Não dá para afirmar que a enóloga argentina Susana Balbo, dona da Susana Balbo Wines, e o seu filho, o também enólogo José Lovaglio Balbo, que comanda a Vaglio Wines, vivam um choque de gerações no mundo do vinho. Mas seus vinhos são muito diferentes.
Lovaglio aposta em vinhos tintos (ao menos por enquanto), com muito frescor, boa estrutura e elaborados apenas com uma uva (o chamado vinho varietal). É um estilo que vem encantando críticos internacionais.
O inglês Tim Atkin e o americano James Sucking deram entre 92 e 95 pontos, em uma escala de 100, para os seus tintos da safra de 2017, por exemplo. E os vinhos da Vaglio Wines começam a chegar no Brasil neste mês, importados pela Cantu.
Sobre os vinhos de Susana, o próprio Lovaglio define o estilo: “A minha mãe gosta mais do carvalho, na hora de elaborar o vinho, e é a rainha do blend.” Ele fala com propriedade. Lovaglio cresceu nas vinícolas, acompanhando o trabalho de Susana, a primeira mulher a se formar enóloga na Argentina.
Pioneira, Susana precisou se mudar de Mendoza para Salta porque foi o único local onde conseguiu emprego no início dos anos 1980. E foi lá que José Lovaglio nasceu. Em Salta, ela logo tornou-se referência na elaboração de brancos com a uva torrontés.
Na primeira oportunidade profissional, ela mudou-se para Mendoza, onde fez carreira em grandes vinícolas, como a Catena, até se lançar em seu projeto pessoal em 1999. Desde o início dos anos 2000, Susana também se lançou ao mundo político, foi presidente da Wines of Argentina, associação que representa o setor em seu país, e deputada por Mendoza.
O jovem enólogo, por sua vez, define o seu projeto pessoal como o seu “espaço criativo”. O sonho de um vinho próprio começou a nascer em 2010, quando ele voltou para a Argentina, depois de estudar enologia na universidade americana de Davis – ele escolheu essa escola por conselho do também premiado enólogo Paul Hobbs – e trabalhar por 1,5 ano na China.
De volta à casa, ele foi trabalhar na vinícola da família, a hoje chamada de Susana Balbo Wines. O projeto, na verdade, nasceu como Dominio del Plata, mas foi rebatizada com a saída do sócio e ex-marido de Susana, o viticultor Pedro Marchevski.
A pequena Vaglio Wines, de Lovaglio, fica em El Peral, uma zona a 1.100 metros do nível do mar no vale do Uco e elabora ao redor de 20 mil garrafas por safra. No combinado familiar, Lovaglio divide seu tempo entre os dois projetos, o familiar e o pessoal.
A Vaglio Wines fica em um antigo laticínio, com grandes tanques de concreto, que eram utilizados para armazenar leite no passado. Reformados, estes tanques são utilizados para fermentar as uvas – preferencialmente a malbec – sem o controle de temperatura.
“As paredes são tão largas, algumas com um metro de espessura, que seguram a temperatura”, conta Lovaglio. A variação de temperatura, durante este período, é um dos grandes problemas para a qualidade do vinho. A colheita é sempre noturna, para que a uva chegue mais fria e fresca na vinícola.
A proposta do enólogo é elaborar vinhos com uvas de diferentes terroirs de Mendoza. O tinto chamado de Temple é feito com malbec de um vinhedo de mais de 80 anos, em Tupungato. O Aggie é um malbec de Gualtallary, o vale mais festejado da Argentina. O Chacra é um malbec de Agrelo e o MiPeral têm uvas de antigo vinhedo, de 0,3 hectares em El Peral.
São todos malbecs, elaborados da mesma maneira e de aromas e sabores diferentes entre si. Seu único blend é o Chango, que une malbec e cabernet sauvignon de Mendoza e tannat, de Salta. “É o vinho que mostra a minha história”, define Lovaglio.
Para comparar, a Susana Balbo Wines é uma vinícola com produção de 250 mil caixas de vinho e com várias linhas de brancos, rosés e tintos. O rótulo mais conhecido é o Crios, que é uma referência de Susana a criação de seus filhos, José Lovaglio e sua irmã, Ana.
Há outras linhas como o Susana Balbo, o Nosotros, o BenMarco. E Susana, mesmo com uma equipe de enólogos, dá sempre a palavra final nos cortes e estilos dos seus vinhos.