamento de Eficiência Governamental da Casa Branca (DOGE, na sigla em inglês), liderado por Elon Musk, informou recentemente em uma postagem no X que o centavo “custou aos contribuintes dos Estados Unidos mais de US$ 179 milhões no ano fiscal de 2023”.
Uma reportagem do The Wall Street Journal observou, por sua vez, que a demanda por moedas vem caindo já há algum tempo no país. Segundo a publicação, a estimativa é de que os Estados Unidos joguem fora até US$ 68 milhões em moedas anualmente.
Há quem mostre, porém, preocupação com essa medida. Esse é o caso de Jaret Seiberg, analista da TD Cowen. Ele ressaltou que a suspensão da produção passará provavelmente por uma revisão judicial, o que poderia levar a uma escassez de centavos e obrigar o comércio a pagar mais aos bancos pelas moedas.
“Isso também adiciona risco legal para comerciantes e bancos. Isso poderia criar a crise necessária para forçar o Congresso a agir”, escreveu Seiberg, em relatório divulgado na segunda-feira, 10 de fevereiro.
Em sua análise, Seiberg também projeta que, caso seja implantada de fato, essa medida pode acelerar transição para os pagamentos eletrônicos e fortalecer empresas como Visa, Mastercard e outros nomes do segmento.