A operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que a partir de agora terá de usar tornozeleira eletrônica, torna a negociação sobre tarifas com os Estados Unidos ainda mais complexa. É o que afirma o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores em entrevista exclusiva ao NeoFeed.

Trad montou uma comissão temporária para visitar o Congresso dos Estados Unidos a partir do dia 28 de julho. A incursão é conversar com parlamentares republicanos, partido do presidente Donald Trump.

“A expectativa é estabelecer uma ponte de diálogo para tentar no momento que há uma clara dificuldade de negociação. É mais uma tentativa”, disse Trad.

“Nós estamos exercendo com legitimidade o nosso papel de presidente da Comissão de Relações Exteriores que tem que fazer isso mesmo, buscar um relacionamento internacional e tentar diminuir essa temperatura para proporcionar quem tem o dever de fazer a negociação, que é o Executivo, que ele possa fazer num campo mais tranquilo”, complementou.

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes - que proibiu Bolsonaro a falar com autoridades estrangeiras e obrigou o ex-presidente a usar tornozeleira eletrônica - deve dificultar ainda mais a negociação com interlocutores brasileiros, segundo Trad, que deverá ficar em Washington até o dia 31 de julho.

A comissão temporária, chefiada por Trad, é integrada por senadores do governo e da oposição. Os titulares são Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS) e Fernando Farias (MDB-AL). Os suplentes: Marcos Pontes (PL-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE) e Carlos Viana (Podemos-MG).

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Qual é a expectativa dessa viagem para os EUA?
Nós devemos ir para o Estados Unidos no outro fim de semana para amanhecer segunda [28 de julho] em Washington. Nós estamos exercendo com legitimidade o nosso papel de presidente da Comissão de Relações Exteriores que tem que fazer isso mesmo, relacionamento internacional e tentar diminuir essa temperatura para proporcionar a quem tem o dever de fazer a negociação, que é o Executivo, que possa fazer num campo mais tranquilo, mais equilibrado.

A ação da Polícia Federal contra Bolsonaro na sexta-feira, 18 de julho, pode atrapalhar ainda mais essa negociação?
Com certeza isso é uma situação que torna toda essa história mais complexa do que ela é. O nosso trabalho é tentar separar as questões comerciais da política. Mas nessas questões processuais, eu sempre costumo ter um princípio de evitar comentar, e apenas agir num ambiente técnico.

Como tem avaliado o trabalho do vice-presidente Geraldo Alckmin à frente da negociação do governo?
Eles estão fazendo um trabalho extremamente técnico, e demonstrando de forma clara o que os Estados Unidos perdem a partir do momento que insistem com essa sobretarifa. Afinal, a balança comercial é positiva para eles.

Mas mesmo assim é uma tarefa muito complexa diante do teor da carta de Trump.
Eu vejo com bons olhos porque, numa hora como essa, você tem que ter dados técnicos e precisos para poder contra-argumentar com a parte que você está negociando. Afinal de contas, você está negociando com o comércio. E comércio você se faz com conta. Essa balança comercial, ela é muito equilibrada, porém, positivamente para o lado dos Estados Unidos. Então, a gente perde, mas eles também perdem muito para conosco.

Mas o Trump até aqui não deu ouvidos ao Brasil, deixando de responder até mesmo uma proposta do governo confidencial feita há dois meses. Como resolver isso?
O que eu digo é o seguinte: a gente tem que fazer alguma coisa. Não pode ficar assistindo não pode não fazer nada. A gente tem que buscar e fazer uma tentativa de sentar numa mesa com equilíbrio, com diálogo.

Mas há um impasse a partir da dificuldade de encontrar interlocutores.
Estamos indo lá falar com os senadores republicanos. Da mesma forma que se tivesse um problema no Brasil, eles poderiam vir falar com os senadores para possa ter interlocução com o governo. Isso é legítimo de um processo de diálogo político.

Mas a presença de Bolsonaro na carta não atrapalha as negociações, pois ficam mais políticas?
É provado que existe uma amizade a toda prova nesse sentido. E isso tem que ser inserido no contexto. Agora, a questão política, se ela se misturar com essa complexidade da questão econômica, isso vai ficar ainda mais complexo. Temos que procurar separar essas coisas.

Isso não atrapalha as negociações com o governo chefiado pelo adversário de Bolsonaro?
Tem que insistir na diplomacia até o fim, fazer a política, a arte do diálogo, do entendimento. E o presidente Lula, está mais do que provado, é muito bom nisso. Eu acho que ele tem que deixar essa questão da diferença de lado e tentar fazer a parte dele exercendo a diplomacia e a política.