No domingo de 15 de novembro de 2020, o piloto inglês Lewis Hamilton alcançou um feito difícil de ser alcançado. Depois de vencer o GP da Turquia, ele se juntou a Michael Schumacher no panteão da Fórmula 1 ao se sagrar sete vezes campeão mundial — 2008, 2014, 2015, 2017, 2018 e 2019. No mês anterior, já havia superado o número de 91 vitórias do alemão, até então o piloto mais vitorioso de todos os tempos.

Aos 40 anos, Hamilton é um colecionador de recordes. O maior número de corridas vencidas (105), de pontos conquistados (4.850,5) e de pole positions (104). E ainda três Grand Chelem em uma única temporada — ou seja, em três GPs, ele saiu na pole position, venceu a disputa, liderou todas as voltas e ainda fez a volta mais rápida. Hamilton, porém, não está satisfeito. Ele quer mais.

É o que está contado no livro Lewis Hamilton: A Biografia, escrita por Frank Worrall, cuja primeira edição em português acaba de ser lançada no Brasil. O volume chega com um “presente” para o fã brasileiro ao trazer a atualização das sete edições inglesas, com detalhes inclusive da mudança do piloto da Mercedes para a Ferrari. À frente da escuderia italiana, Hamilton espera conquistar em 2025 seu oitavo título mundial.

“Não era segredo no pit lane que o sonho de Lewis Hamilton sempre foi se unir à Ferrari. Ele idolatrava a equipe quando era menino e falava para os amigos que, se um dia fizesse parte dela, seria o desfecho ideal para uma carreira maravilhosa na F1”, escreve o autor.

Poucos comentaristas, porém, teriam apostado que o esportista se juntaria à equipe já neste ano. “Ele havia assinado um novo contrato com a Mercedes no verão de 2023, que o comprometia até o final de 2025. No entanto, quando os testes de pré-temporada começaram no Bahrein, no início de 2024, foi anunciado que, no final do ano, Hamilton realmente deixaria a Mercedes e assumiria um assento na Ferrari.”

A decisão de Hamilton pegou o mundo do automobilismo de surpresa e virou manchete em todo o mundo. Worrall conta os bastidores da troca, com minúcias sobre as maquinações que levaram à mudança mais surpreendente da história da F1.

O piloto sentiu que sua ambição de avançar (ainda mais) na carreira estava cada vez mais distante à medida que, em 2024, a Mercedes perdia terreno para a Red Bull, a McLaren e a Ferrari.

Worrall conta os primeiros anos de vida de Hamilton e sua formação como atleta. Das dificuldades da família, que dependia dos programas de moradia social, até à glória que transformou o piloto em uma das figuras mais influentes do esporte em seu país.

Como observa o especialista em Fórmula 1 e colaborador do jornal The Sun, Chris Hockley, ouvido por Worrall, a ascensão meteórica de Hamilton à fama aumentou a audiência da TV britânica de grandes prêmios em incríveis 50% — e despertou o entusiasmo do mundo pelo esporte.

Os adversários e o ativismo

O autor apresenta também momentos decisivos da carreira de Hamilton, desde sua estreia impressionante em 2007 até os duelos acirrados com nomes como Fernando Alonso, Nico Rosberg, Sebastian Vettel e Max Verstappen. De 2007 a 2012, ele correu pela McLaren, mas só ganhou um título de forma polêmica — o de 2008, ao ficar em quinto lugar no Grande Prêmio do Brasil.

Naquele domingo, o brasileiro Felipe Massa venceu a corrida e cruzou a linha de chegada como campeão mundial por alguns segundos. Na última curva da última volta, Hamilton ultrapassou o alemão Timo Glock, que corria na chuva com pneus de pista seca, o que teria diminuído o rendimento do carro — ou ele teria facilitado a ultrapassagem para o inglês?

O fato é que, ao terminar em quinto, Hamilton conquistou o ponto de que precisava para superar Massa. Por 98 a 97, ele se tornou, aos 23 anos, o mais jovem campeão de F1.

O caminho até o título de lenda viva das pistas de F1, porém, não foi fácil. Além de seis anos entre seu primeiro e segundo títulos, em 2010, Hamilton se desentendeu com Anthony, seu pai e empresário — os dois fariam as pazes quatro anos depois.

Um ano antes, o piloto viu seu mentor Ron Dennis deixar a McLaren, a equipe com a qual estreou na F1 e da qual saiu em 2012. Na emergente Mercedes, a partir de 2013 — ironicamente, substituindo Schumacher —, conquistou uma sequência de sucessos.

Com 424 páginas, o livro custa R$ 89,90 (Foto: Editora Book One)

Ativista do movimento Black Lives Matter, a partir de 2020, Hamilton passou a cobrar a Fórmula 1 por ações mais contundentes contra o racismo (Foto: Editora Book One)

Com o pai Anthony, o piloto comemorou a vitória do Industrial Championship for Karting, em 1999, em Parma, na Itália (Foto: Editora Book One)

Em 2015, o inglês sagrou-se tricampeão mundial da F1 (Foto: Editora Book One)

Suas brigas com o espanhol Fernando Alonso pontuam a biografia, como conta Worrall: “Muitas vezes, parece que Alonso estava furioso, que estava se esforçando ao máximo, tentando se agarrar ao título, mas quase sempre Lewis Hamilton o derrotava com facilidade — parecendo que não tinha nem suado, sempre gracioso e com o público o adorando.

A questão é que Alonso é um ótimo piloto, um ótimo campeão e um cara legal lá no fundo, mas Hamilton é especial”. Para o autor, o espanhol costumava se vitimizar. “Ele tentou desestabilizar Hamilton e minar sua confiança. Hamilton recebeu um tratamento pior. Alonso, às vezes, era incrivelmente insensível, duro e desencorajador em excesso”, escreve.

Nesse sentido, Lewis Hamilton é um livro para fãs, sem dúvidas, pois basta observar como o biógrafo trata os maiores adversários do inglês. O tetracampeão mundial Sebastian Vettel, por exemplo, é mostrado como um piloto arrogante e impiedoso, conhecido por manobras imprudentes.

Verstappen se destaca por sua agressividade incomum e o biógrafo sugere que ele demonstrava um nível de beligerância e agressividade que ultrapassava os limites do bom senso, contrastando com o estilo de pilotagem de Hamilton.

Schumacher, mesmo menos detalhado, é citado como alguém petulante e sem alma, o que também gerou críticas por parte dos fãs do alemão.

O livro aborda também o ativismo de Hamilton em defesa da igualdade racial. Depois do assassinato de George Floyd, em maio de 2020, nos Estados Unidos, o piloto participou de manifestações do movimento Black Lives Matter e passou a cobrar a Fórmula 1 por ações mais contundentes contra o racismo.

Apaixonado por futebol, Fórmula 1 e golfe, Frank Worrall é um jornalista e autor britânico renomado, conhecido por suas biografias esportivas. Especialista em contar histórias de grandes personalidades do esporte, escreveu sobre Cristiano Ronaldo e Rory McIlroy, por exemplo.

Seus livros, reconhecidos pelo equilíbrio entre pesquisa minuciosa e narrativa envolvente, conquistaram leitores ao redor do mundo. No dia a dia, colabora com publicações britânicas, como The Sun, The Sunday Times e Mail on Sunday.