As mulheres correspondem a pouco mais da metade da população brasileira. Mas nos investimentos elas seguem sendo minoria. Apenas 25% da custódia da B3 é de mulheres e somente 35% delas afirmam que são investidoras, segundo dados da Anbima.
A diferença entre a representatividade na população em comparação aos investimentos tem um motivo estrutural. Dentro de casa, a orientação vem da figura masculina do marido, do pai ou do irmão. Fora, a insegurança está ligada às orientações de terceiros que, muitas vezes, não têm empatia com as necessidades específicas e de comportamento feminino.
Para Mariella Gontijo, sócia fundadora da Vos Investimentos e da Ava Investimentos, consultorias voltadas para o público feminino, a razão delas se sentirem inseguras para gerirem o seu patrimônio são históricas.
“Há pouco tempo esse não era um assunto para as mulheres. Quem ganhava e geria dinheiro eram os homens. E quando a mulher foi ganhando o seu espaço e tendo o seu rendimento, passou a ter uma dinâmica muito mais de gasto, vendo como uma liberdade, que de preservação de patrimônio”, diz Gontijo no Wealth Point, programa do NeoFeed.
Fernanda Camargo, cofundadora da Wright Capital, um family office voltado para finanças de impacto, complementa. “O mercado de capitais foi criado por homens. Então, as políticas de investimento, suitability, e essas coisas, foram criadas com um viés muito masculino, que nem sempre se adere ao perfil feminino”, diz ela.
Segundo as especialistas, as mulheres, em geral, lidam com o dinheiro de uma forma diferente do homem. Enquanto eles têm o capital como instrumento de poder (quanto mais melhor), elas veem mais propósito e um meio de conseguir objetivos claros. As mulheres também se engajam mais em finanças sustentáveis e de impacto.
Camargo, ao fundar a Wright Capital com esse propósito, foi percebendo esse comportamento. E, de uma forma natural, hoje mais de 60% do patrimônio gerido na casa é de mulheres.
Já a Vos Investimentos veio com a proposta de ser um family office para atender as mulheres nas suas especificidades. Uma cliente foi emblemática para essa proposta. Mesmo tendo um grande patrimônio e sendo uma ativo importante em um private banking, ela não queria ir ao banco, um ambiente em que ela não se sentia confortável em dizer que não entendia de investimentos.
Por todas essas questões, as mulheres muitas vezes preferem deixar a gestão do seu patrimônio com o marido – que já sabe cuidar do dele, e pode cuidar também do dela. Mas essa dinâmica pode se tornar uma amarra. As especialistas contam que muitas mulheres, em especial as mais maduras, precisam encarar as suas finanças pela primeira vez após um divórcio.
Pesquisas de finanças comportamentais internacionais também mostram que as mulheres são mais avessas ao risco, e por isso elas têm mais medo de empreender sem um colchão financeiro. E aquelas que empreendem, ou são autônomas, muitas vezes adiam a gravidez por falta de planejamento de como ficarão ao parar de trabalhar nos primeiros meses da maternidade.
Para as especialistas, para as mulheres de fato se engajarem na gestão do seu patrimônio, é preciso que o mercado financeiro também seja mais feminino, já que a representatividade muda as abordagens. E isso tem avançado - mesmo que aos poucos.