No ambiente corporativo, um projeto falha, uma equipe entra em conflito ou um cliente desiste de um contrato. O motivo nem sempre é técnico ou estratégico. Muitas vezes, a origem está em algo mais sutil: a comunicação. Ou melhor, a falta dela. É com esse diagnóstico que Mara Behlau e Marisa Barbara vêm ganhando espaço em empresas e instituições que buscam elevar a qualidade de suas relações internas.
Fonoaudióloga e especialista em voz humana, Mara alia sua experiência clínica à atuação em formação de líderes, enquanto Marisa traz o olhar da tecnologia e do planejamento empresarial. Juntas, desenvolveram uma abordagem baseada em neurociência e comportamento tema central do livro Comunicação Consciente: O Que Comunico Quando me Comunico, que assinam juntas.
“Não é possível não se comunicar”, afirma Mara, ao programa Humanamente Possível, do NeoFeed. “Mesmo no silêncio, o corpo fala. Um olhar de reprovação, um suspiro, uma ausência de resposta. Tudo isso transmite mensagens.”
A proposta da dupla é tornar essa comunicação, tanto a verbal, quanto a não verbal, mais intencional, clara, empática e, sobretudo, mais eficaz.
Um dos pilares dessa abordagem é o modelo SCARF, criado pelo neurocientista australiano David Rock, que aponta cinco necessidades básicas do ser humano em ambientes sociais: status (ser reconhecido), clareza (previsibilidade), autonomia, relacionamento (pertencimento) e justiça (percepção de equidade).
O raciocínio é que, quando esses elementos são respeitados, o cérebro opera em modo de aproximação, colaborando, criando e resolvendo. Porém, se algum deles é violado, a mente entra em modo de defesa.
“Se uma pessoa sente que seu trabalho não é valorizado, que não tem autonomia ou que as decisões são injustas, ela se fecha. Isso não é opinião, é resposta biológica”, diz Marisa. “Empresas que não entendem isso estão desperdiçando talentos e criando ambientes tóxicos.”
A comunicação consciente, portanto, não se resume ao conteúdo das palavras, mas à forma como elas são ditas e recebidas. Por isso, Mara e Marisa desenvolvem com seus clientes uma estrutura chamada AEC (Arquitetura Estrutural da Comunicação), que considera três pilares: o objetivo da mensagem, o perfil do interlocutor, além dos sinais verbais e não verbais.
A sustentação desse modelo é a escuta. Mas não basta apenas ouvir, é necessário escutar com consciência. “Escutar com consciência significa não reagir automaticamente, mas sim pausar, refletir e responder com intenção. É apertar a tecla pause do cérebro”, afirma Mara. “Reagir é fácil, responder exige escolha.”
Segundo as especialistas, a escuta está diretamente ligada ao que chamam de empatia cognitiva: a capacidade de entender o ponto de vista do outro, mesmo sem concordar com ele. Para isso, é preciso eliminar ruídos, como preconceitos e vieses inconscientes, que distorcem a forma como se enxerga o outro.
“Todos temos vieses. A diferença é que o preconceito, no fundo, sabemos que existe. O viés inconsciente, não. E ele só se revela quando exposto ao pensamento diverso”, diz Marisa, reforçando a importância da diversidade de gênero, raça, idade e de visão de mundo nos ambientes corporativos.
A polarização, cada vez mais presente dentro e fora das empresas, é um obstáculo a esse diálogo. Para elas, líderes eficazes não alimentam a separação. Ao contrário, constroem identidades compartilhadas e baseiam sua influência em conexão em vez de em imposições.
“Persuasão é diferente de manipulação. É convencer com elegância, com base em conteúdo, emoção e valores”, afirma Mara.
A dupla ainda rejeita a ideia de que comunicação é “soft skill”. Para elas, essa é uma habilidade crítica, estruturante, que define a forma como vivemos e trabalhamos.
“Não tem nada de ‘soft’ em perder uma promoção, ser demitido ou travar uma negociação porque você não soube se comunicar. Isso é essencial”, reforça Marisa.