Em um processo que se arrastava desde dezembro de 2023 e que chegou a enfrentar forte oposição da Casa Branca, a companhia japonesa Nippon Steel oficializou, na quarta-feira, 18 de junho, a aquisição da siderúrgica americana US Steel, em um acordo de US$ 14,9 bilhões, incluindo dívidas da empresa.
Com isso, a empresa dos Estados Unidos torna-se uma subsidiária da companhia asiática e deixa de ser listada na Nyse. Com o M&A, a Nippon, hoje a quarta maior siderúrgica do mundo, passará a ter uma capacidade de produção de aço bruto de 86 milhões de toneladas por ano, perto da meta estratégica global de chegar à marca de 100 milhões de toneladas.
No início de 2024, o então presidente americano Joe Biden se mostrou contrário à negociação, sugerindo que a venda da empresa americana poderia representar um risco à segurança nacional, já que o movimento afetaria a produção de aço, considerado essencial para projetos de infraestrutura e defesa dos Estados Unidos.
Para tentar diminuir as tensões e demonstrar intenção pela concretização do acordo, a Nippon chegou a fazer várias concessões, incluindo a possibilidade de o governo dos Estados Unidos vetar qualquer chance de redução de investimentos da companhia japonesa na US Steel. Mesmo assim, o Comitê de Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS) não chegou a um consenso se daria o aval.
Em novembro, o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, chegou a enviar uma carta ao presidente dos Estados Unidos pedindo que o país desse o aval à Nippon para efetuar a compra da companhia sediada na Pensilvânia. Entre os argumentos usados, o líder japonês disse que a negativa poderia estremecer os esforços para fortalecer os laços entre os países.
Mas o pleito do governo japonês não foi considerado. Pouco antes de deixar o cargo, em 3 de janeiro deste ano, Biden emitiu uma ordem executiva bloqueando a operação, citando justamente riscos à segurança nacional e à cadeia de suprimentos nos Estados Unidos. Três dias depois, as duas empresas foram à Justiça, contestando o veto.
Quando reassumiu a Casa Branca, em 20 de janeiro, Donald Trump também se colocou como um opositor ao negócio. Já durante a campanha eleitoral, no ano passado o republicano chegou a dizer que faria de tudo para que a US Steel continuasse sendo uma empresa sob controle americano.
Mas, com o tempo, ele foi mudando de posicionamento, ao colocar condições para a venda e ao determinar uma revisão na análise por parte do CFIU. Isso foi fundamental para que o processo fosse efetivamente concluído. Por causa de sua atuação contundente, o episódio vem sendo visto pelo mercado como uma vitória da política econômica de Trump.
O ponto-chave para que o negócio pudesse ter sido concretizado e anunciado no dia 18 de junho foi a inclusão de uma golden share, permitindo que o governo dos Estados Unidos possa indicar um membro para o Conselho de Administração da siderúrgica japonesa e vetar qualquer decisão como fechamento de fábricas ou realocação de funcionários.
Próximos passos da fusão
Após a oficialização do M&A, o CEO da Nippon Steel, Eiji Hashimoto, fez uma declaração de agradecimento a Trump pela sua atuação no processo, apesar de representar um incomum nível de controle concedido ao governo por uma empresa privada. “A Nippon Steel está animada em abrir um novo capítulo na história da US Steel”, disse, segundo a Reuters.
Dessa forma, a siderúrgica do Japão anunciou que realizará investimentos de US$ 11 bilhões na US Steel até 2028, incluindo um aporte inicial para a construção de um projeto greenfield, que seria concluído após esse primeiro ciclo.
Ainda que passe a ser uma subsidiária da Nippon, a US Steel permanecerá com sua sede em Pittsburgh. A maioria dos membros do Conselho será composta por americanos, incluindo o CEO. No entanto, todos serão nomeados pela matriz japonesa.
Além disso, há o compromisso de que a nova unidade local da Nippon mantenha sua capacidade de produção no país para atender a demanda do mercado americano. A empresa também informou que o acordo vai gerar a criação de 100 mil empregos diretos e indiretos.
Na Bolsa de Tóquio, as ações da Nippon Steel fecharam em queda de 2,42%. A companhia está avaliada em 2,91 trilhões de ienes (cerca de US$ 20 bilhões).