A corrida é, oficialmente, o esporte do momento. Segundo o relatório anual da Strava, plataforma global que reúne milhões de atletas amadores e profissionais, a modalidade foi a mais praticada no mundo no ano passado, e o Brasil reúne o segundo maior número de atletas corredores: 19 milhões.
O interesse tem movimentado o mercado no País: com mais de 2,8 mil provas de rua (alta de 29% em relação ao ano anterior) e crescimento de 109% no número de clubes de corrida. Mas poucas companhias de grande porte brasileiras têm aproveitado tão bem esse hype quanto a Vulcabras.
A empresa era conhecida por seus tênis bons e baratos, mas nem de longe referências para prática esportiva. Até que, em 2019, lançou, o Corre, linha de tênis de performance da Olympikus criada para disputar espaço com os modelos mais técnicos do mercado. O projeto partiu de uma provocação do CEO Pedro Bartelle: desenvolver um tênis brasileiro capaz de vencer maratonas.
“Se criássemos um tênis da Olympikus que ganhasse uma maratona, conseguiríamos promover melhor a marca. Como a Vulcabras, por muitos anos, administrou diversas marcas esportivas, já tinha capacidade de produzir produtos de alta performance”, diz Bartelle, em entrevista ao Call de Negócios, programa do NeoFeed.
Para isso, a companhia convidou corredores para cocriar modelos, o que resultou em um design adaptado ao clima tropical: um tênis mais respirável e um pouco mais largo na parte da frente, para que os dedos ficassem mais soltos.
A aposta deu certo e logo virou o motor de arranque da Vulcabras. O tênis já é responsável por mais de 20% do faturamento da Olympikus, marca que, por sua vez, representa mais da metade da receita do grupo.
Nos números mais recentes, relativos ao primeiro trimestre, a companhia reportou uma receita líquida de R$ 701,2 milhões. A cifra representou um salto de 17,4% sobre o número apurado em igual período, um ano antes.
Em 2024, o Corre foi o tênis mais usado por corredores brasileiros na Strava, tendo vencido provas como as maratonas de Porto Alegre e São Paulo. E, com isso, caminha rapidamente para representar um terço das vendas da Olympikus.
Octávio Magalhães, sócio e CIO da Guepardo Investimentos, gestora que investe na Vulcabras, destaca que, nesse ritmo, o Corre poderia se transformar na quinta marca de tênis no Brasil caso fosse independente, atrás somente da Olympikus, Mizuno, Nike e Adidas.
“Imagina criar do zero uma categoria Corre, que está se transformando, em números de pares, em uma quinta marca do país, de repente, do nada? Isso é muito surpreendente. Mas essa demanda enorme vem demandando Capex”, afirma Magalhães.
Ao NeoFeed, Bartelle disse que tem tido mais demanda do Corre do que consegue atender. Nessa esteira, a companhia investiu R$ 750 milhões desde o início do projeto e vai destinar um volume anual de R$ 200 milhões nos próximos anos para ampliar e modernizar sua capacidade produtiva.
A Mizuno, outra marca do portfólio, também tem surfado a onda da corrida. Mesmo com a sua chuteira Morelia e a contratação de Gabigol como embaixador, a Mizuno aposta na modalidade running para crescer. E, nessa direção, no primeiro trimestre de 2025, ampliou o portfólio para alta performance em corrida lançando o modelo Neo Zen, desenvolvido para treinos de longa distância.
“A maior parte das vendas da Mizuno é corrida. A marca está se modernizando porque, além dos produtos com placas de propulsão, começamos a fazer tênis mais robustos, mais largos e mais altos para competir com marcas especialistas de corrida do mundo. E já criamos três produtos dessa linha que vão ser entregues no segundo semestre”, conta Bartelle.
Já a Under Armour, que ainda tem presença tímida no Brasil, tem as roupas como seu carro-chefe. Para aumentar o market share nesse segmento fitness do Brasil, Bartelle planeja abrir novas lojas entre o fim de 2025 e o início de 2026.
“Vamos aumentar a participação da Under Armour crescendo as vendas diretas ao consumidor, seja através do nosso e-commerce ou das nossas lojas próprias", afirma. "Já temos alguns outlets, mas pretendemos abrir monomarcas também. Isso vai ajudar a expor melhor toda a proposta da marca e ampliar a venda de vestuário.”