O mercado financeiro reagiu com entusiasmo, nesta segunda-feira, 21 de julho, à possibilidade da aquisição da rede de laboratórios Fleury pelo grupo de saúde Rede D’Or.
Na B3, às 12h, as ações da companhia de medicina diagnóstica operavam em alta de mais de 15%. Já os papeis da rede de hospitais registravam valorização de mais de 1%.
A possibilidade de fusão foi revelada no domingo, 20 de julho, pela coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, e marca mais um passo na estratégia de verticalização da saúde da companhia.
Na manhã desta segunda-feira, as duas companhias divulgaram fato relevante, no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em que, embora digam que não haja nenhum acordo sacramentado, não negaram que existam conversas entre as empresas.
A possível oferta pública de aquisição (OPA), que estaria sendo preparada pela rede hospitalar, seria majoritariamente em dinheiro, mas também deve incluir uma opção de troca de ações. Enquanto o J.P. Morgan estaria assessorando o grupo D’Or na negociação, o Fleury contaria com o apoio do Morgan Stanley.
Na estrutura acionária da rede Fleury, 24,9% dos papeis estão sob controle do Bradesco Diagnósticos e 11,3% nas mãos de um grupo de médicos empresários. Outros 63,8% estão disponíveis no mercado.
Relatório do BTG Pactual aponta que o possível M&A traria sinergia ao grupo carioca de saúde, fundado pelo médico Jorge Moll Filho, principalmente por ampliar a presença em um segmento com pouca atuação na rede de hospitais.
“Do ponto de vista estratégico, faria muito sentido incorporar a Fleury ao ecossistema da Rede D’Or. A rede ainda tem uma presença pequena no segmento de diagnósticos — que representa cerca de 20% dos sinistros totais no mercado de saúde suplementar”, diz o documento, assinado pelos analistas Samuel Alves e Maria Resende.
Além disso, segundo o banco, a possível concretização do negócio garantiria mais poder de barganha em negociações comerciais para a Rede D’Or, ao assumir o controle do Fleury.
“Um acordo como esse não apenas expandiria seu mercado endereçável, mas também aumentaria sua vantagem competitiva ao reforçar seu ecossistema, ampliar a captação de pacientes e direcionar mais volume dos hospitais para uma possível rede diagnóstica.”
Para o Goldman Sachs, o acordo, caso venha mesmo a ser concretizado, mostra ao mercado a movimentação do grupo de saúde na ampliação da jornada completa do paciente, desde os cuidados primários até o momento da hospitalização.
Na avaliação do analista Gustavo Miele, a simples revelação de um possível acordo reforça o movimento do grupo D’Or rumo ao seguimento de exames laboratoriais. “Em agosto de 2021, a rede anunciou uma oferta pública de aquisição pela Alliar (outro grupo relevante no segmento de diagnósticos no Brasil), o que demonstra que a penetração nesse setor já vinha sendo considerada como uma das alternativas de alocação de capital pela Rede D’Or.”
Em 2022, a Rede D'Or adquiriu a SulAmérica, uma das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil, em uma transação avaliada em R$ 13 bilhões.
Na prática, na visão da instituição financeira, não haveria nenhum problema, do ponto de vista de saúde financeira, que poderia inviabilizar a compra da rede de laboratórios e exames clínicos pelo grupo de hospitais.
“Como estimamos que D’Or esteja operando com uma alavancagem saudável de 2 vezes a relação dívida líquida versus Ebitda no fim de 2025 e Fleury com alavancagem ainda menor, de 1,5 vez, não acreditamos que haja limitação relevante no balanço para viabilizar essa operação, mesmo que ela seja totalmente em dinheiro”, afirma o analista do Goldman Sachs.
Fleury e D’Or já fizeram negócios anteriores, como a aquisição da rede de laboratórios Labs D’Or, por R$ 1 bilhão, concretizada em 2011, no maior M&A realizado pela empresa de análises clínicas.
Ainda para o BTG, a revelação da possível movimentação deve seguir trazendo valorização para as duas companhias. “A Rede D’Or continua sendo nossa principal recomendação no setor de saúde, enquanto mantemos a recomendação de compra para a Fleury, dado seu valuation atrativo e perfil defensivo, especialmente diante da atual volatilidade aguda do mercado.”
No acumulado de 2025, as ações do Fleury registram alta de 19,78%. No mesmo período, a rede de hospitais subiu 31,9%. O grupo de análises clínicas está avaliado em R$ 7,9 bilhões e a Rede D’Or, R$ 76 bilhões.