Foi com a promessa de uma transição sem rupturas que Ilson Bressan assumiu como CEO da Valid, em abril de 2024. Conhecida pela emissão de documentos como RGs e CNHs, além da produção de cheques, cartões e SIM Cards, a empresa vinha de um turnaround de quatro anos, comandado por Ivan Murias.

Um dos executivos contratados nesse intervalo, Bressan atuava, até então, como head de identificação digital. Ao lado de governo digital e do segmento de mobile, a área em questão foi eleita como um dos pilares dessa reestruturação, na qual a companhia buscava ir além do seu negócio tradicional.

Com Bressan prestes a completar doze meses à frente da operação, a Valid divulgou nesta quarta-feira, 12 de março, o balanço do capítulo mais recente dessa renovação de identidade. E, de quebra, anunciou uma meta ambiciosa: dobrar a receita e o tamanho da empresa nos próximos cinco anos.

“Vamos nos ancorar naquelas linhas de negócio que vão gerar mais receita para a companhia”, diz Bressan, CEO da Valid, ao NeoFeed. “E, nesse contexto, os novos negócios vão ser a grande usina desse crescimento.”

Os resultados divulgados na noite de quarta-feira, 12 de março, dão uma ideia de onde a Valid está partindo para executar esse novo plano. E com qual velocidade. A receita das três novas linhas ficou em R$ 216 milhões em 2024, uma alta de 300% sobre 2023. Em outro dado dessa evolução, esse número foi de R$ 3 milhões em 2022.

Esse desempenho compensou o volume da receita total no período, de R$ 2,17 bilhões, contra R$ 2,25 bilhões em 2023, o que foi atribuído a um recuo nos negócios tradicionais de mobilidade no primeiro semestre. E a perspectiva é de que as novas frentes ganhem uma fatia mais relevante nesse bolo.

Para esse ano, a projeção é de que essa participação chegue a 15% da receita total. Já para 2027 e 2030, a meta é que ela alcance, respectivamente, patamares próximos de 25% e 50%.

“Essa receita de R$ 216 milhões foi uma das nossas grandes notícias em 2024”, afirma Bressan. “Eu acredito que nenhuma das empresas que nós consideramos como os players que podem competir conosco logo à frente tem esse crescimento tão rápido.”

A “provocação” aos “players logo à frente” têm endereço certo. A lista inclui as idtechs unico e idwall, e a Serasa Experian. E traduz uma outra estratégia embutida no plano de cinco anos da Valid: avançar com esse novo portfólio - hoje mais presente no setor público - também no segmento privado.

“Entre 70% e 75% da nossa receita já vêm do setor privado. Isso está mais restrito, porém, aos nossos negócios legados”, observa. “Mas não nos faltam clientes nesse espaço. Nós atendemos mais de 1,2 mil grandes empresas. Então, temos acesso e cliente. É o nosso portfólio que precisa avançar.”

Foco nas adjacências

Isso não quer dizer que a Valid não tenha ampliado sua oferta durante o turnaround. Em governo digital, por exemplo, a empresa já tem projetos com um cartão com chip e recursos de biometria que cria uma identidade única para que parte da população tenha acesso a benefícios como cesta básica.

Agora, porém, o foco é olhar para adjacências a essas novas linhas. A ideia é compor uma plataforma para atender de ponta a ponta as transações digitais. Do onboarding, da identificação e validação dos usuários até questões como segurança, gestão e credenciais de acesso em cada ambiente.

Há duas vias em direção a essas adjacências. A primeira envolve o crescimento orgânico do portfólio. E uma das novidades no forno será ofertar ao mercado tecnologias desenvolvidas para atender à própria operação da Valid.

“Nós investimos dezenas de milhões por ano em proteção dos databases que nós operamos, como a emissão de documentos de São Paulo”, explica. “Estamos transformando isso em um produto de cibersegurança. Algo que já investimos, e que era custo, vai passar a ser uma fonte de lucro.”

A mesma lógica vai ser aplicada para soluções que a Valid usa para selecionar fornecedores, com as devidas diligências e réguas de governança. Em paralelo, o plano é ampliar a equipe de tecnologia. Em identidade digital, por exemplo, a ideia é dobrar o time atual de 200 profissionais nos próximos anos.

O crescimento do portfólio não está restrito, porém, ao que está em seus limites. A orientação é retomar os M&As. Durante a reestruturação, essa estratégia envolveu muito mais o desinvestimento em ativos do que aquisições. A última compra, da idtech Flexdoc, aconteceu em maio de 2023.

Segundo Bressan, já existe um pipeline de ativos em estudo e negociações em curso, em diferentes estágios. “Vamos comprar mercado, com empresas com uma boa base de clientes, ou encorpar capacidades que demoraríamos muito tempo para fazer dentro de casa”, diz ele.

Estão no radar dessa segunda opção tecnologias voltadas a vertentes como cibersegurança, gestão de governança de identidade, assinaturas digitais, prevenção a fraudes e soluções que coíbam práticas como a lavagem de dinheiro.

O fato de os novos negócios estarem na ordem do dia para a Valid não significa que as linhas estão fora do escopo. A empresa também vê boas perspectivas, por exemplo, nos RGs e CNHs, áreas nas quais responde, respectivamente, por mais de 60% e cerca de 80% das emissões no País.

“Todo brasileiro vai ter que emitir a nova carteira de identidade nacional. E, hoje, esse volume está em 17 milhões de emissões, o que ainda é muito pouco”, diz Olavo Vaz, CFO da Valid. “Então, temos muito potencial nos novos negócios, mas o legado segue gerando caixa para financiar essa expansão.”

Em 2024, a companhia registrou uma geração de caixa operacional de R$ 425 milhões em 2024, o que representou 87,2% do Ebitda reportado no período. A empresa fechou o ano com R$ 770 milhões em caixa e R$ 580 milhões de dívida líquida, resultando em um caixa líquido de R$ 190 milhões.

Há outros números destacados pelos executivos no balanço do ano. Entre eles, o lucro líquido de R$ 381 milhões, o que representou um crescimento de 78,6% sobre 2023 e a maior cifra já registrada pela companhia em sua última linha do balanço.

“Olhando para o balanço e para frente, temos novamente uma missão dupla”, diz Bressan. “De um lado, vamos administrar o que temos de fortaleza hoje. E, em paralelo, vamos investir naquilo que vem se mostrando um terreno mais fértil de crescimento.

Com valor de mercado de R$ 2,15 bilhões, a ação da Valid acumula alta de 22,2% em 2025.