A próxima grande aposta de Elon Musk para o X (o antigo Twitter) não está ligada à mídia social, mas ao mercado financeiro. A plataforma anunciou que vai permitir que seus usuários façam investimentos e transações financeiras diretamente no app, numa ofensiva para transformá-lo em um super aplicativo nos moldes do chinês WeChat.
A movimentação posiciona o X dentro de uma tendência crescente no universo da tecnologia: grandes plataformas digitais buscando protagonismo também no setor financeiro. Apple Pay, Google Wallet, o banco digital da Amazon na Índia são exemplos de que a integração entre conteúdo, dados e dinheiro virou prioridade estratégica.
No caso do X, o plano inclui o lançamento de uma carteira digital chamada X Money, com serviços de pagamentos peer-to-peer, envio de gorjetas para criadores, armazenagem de saldo e, futuramente, ferramentas de investimento.
A iniciativa deve começar nos Estados Unidos ainda este ano, em parceria com a Visa para viabilizar um cartão físico ou virtual da marca.
“Vamos construir um ecossistema financeiro completo dentro do X”, disse a presidente executiva do X, Linda Yaccarino, ao Financial Times.
Desde que comprou o Twitter por US$ 44 bilhões, Musk tenta reposicionar a plataforma para recuperar sua relevância e seu valor. Diante da fuga de anunciantes e da dificuldade de escalar o modelo de assinaturas, os serviços financeiros surgem como uma nova avenida de receita e retenção de usuários.
O antigo Twitter se consolidou, ao longo dos anos, como um dos principais pontos de encontro da comunidade global de finanças, conhecida como FinTwit. Essa rede movimenta não só debates em tempo real sobre bolsas, moedas e macroeconomia, como também exerce forte influência sobre investidores institucionais e decisões de mercado.
Perfis como o do investidor Bill Ackman, do economista Nouriel Roubini e de gestores de grandes fundos costumam gerar ondas de comentários e repercussão no setor. No Brasil, o espaço também é relevante, reunindo nomes de casas como Verde, SPX e XP, além de milhares de traders e entusiastas do mercado financeiro que usam o espaço para compartilhar opiniões, análises e gráficos sobre os movimentos da economia e dos mercados.
Ao oferecer, agora, serviços financeiros diretamente no app, o X tenta capitalizar sobre essa base já engajada, transformando discussões em transações. A integração entre conteúdo e operações financeiras tem potencial para criar um ecossistema próprio onde informação, rede de contatos e execução de investimentos caminhem juntos.
Mas o plano não está isento de obstáculos. A entrada no setor financeiro exige licenças regulatórias, políticas robustas de combate à lavagem de dinheiro e um alto nível de confiança do usuário — algo que o X, sob comando de Musk, ainda luta para reconquistar.
Mesmo assim, se for bem-sucedida, a empreitada pode colocar o X na vanguarda de um novo modelo de plataforma digital: menos dependente de publicidade e mais integrada à vida financeira dos usuários. E, no caminho, acelerar a corrida para que outras big techs deixem de apenas intermediar conteúdo e passem a intermediar também o dinheiro de seus usuários.