Brasília - A 10 dias do início do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o governo Lula mostra dificuldade em encontrar interlocutor e espera recuo do norte-americano, apesar de todos os sinais em contrário. O obstáculo é admitido por ministros em Brasília como uma intransigência dos EUA.
Por mais que o governo tenha mobilizado a Esplanada, empresários começam a listar erros, começando ainda durante a campanha presidencial dos EUA em 2024. O presidente Lula, por exemplo, declarou voto em Kamala Harris quatro dias antes da vitória incontestável de Trump. E acabou sem buscar interlocutor depois da posse do republicano.
Lula não participou da posse de Trump e, na época, em janeiro, mandou uma carta: "Cumprimento o presidente Trump pela posse. As relações entre Brasil e EUA são marcadas por uma trajetória de cooperação, fundamentada no respeito mútuo e em amizade histórica", escreveu Lula, em uma rede social. É tudo o que não se tem neste momento.
Há uma série de simbologias neste afastamento, segundo apurou o NeoFeed. A ausência de um embaixador norte-americano em Brasília é a primeira delas. Por tabela, o governo brasileiro menosprezou os movimentos do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA, tratando como algo sem maiores consequências.
Moeda alternativa
Na sequência, vieram a proximidade com a Rússia e a ideia de criar uma moeda de negociação como alternativa ao dólar durante reunião do BRICS, o que levou Trump ameaçar com tarifas de 100% aos países que formam o bloco. Além disso, começam a aparecer críticas na demora do Brasil em criar grupos de trabalho com empresários.
Em entrevista à rádio CBN, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo não vai deixar a mesa de negociação, mas que já trabalha com plano de contingência para setores afetados pelo tarifaço. Empresários ouvidos pelo NeoFeed entretanto afirmam que será impossível neutralizar com um pacote as perdas para companhias brasileiras.
O presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneus (ANIP), Rodrigo Navarro, afirma que as empresas têm mantido reuniões com representantes de outras entidades setoriais, do governo federal, e de governos estaduais e que a saída está na negociação até o último momento. E que a saída imediata é conseguir o adiamento do tarifaço.
A nova tarifa terá forte impacto para o setor. Em 2024, a indústria instalada no Brasil exportou 9,5 milhões de pneus (20% do total das vendas do setor). Os EUA foram o principal destino das exportações, com 2,6 milhões de unidades (33,2%). “Vamos procurar todos os interlocutores-chave para fortalecer as iniciativas de diálogo”, diz Navarro.
Enquanto isso, governadores de Estados afetados começam a se movimentar. Nesta segunda-feira, 21 de julho, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, anunciou a criação de linha de crédito emergencial para proteger empresas do estado. A ideia é oferecer crédito em condições mais vantajosas, segundo Caiado. Os recursos virão de um fundo de fomento baseado no crédito de ICMS sobre exportações.