Riqueza de detalhes, cores vibrantes, pedras preciosas e muito ouro - essas quatro características podem até definir a estética das joias indianas. São, no entanto, insuficientes para dar conta de todo o simbolismo e significado embutido nas peças ultra-elaboradas. No país, a arte da ourivesaria é uma tradição, cujas origens remontam há pelo menos 5 mil anos.

Nos últimos anos, a joalheria indiana vem ganhando o mundo à medida em que os indianos com altos rendimentos se estabelecem no exterior - 35,4 milhões vivem hoje fora de seu país natal, na maior diáspora ultramarina do mundo.

Com 125 anos de história, a joalheria Vummidi Bangaru Jewellers (VBJ) percebeu o movimento e já deu início ao processo de internacionalização.

“Os indianos que vivem fora estão mais conectados às nossas tradições do que aqueles que vivem na própria Índia”, diz Amarendran Vummidi, sócio-diretor da VBJ, em entrevista à plataforma Business of Fashion (BoF). “Mesmo para as menores celebrações, eles se reúnem, usam roupas e joias indianas. Eles querem ser o mais tradicionais possível porque sentem falta disso no restante do tempo.”

Apenas nos Estados Unidos, onde o mercado de joias foi avaliado em US$ 73,3 bilhões, segundo dados do Grand View Research, vivem cerca de 4,9 milhões de indianos. Foi por lá que as grandes joalherias indianas escolheram começar a sua expansão internacional.

No caso da VBJ, a primeira loja foi aberta em Dallas, no Texas. A companhia tem planos de ampliar e inaugurar novos pontos em locais como Virginia, Georgia e na Califórnia, especificamente no Vale do Silício. A Tanishq, também bastante conhecida na Índia, realizou novos investimentos em Atlanta e Nova Jersey, com foco nesse mercado em expansão.

Além dos Estados Unidos, as joias provenientes da Índia também vem ganhando espaço em mercados como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Singapura e Austrália. Canadá, África do Sul e Reino Unido também se mostraram positivos para a expansão.

“A expansão global está permitindo que os joalheiros indianos entrem em mercados com grande presença da diáspora, desbloqueando novas fontes de receita e reforçando a posição da Índia como uma fonte líder de gemas e joias de alta qualidade”, disse Kirit Bhansali, presidente do Conselho de Promoção de Exportações de Gemas e Joias do país (GJEPC), ao BoF.

O momento, por outro lado, parece delicado. Em 2024, o mercado de bens pessoais de luxo experimentou sua primeira contração em 15 anos, sem levar em consideração o período marcado pela covid-19, conforme dados da Bain & Company. Nos últimos dois anos, a base de consumidores de luxo recuou em cerca de 50 milhões de pessoas.

Apesar dos dados menos animadores, o mercado de joias se mostra bastante resiliente em comparação ao restante. Segundo estimativas do Business Research Insights, o segmento deve crescer cerca de 3,8% ao ano até 2032.

Outro ponto de possível desafio para o mercado de joias indiano é a trajetória das taxas impostas pelos Estados Unidos, seu maior comprador - atualmente, a Índia exporta US$ 10 bilhões em joias e pedras preciosas para o território americano por ano.

As joias indianas são conhecidas por suas pedras preciosas e muito ouro (Foto: Vummidi Bangaru Jewellers/VBJ)

As peças mais elaboradas são utilizadas em ocasiões especiais, como casamentos, formaturas e comemorações em geral (Foto: Divulgação/Tanishq)

No dia a dia, as peças menores são as mais utilizadas pelas indianas que moram fora de seu país de origem (Foto: Vummidi Bangaru Jewellers/VBJ)

O mercado interno na Índia também tem ganhado bastante força (Foto: Divulgação/Hazoorilal Legacy)

"Qualquer elevação nas tarifas pode prejudicar a competitividade das peças indianas frente a fornecedores alternativos, como a Tailândia ou até mesmo marcas domésticas nos Estados Unidos", afirma Ian Lopes, economista da Valor Investimentos. "Uma alternativa para sentir menos é intensificar a presença em mercados como o Oriente Médio, sudeste asiático e China, onde há demanda crescente por joias".

Para Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio, a "sorte" do segmento é que os consumidores que compram joias não são tão suscetíveis à variações de preços, já que tem um poder aquisitivo superior ao mercado de varejo comum.

"Joias entram no mercado de luxo, o que faz com que a relação de oferta e demanda seja diferente, menos elástica e sensível a preço. Isso significa que um aumento de preço não deve causar uma queda absurda na demanda, algo que está conectado com outras questões como renda da população", afirma Medina.

Além do mercado internacional, que tem se tornado o foco dessas companhias, o consumidor interno da Índia também tem se mostrado aquecido. “Na última década, a Índia se tornou o terceiro maior contribuidor para o crescimento de produtos de consumo (CP) entre os mercados emergentes — e ainda possui um espaço significativo para expansão”, afirmaram os especialistas da Bain em relatório.

Segundo os dados, os principais clientes continuaram a representar uma fatia maior das compras de bens de luxo, apesar de sentirem que sua experiência de compra nesse segmento se tornou menos excepcional. Isso pode significar um crescimento para o mercado de joias.

As facetas das joias indianas

Para os indianos, as joias têm um significado muito maior do que o estético. Nos primórdios da civilização, o ouro era relacionado como algo divino e eterno, enquanto a prata estava ligada à pureza, tendo fins bastante religiosos.

Já na Era Clássica, após os anos 320, foi quando os indianos começaram a refinar pedras preciosas e desenvolver técnicas de fabricação, proliferando designs que viraram característicos daquela época. Os indianos foram pioneiros na mineração de diamantes.

Aos poucos, essas peças começaram a receber significados divinos, sendo incluídas em templos e espaços divinos. Os designs frequentemente retratavam deuses e cenas mitológicas e continuam a ser usados até hoje.

Com o passar dos anos, as influências externas passaram a se tornar referência para os designs, que misturavam a tradição com o moderno. Hoje, nem todas as joias indianas contam com aquela apareça “exagerada”, mas todas mantém seu aspecto único e características notáveis da cultura do país.