Por muito tempo, os relógios e as alianças de casamento foram a expressão máxima dos acessórios usados pelos homens. Aos poucos, porém, as joias finas começam a compor até os figurinos masculinos mais clássicos. Grifes de luxo, como Cartier, Van Cleef & Arpels, Louis Vuitton e Tiffany & Co., agora criam anéis, colares, brincos e broches também para eles.
De tão aquecido, o mercado global de adornos masculinos supera o de femininos em ritmo de expansão. Em 2023, avançou 7,3%, — o delas, 4,2%, segundo a Euromonitor International.
Obviamente, as mulheres movimentam um volume maior de dinheiro (US$ 44 bilhões contra US$ 7,3 bilhões), mas a nova tendência não dá sinais de arrefecimento. Até 2026, a alta joalheria masculina deve crescer globalmente entre 16% e 19%, segundo a consultoria Gitnux Marketdata.
Mais um sinal da efervescência do setor? No fim do ano passado, a Sotheby’s realizou, em Nova York, o leilão For the boys. Em 280 anos de história, a casa inglesa nunca havia dedicado uma venda a joias masculinas. Datadas de meados do século 19 para frente, as 100 peças custavam entre US$ 3 mil e US$ 300 mil.
No Brasil, a joalheria Julio Okubo, uma das mais tradicionais do país, criou a Okubo Men, marca independente que planeja ser um espaço de experiências totalmente dedicado aos homens. Fundada em 1925, pela matriarca Rosa Okubo, a casa sempre focou no público feminino, apesar de trabalhar com algumas linhas masculinas.
“Mas, nos últimos anos, começamos a entender que existia espaço para ir além das meras coleções”, diz Maurício Okubo, CEO da marca, ao NeoFeed. “Os homens estão se expressando cada vez mais por meio das joias”, completa o empresário, bisneto de Rosa, a primeira joalheira a trabalhar com pérolas no Brasil, o que lhe rendeu o título de “rainha das pérolas”.
Os negócios são tão promissores que, até o fim do ano, a Okubo Men deve ganhar loja própria em algum shopping de luxo de São Paulo, diz o empresário.
O capacete, o duplo "S" e a sexta marcha
Para quebrar o gelo e, em muitos casos, também o preconceito, as joalherias costumam criar peças temáticas e estabelecer parcerias com marcas bem consolidadas no universo masculino. A segunda coleção da Okubo Men homenageia Ayrton Senna (1960-1994).
Com pré-venda a partir de 24 de julho, a linha é fruto de um acordo com a Senna Brands, empresa responsável pelos licenciamentos que levam o nome do piloto de Fórmula 1. De R$ 5 mil a R$ 15 mil, são pingentes, anéis e pulseiras em ouro amarelo, ouro branco, diamantes, fibra de carbono e pérolas.
Estão lá as referências mais simbólicas da carreira de um dos maiores ídolos do esporte brasileiro — o capacete; o duplo “S”, em alusão à curva de Interlagos criada pelo piloto; e o símbolo da “sexta marcha”, uma lembrança da corrida de 1991, quando venceu pela primeira vez em casa, depois de perder o câmbio e ter de completar as últimas sete voltas apenas com uma marcha, a sexta.
A coleção de estreia da Okubo Men nasceu de uma collab com a barbearia Corleone. De R$ 4 mil a R$ 47 mil, os acessórios fogem do tradicional. A peça mais emblemática é um pingente de caveira feito em ouro branco, com diamantes no lugar dos dentes e, entre eles, uma pérola Tahiti, um dos tipos mais raros.
Homens como parceiros e embaixadores
Pela primeira vez também marcas ultrassofisticadas têm astros masculinos como parceiros ou embaixadores. A Tiffany acaba de lançar a coleção Titan, criada pelo multiartista Pharrell Williams, diretor criativo de moda masculina da Louis Vuitton, ambas as casas pertencentes ao grupo LVHM.
Inspiradas no tridente de Poseidon, o deus dos mares, na mitologia grega, os colares, brincos, anéis e pulseiras em ouro amarelo 18 quilates ou titânio, sob a forma de pontas de lança e elos, remetem ao espírito punk. Fundada em 1837, em Nova York, a joalheria estreou no universo masculino no final de 2022 — o Brasil está entre os dez maiores mercados em vendas da companhia.
Pharrell com Tiffany, Timothée Chalamet com Cartier. A convite da maison criada em 1847, o ator franco-americano de 28 anos desenhou um colar inspirado em doces, por ocasião do lançamento do filme Wonka, em novembro de 2023 — uma gargantilha com 964 esmeraldas, rubelitas, turmalinas rosas e opalas azuis. No longa de Paul King, o rapaz faz o papel do dono da “fantástica fábrica de chocolate”.
A colaboração com a grife se repetiria para Duna 2, do cineasta Denis Villeneuve. De novo, em um colar. A joia conta com peças giratórias que permitem até 900 combinações. No novo modelo, as tonalidades dos diamantes variaram entre o amarelo e o laranja, em contraponto ao azul das safiras — uma homenagem à paisagem desértica do fictício planeta Arrakis.
Aliás, as últimas temporadas de “tapetes vermelhos” foi um festival de joias masculinas. Os broches, em especial, ganharam destaque. Um dos mais comentados (e bonitos, por sua simplicidade) apareceu pregado na lapela do smoking Versace de Cillian Murphy.
Ganhador do Oscar de melhor ator por Oppenheimer, na noite da premiação, o irlandês ostentava uma peça em ouro amarelo, composta por oito trapézios concêntricos. Criada pela Sauvereign, de Hong Kong, e batizada HS14, a joia foi inspirada em um dos artefatos desenvolvidos pelo personagem de Murphy, no filme de Cristopher Nolan.
Os tradicionais e os inovadores
O apreço masculino por joias não é um fenômeno novo. A história está repleta de passagens sobre como os homens, com maior ou menor intensidade, sempre se enfeitaram. Os imperadores, reis, marajás, faraós, astros do rock, rappers, atletas, os rapazes das discotecas dos anos 1970 e do movimento New Wave.
Nos 177 anos de existência da Cartier, por exemplo, nenhuma compra individual superou à do nobre indiano Maharaja Bhupinder, em 1928 — um colar de platina, com cinco correntes e uma gargantilha. Com 2 930 diamantes e alguns rubis birmaneses, custou US$ 2,6 bilhões, em valores de 2023.
Mas o movimento de agora é diferente. Como diz Mauricio Okubo, há dois perfis de clientes.
O primeiro é o dos homens que querem ir além dos relógios, mas não estão dispostos a grandes ousadias, e para eles há as peças mais sóbrias. O segundo são dos clientes das novas gerações. Eles, sim, querem inovar.