Os executivos da japonesa Nippon Steel trabalharam até os últimos dias de 2024 com as autoridades americanas para garantir os compromissos relacionados à segurança nacional da aquisição da U.S. Steel. Havia otimismo com os progressos no entendimento, mesmo com forte reação contrária ao M&A.
Em carta, o Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos, que é composto por agências incluindo os departamentos do Tesouro e da Justiça, expressou reservas sobre o acordo. Mas não houve uma recomendação formal sobre a fusão.
O presidente americano Joe Biden, então, não estendeu o processo até a chegada de seu sucessor Donald Trump à Casa Branca. Como ambos haviam manifestado oposição ao negócio, Biden fez uso extraordinário do poder executivo para brecar uma aquisição privada.
“É minha solene responsabilidade como presidente garantir que, agora e por muito tempo no futuro, a América tenha uma forte indústria siderúrgica de propriedade e operação doméstica que possa continuar a alimentar nossas fontes nacionais de força no país e no exterior”, disse Biden, na manhã de sexta-feira, 3 de janeiro.
“E é um cumprimento dessa responsabilidade bloquear a propriedade estrangeira desta empresa americana vital.”
A U.S. Steel foi colocada à venda em 2023 depois de receber uma oferta hostil de US$ 7 bilhões da também americana Cleveland Cliffs. A oferta da maior siderúrgica do Japão veio na esteira desse processo.
A japonesa Nippon Steel fez uma oferta de aquisição pelos ativos da U.S. Steel de US$ 14,9 bilhões. As duas empresas haviam dito que planejavam fechar o negócio.
Em 23 de dezembro, a Nippon Steel compartilhou uma carta com o presidente Biden de funcionários da empresa americana se mostrando favoráveis à aquisição.
“Respeitosamente pedimos que vocês ouçam as vozes dos trabalhadores siderúrgicos e de todos os outros cuja segurança econômica está ligada aos EUA. Eles estão falando alto e em uníssono que este acordo deve ser aprovado”, dizia a carta.
A ação política de Biden para interromper a transação pode fazer com que investidores estrangeiros repensem ofertas por empresas americanas em indústrias consideradas sensíveis.
Há um outro ponto em jogo: o abalo na relação com o Japão, um aliado próximo dos Estados Unidos e uma das maiores fontes de investimento estrangeiro no país.
A Nippon diz que está preparada para tomar medidas legais após o bloqueio do acordo. E a U.S. Steel também está pressionando as autoridades para que o negócio seja fechado.
Com valor de mercado de pouco mais de US$ 19 bilhões, a ação da Nippon Steel fechou o dia em alta de 1,18%. Em 12 meses, o papel acumula queda de 4%.
Já a ação da U.S. Steel estava em queda de 4,9% às 10h40 (horário local). Em 12 meses, o papel cai 35,4%. O valor de mercado da companhia é de US$ 7 bilhões.