O anúncio da venda da empresa de software Linx pela companhia de processamento de pagamentos Stone à gigante de tecnologia Totvs por R$ 3,05 bilhões, nesta terça-feira, 22 de julho, foi bem aceita pelo mercado financeiro, que enxergou grande valor na transação, principalmente para a Stone.

Na Nasdaq, as ações da Stone operam em alta durante todo o pregão desta terça-feira, 23 de julho. Por volta de 15h15, os papéis da empresa registravam valorização de 4,12%. Na B3, no caso da Totvs, as ações tiveram pequena alta logo no início do pregão, mas no meio da tarde estavam em queda de 0,71%.

Em 2020, as duas travaram batalha pela aquisição da Linx, que, na ocasião, foi vencida pela Stone, ao pagar R$ 6,7 bilhões. O M&A da Totvs, portanto, quase cinco anos após sua primeira investida na companhia, representa um deságio de 54,4% sobre o valor pago pela ainda dona da Linx, já que a aquisição ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Além do valor que irá receber da Totvs, a Stone também ficará com o recurso no caixa da Linx, de R$ 360 milhões, o que posiciona o negócio em uma transação final de R$ 3,41 bilhões para a companhia do setor de pagamentos eletrônicos.

Além da Linx, a Stone também anunciou a conclusão da venda da plataforma de gestão SimplesVet, no valor de R$ 140 milhões. As duas representaram 79% da receita do segmento de software e 9% da receita consolidada total da Stone em 2024.

Para o Santander, faz sentido a valorização da Stone, na esteira do fato relevante divulgado pelas duas empresas nesta terça-feira, reportando a negociação envolvendo a Linx.

“Recebemos positivamente a venda da Linx, já que não observamos nenhuma geração relevante de valor desde que a empresa foi adquirida pela Stone em 2020”, diz o documento assinado pelos analistas Henrique Navarro e Anahy Rios.

“Consideramos o negócio como gerador de valor, pois a receita financeira oriunda dos R$ 3,6 bilhões em recursos (R$ 3,4 bilhões da Linx e R$ 140 milhões da SimplesVet) poderia representar um aumento incremental de aproximadamente 20% no lucro líquido de 2025, superando de longe o acréscimo de apenas 6% no lucro líquido advindo dessas empresas”, afirma o documento do banco.

Ainda que no horizonte da Stone esteja a venda da plataforma Reclame Aqui, seguindo o ciclo de desinvestimentos de suas participações em empresas na área de software e que, portanto, não estão no core business da empresa, os analistas do Santander enxergam oportunidades para futuras aquisições.

“Uma possível transação de M&A com a PagBank (antiga PagSeguro) pode ser um gatilho positivo para as ações, em nossa opinião, pois poderia destravar sinergias e fortalecer os negócios, preparando-os melhor para enfrentar a concorrência”, diz o banco. “Acreditamos que a venda da Linx (e do negócio de software da Stone) abre o caminho para que uma transação de M&A maior como essa ocorra.”

Sobre a possibilidade de alocações de recursos oriundos da venda da Linx, o banco entende que o caminho que deverá ser seguido pela Stone pode representar um bom movimento para os acionistas da empresa. Sem opções imediatas de compra, a companhia sinalizou que pretende seguir com o programa de recompra de ações, que nos últimos 12 meses movimentou R$ 2 bilhões.

“Em nossa visão, isso aponta para a possibilidade de dividendos extraordinários, o que representaria um dividend yield de cerca de 15% com base no valor de mercado atual, um movimento significativo para uma companhia que nunca distribuiu dividendos.”

Para o Goldman Sachs, a iniciativa da Totvs em insistir com a compra da Linx já era esperada pelo mercado, dado as idas e vindas da companhia e das sempre declarações do CEO, Dennis Herszkowicz, de que uma futura aquisição faria muito sentido para a empresa.

“A apresentação do anúncio pela Totvs enfatiza a complementaridade do portfólio de produtos no segmento de varejo, o que possibilita oportunidades de cross-selling e up-selling por meio da rede de distribuição da empresa”, diz o relatório assinado por Vitor Tomita e Milenna Okamura.

“A Totvs também vê oportunidade para oferecer sua infraestrutura de nuvem à base de clientes da Linx, além de capturar sinergias em SG&A (despesas com vendas, gerais e administrativas)”, argumenta o banco americano.

O Goldman Sachs explica que a solução de pagamentos em estágio inicial da Linx e suíte Linx Impulse estão fora da transação. “O acordo inclui o software principal e histórico da Linx, bem como as operações na América Latina, soluções de e-commerce e soluções omnicanal”, afirma o banco.