Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda almoçava, nesta quarta-feira, 30 de julho, quando recebeu a notícia de que os Estados Unidos tinham imposto sanções financeiras contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, acusado de perseguir Jair Bolsonaro.
Menos de duas horas depois, o presidente foi informado sobre a divulgação do decreto de Donald Trump com a tarifa de 50% a produtos brasileiros. Um dos primeiros a ser chamado foi o vice-presidente Geraldo Alckmin. A tensão escalou e atingiu o ápice às 15 horas.
Com a leitura das exceções de produtos brasileiros nas tarifas, o ambiente ficou mais calmo na Esplanada. Foram 700 exceções que ficaram de fora do tarifaço. Entre elas, aviões (boa notícia para a Embraer, cujas ações subiram mais de 10%), suco de laranja e petróleo.
A própria reação positiva da bolsa de valores brasileira, no meio da tarde, já dava uma indicação de que a ação comercial de Trump foi menor do que se imaginava - o Ibovespa, que estava em queda, virou e fechou com alta de 0,95%.
A partir daí, a decisão foi evitar retaliações e permanecer aberto para negociações com o governo Trump para os produtos que receberam a tarifa de 50%, como etanol, açúcar, café, carne, frutas e pescados. Para esses produtores será oficializado um plano de contingência para evitar perdas substanciais.
O governo evitaria neste primeiro momento usar aspectos da Lei da Reciprocidade, eventuais sanções a norte-americanos e taxação de produtos. É uma tentativa de tentar impedir uma escalada da tensão diplomática, até porque a implementação das tarifas só ocorrerá a partir de 6 de agosto.
Além de Alckmin, estiveram com Lula durante toda a tarde os ministros da Fazenda, Fernando Haddad; da Justiça, Ricardo Lewandowski; da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann; e da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias.
Com o alívio imediato sobre o comércio, a única resposta mais efetiva foi a de Messias, que criticou em nota as sanções contra Moraes. “Não nos curvaremos a pressões ilegítimas, que tentam macular a honra e diminuir a grandeza de nossa nação soberana.” Não disse também qual e se vai lançar alguma contraofensiva.
Nota oficial
À noite, o governo Lula, por meio de nota oficial, disse que o Brasil é um país "soberano e democrático". Segundo o texto, é inaceitável a interferência norte-americana na Justiça brasileira. "O governo se solidariza com o ministro Alexandre de Moraes, alvo de sanções motivadas por ações de políticos brasileiros que traem nossa pátria e nosso povo em defesa dos próprios interesses."
Segundo a nota, o "Brasil segue disposto a negociar aspectos comerciais da relação com os EUA, mas não abrirá mão dos instrumentos de defesa do país previstos na legislação. Nossa economia está cada vez mais integrada aos principais mercados e parceiros internacionais." Por fim, o governo diz que iniciará elaboração de medidas para proteger trabalhadores.