A Aeris enfrenta um dos momentos mais desafiadores de sua história, reflexo direto da crise que atinge o setor eólico nacional. No fim do primeiro trimestre deste ano, a fabricante brasileira de pás eólicas conseguiu aprovar com os debenturistas a repactuação de suas dívidas até 2030.

O endividamento representa o principal desafio da companhia. A dívida bruta atingiu R$ 1,62 bilhão no fim do primeiro trimestre, enquanto o caixa somava R$ 112,7 milhões.

As despesas financeiras líquidas dispararam 31,8% no período, totalizando R$ 77,4 milhões, sendo que R$ 55,2 milhões correspondem a juros que estão sendo incorporados à dívida da empresa.

"Essa repactuação representa um avanço relevante no fortalecimento da nossa estrutura de capital", afirmou José Azevedo, CFO da Aeris, no programa Números Falam, do NeoFeed.

A crise da Aeris espelha a situação dramática do setor eólico brasileiro. Segundo a ABEEólica, esse é o pior momento do setor nos últimos 20 anos, com a cadeia produtiva paralisada pela ausência de demanda e contratos. Os investimentos despencaram de R$ 5,6 bilhões em 2023 para R$ 1,8 bilhão em 2024.

"Estamos trabalhando com uma capacidade reduzida para nos adequarmos ao mercado atual", afirmou o CFO da Aeris. “A cinco anos atrás o problema da Aeris era entregar as pás, hoje faltam encomendas.”

A empresa foi obrigada a reduzir drasticamente sua capacidade produtiva devido à queda nas encomendas. Segundo Azevedo, a Aeris diminuiu o número de moldes utilizados na fabricação de pás eólicas, ajustando sua operação à nova realidade de demanda.

Os números do primeiro trimestre de 2025 evidenciam a pressão sobre a Aeris. A receita operacional líquida totalizou R$ 210,4 milhões, registrando uma leve queda de 0,5% em relação ao trimestre anterior. A margem Ebtida ficou em apenas 5,4%, totalizando R$ 11,4 milhões, sinalizando a compressão da rentabilidade da operação.

Para o CFO, a margem justa da companhia é entre 10% e 11%, um indicador que a Aeris vai buscar a partir de 2027 com uma série de melhorias de eficiência operacional.

A empresa está otimizando processos, reduzindo custos fixos e mantendo apenas as operações essenciais para preservar sua competitividade técnica e posição de mercado.

“A demanda garantida que temos hoje não consegue diluir os custos para chegarmos à margem de 10%”, disse ele. “Estamos garantindo a liquidez da companhia em 2025 e 2026, que são anos de menor demanda, para voltarmos a crescer em 27 de forma mais acelerada.”

Com valor de mercado de R$ 261 milhões, a ação AERI3 acumula queda de 40% no ano. O Ibovespa está em alta de pouco mais de 16%.