A International Meal Company (IMC), grupo de food service dono de redes como KFC, Pizza Hut e Frango Assado no Brasil, anunciou a criação de uma joint venture envolvendo a operação brasileira do KFC. Quem fará companhia à holding brasileira nessa empreitada será a Kentucky Foods Chile Limitada, grupo chileno do mesmo setor, com atuação na América Latina.
A IMC vai manter uma fatia de 41,7% na nova empresa e vender a participação restante, de 58,3%, por US$ 35 milhões (cerca de R$ 200 milhões). Na transação, que contou com a chancela da Yum! Brands, detentora global da marca, o ativo foi avaliado em US$ 60 milhões (cerca de R$ 343 milhões).
“Essa cifra reforça que a soma das partes vale mais que o todo da IMC, que está avaliada em cerca de US$ 50 milhões”, diz Alexandre Santoro, CEO da IMC, ao NeoFeed. “A ideia é destravar o potencial do KFC. Nossa fatia será diluída, mas faremos parte de um negócio que ficará maior.”
As conversas tiveram início há um ano e ganharam tração nos últimos dois meses. Do outro lado da mesa nessa negociação, a Kentucky Foods Chile, fundada em 1986, é master franqueada do KFC na América Latina, com mais de 550 restaurantes da marca.
O KFC Brasil, por sua vez, tem 231 unidades. Eram 50, em 2019, quando a IMC assumiu a operação e elegeu a marca como um de seus focos, ao lado do Pizza Hut e do Frango Assado. O grupo teve de lidar, porém, com uma situação indigesta em 2021, a partir de uma arbitragem movida pela Yum! Brands.
A disputa teve origem em discordâncias sobre metas não cumpridas na pandemia – a Covid-19 trouxe sérios impactos à operação da IMC - e nos planos de expansão local da bandeira. E só foi resolvida em outubro de 2022, quando as duas partes renovaram seus “votos” até 2032.
Agora, ao trazer um sócio com bagagem no setor, na marca e em diversos países, Santoro entende que o KFC Brasil terá mais fôlego para avançar. E com um detalhe: sem que a IMC tenha que botar a mão no bolso para isso.
“Temos uma restrição de capital em função do cenário macro e por sermos multimarcas”, afirma o CEO da IMC. “Estamos trazendo um sócio que vai fazer a capitalização para custear os investimentos necessários para a marca no Brasil.”
Nesses termos, ele projeta que o KFC Brasil deve manter o ritmo de expansão de 30 a 40 unidades dos últimos anos. Mas com uma mudança no mix, dando maior foco às lojas de rua.
Destino dos recursos
Os US$ 35 milhões do acordo também já têm um destino. Boa parte será usada para reduzir a dívida da IMC e sua alavancagem. A empresa encerrou 2024 com uma dívida líquida de R$ 360,7 milhões, contra R$ 295,4 milhões em 2023. Já a alavancagem saiu de 2 vezes, um ano antes, para 2,4 vezes.
“O pagamento será feito em duas tranches, sendo uma à vista, de US$ 12,5 milhões, e os US$ 22,5 milhões restantes em dois anos”, diz Santoro. “Mas a transação inclui uma carta de garantia com bancos de primeira linha, o que vai nos permitir transformar essa cifra em caixa em um prazo menor.”
Santoro também observa que, ao deixar de contabilizar 100% do resultado do KFC, a IMC terá um impacto que não será significativo no Ebitda. Em contrapartida, ele ressalta que o grupo deixará de carregar as despesas gerais e administrativas associadas a essa operação.
“Vamos melhorar nossa estrutura de capital e a empresa vai ficar mais leve”, destaca. “E, ao mesmo tempo em que mantemos a possibilidade de um upside no KFC, teremos condições de destravar investimentos em outras marcas do nosso portfólio.”

Com a expansão do Pizza Hut mais centrada no modelo de franquias, quem deverá se beneficiar, a princípio, desse novo momento é o Frango Assado, bandeira que, atualmente, tem 23 unidades.
Inaugurada neste mês, na Rodovia Dutra, na altura da cidade de Guararema (SP), a loja mais recente dessa base interrompeu um hiato de pouco mais de três anos sem aberturas da marca. E foi fruto de uma conversão do restaurante de outra bandeira que já operava no local.
“Estamos olhando mais para esse formato de conversões, que tem um capex relativamente menor, e para parcerias com postos que ainda não têm a opção de alimentação. E menos para greenfields”, diz Santoro. “Com 8 a 10 lojas, temos o potencial de dobrar o tamanho do Frango Assado.”
Prejuízo no balanço
Enquanto traça esses novos destinos e metas, a IMC ainda lida com números que desafiam o apetite dos investidores. No quarto trimestre, o grupo apurou um prejuízo de R$ 47,8 milhões, contra uma perda de R$ 104,4 milhões, um ano antes. No ano, o prejuízo foi de R$ 76,3 milhões, 46,6% menor que em 2023.
A receita líquida avançou 1,8% no trimestre, para R$ 546,7 milhões, e 2% no ano, para R$ 2,22 bilhões. No Brasil, essa linha ficou em R$ 1,48 bilhão em 2024, um salto de 5,5%. Já nos Estados Unidos, onde o grupo opera com a marca Margaritaville, houve uma queda de 4,5%, para R$ 737,9 milhões.
“Parte desse resultado se deu por uma série de fechamentos de lojas deficitárias que fizemos”, diz Santoro. A IMC encerrou o ano com uma expansão líquida de 39 lojas – resultado de 69 inaugurações e do fechamento de 30 pontos. No total, seu portfólio atual tem 614 unidades.
A IMC fechou 2024 com alta de 0,1% nas vendas mesmas lojas, contra 4,8% em 2023. Em contrapartida, houve um crescimento de 13,9% no Ebitda ajustado do ano, para R$ 301,8 milhões. Outro ponto destacado foi a redução de 8,3% das despesas gerais e administrativas no Brasil, para R$ 132 milhões.
O balanço foi acompanhado ainda por um fato relevante informando sobre a renúncia do CFO Rafael Santos. E pelo anúncio de que Natalia Lacava, com passagens pelo Credit Suisse, Qualicorp, Carrefour e Arklok Technology, assumirá o posto, a partir de 2 de abril.
As ações da IMC encerraram o pregão de hoje cotadas a R$ 1,15, alta de 4,55%. Em 2024, os papéis acumulam uma valorização de 18,5%, dando ao grupo um valor de mercado de R$ 328,2 milhões.
(Reportagem atualizada às 21h08 com informações sobre o resultado da IMC)