Quase cinco anos após protagonizar uma disputa com a Stone pela compra da Linx, a Totvs finalmente está adquirindo a companhia de software voltada para o varejo, na maior aquisição de sua história - antes, era a RD Station, por R$ 1,8 bilhão, em 2021.
Nesta terça-feira, 22 de julho, a empresa fundada por Laércio Cosentino anunciou a compra da Linx, da Stone, por R$ 3,05 bilhões. Em 2020, a Stone pagou R$ 6,7 bilhões pela empresa, o que significa que a venda representa um deságio de 54,4% em relação à aquisição.
A empresa de software será vendida com caixa zerado. Como a Linx contava com um caixa líquido estimado em R$ 360 milhões, a transação resultará em R$ 3,41 bilhões para a Stone. Além disso, todo caixa gerado até o fechamento do negócio será retido pela Stone.
A operação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Não há prazo definido para que a negociação seja autorizada e a transação entre as empresas concluída.
No ano passado, a Stone reportou que alcançou uma receita líquida de R$ 1,56 bilhão no segmento de software. Desse total, R$ 1,14 bilhão vieram da Linx. Levando-se em conta os dados de 2024, a junção de Totvs e Linx gera uma companhia com receita recorrente de R$ 5,7 bilhões.
O enterprise value da aquisição representa múltiplo de 2,7 vezes E/V (valor da empresa em relação às vendas) e 12,7 vezes EV/Ebitda.
Para o CEO da Totvs, Dennis Herszkowicz, a transação confirma a complementariedade da Linx no modelo de negócios da empresa de tecnologia. “Sempre dissemos, ao longo desses anos, que fazia muito sentido a aquisição. E isso continuou sendo verdade. A gente acreditou que, em algum momento, essa transação pudesse voltar a ser discutida”, diz o executivo, em entrevista ao NeoFeed.
A partir da efetivação do negócio, a Totvs passará a ampliar sua atuação no varejo, em segmentos em que não estava presente.
“A Linx é focada em subsegmentos do varejo em que a Totvs não opera. Por isso que há um encaixe quase que perfeito”, afirma Herszkowicz. “A Linx atua com rede de farmácias e postos de combustíveis e não temos esse produto. Por outro lado, a Totvs tem uma liderança importante em supermercados. Isso vai ser importante para a estratégia da companhia”, diz.
Dos R$ 3,05 bilhões do valor da compra, a companhia de tecnologia usará parte de recursos do próprio caixa da companhia e outra parte virá de emissão de dívidas. Segundo o executivo, ainda não está definido como será essa operação.
Fontes da Stone, familiarizadas com a operação, disseram ao NeoFeed que, com os recursos em caixa, há dois caminhos possíveis: um deles — menos viável — é utilizar parte da venda para adquirir outra companhia, mais alinhada ao core business da Stone. No entanto, por ora, não há nenhum M&A em análise.
A outra possibilidade, considerada mais realista, é usar o excedente de caixa, após a efetivação da transação, para dar continuidade ao programa de recompra de ações da companhia, que, segundo a própria empresa informou no primeiro trimestre, movimentou R$ 2 bilhões nos últimos 12 meses.
O anúncio da venda encerra uma novela que começou justamente em 2020, quando a Totvs disputou com a Stone a aquisição da Linx, mas foi derrotada pela plataforma de pagamentos.
Embora tenha mantido o interesse original, a Totvs não era a única interessada em adquirir a Linx. A canadense Constellation e a Nayax também participaram das negociações.
Em fevereiro, a futura compradora chegou a desistir do processo de aquisição, mas voltou atrás após a desistência de possíveis concorrentes no M&A. No início de julho, a Constellation anunciou a compra de outra empresa de software, a Sysopen.
No final de abril deste ano, Totvs e Stone firmaram um termo de negociação para uma possível transação, durante um período de exclusividade, dando tempo para que as partes chegassem a um acordo. Não havia compromisso firmado de que a negociação seria concluída.
Em novembro do ano passado, o CEO da Totvs confirmou ao NeoFeed que a empresa havia contratado o Itaú BBA para prestar assessoria na avaliação de um possível negócio. Para ele, uma aquisição, quatro anos após ter perdido a primeira disputa, seria estratégica para a Totvs.
“Essa sinergia entre as duas empresas, incluindo a oportunidade de vendas cruzadas e a expansão do alcance, aumentaria a produtividade de ambas”, afirmou na ocasião.
Além da venda da Linx, a Stone também anunciou a conclusão da venda da plataforma de gestão SimplesVet, voltada para clínicas e profissionais veterinários, para a companhia Petlove. A operação foi concretizada por R$ 140 milhões, valor equivalente a quatro vezes a receita da companhia. O Cade já aprovou a transação.
A tendência agora é que a Stone siga o ciclo de desinvestimentos das demais operações de software ainda presentes em seu portfólio, que geram receita anual estimada de R$ 326 milhões e Ebitda de R$ 32 milhões.
A plataforma Reclame Aqui, que passou a ter a Stone com 50% de participação em janeiro de 2022, deve ser a próxima a ser colocada à venda. A Totvs, no entanto, não deve fazer nenhuma oferta para as demais empresas de software que permaneceram no portfólio da Stone.
Mas, segundo o CEO da Totvs, há intenção de realizar novos M&As no futuro que apresentem sinergia aos negócios da empresa. “Isso é parte do nosso DNA. A gente vai continuar fazendo mais transações no futuro. Essa é mais uma aquisição, muito importante. E virão outras.”
No pregão desta segunda-feira, 21 de julho, na B3, as ações da Totvs fecharam em alta de 0,98%. No acumulado de 2025, a valorização alcança 59,63%. A empresa de tecnologia está avaliada em R$ 25,24 bilhões.
Na Nasdaq, as ações da Stone registram alta de 69% em 2025. A companhia está avaliada em US$ 3,66 bilhões.
(A reportagem foi atualizada às 9h40 com entrevista com Dennis Herszkowicz, CEO da Totvs)