Brasília - Os ministros do governo Lula têm defendido as negociações sobre as novas tarifas anunciadas por Donald Trump até o limite. A ideia é apenas usar em último caso as regras de lei de reciprocidade aprovada pelo Congresso e regulamentada pelo Planalto. Mas um megaprojeto federal prestes a ser divulgado - de estímulo à instalação de data centers - revela o tamanho da dificuldade por trás de uma eventual retaliação brasileira.
O cálculo para a retaliação deverá levar em conta setores econômicos, um trabalho com tantos detalhes que poderá abrir várias brechas nas ações com base na reciprocidade. No caso dos data centers, o governo federal prepara uma medida provisória para zerar impostos de equipamentos tecnológicos. O texto era esperado para ser divulgado há dois meses, mas a crise do IOF e agora o tarifaço de Trump atrasaram tudo.
No caso dos bens, já há previsão do governo evitar taxações, pois prejudicariam não apenas companhias norte-americanas mas também as brasileiras. A eventual retaliação assim poderia se restringir a royalties, patentes e serviços - como contratação de escritórios de advocacia. Mas há um detalhe neste último ponto. Empresas nacionais de data centers precisam de parceiros estrangeiros.
Na tarde desta terça-feira, 22 de julho, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, se reuniu com representantes da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Os executivos defenderam a negociação e o uso do projeto de data centers para mostrar como o Brasil precisa dos EUA e os norte-americanos precisam dos brasileiros.
A ideia do governo com a medida provisória é buscar efeitos imediatos diante da urgência de estabelecer regras de isenção de tarifas para importar equipamentos na montagem dos datacenters. Hoje, o Brasil disputa um mercado direto com o Chile e Colômbia, na América do Sul, e com a Índia, na Ásia.
Especialistas são unânimes em afirmar que o Brasil pode se tornar a próxima fronteira em data centers, até agora dominada pelos Estados Unidos e pela China. A questão aqui trata da soberania nacional, por causa dos serviços online brasileiros armazenados em países estrangeiros. Uma queda naquelas terras implica na derrubada de dados por aqui.
O presidente Lula, que estava no Chile na segunda-feira, 21 de julho, disse que o Brasil ainda não está numa guerra tarifária. “Ela (a guerra) vai começar na hora que eu der uma resposta a Trump”, disse Lula. Como se vê, o Brasil vai ter dificuldade de escolher as armas.