As ações da Petrobras chegaram a cair mais de 5% no pregão de sexta-feira, 8 de agosto, após o anúncio do valor dos dividendos que a companhia irá distribuir aos acionistas. A proposta no segundo trimestre é de R$ 8,7 bilhões, abaixo das expectativas do mercado, que eram próximas de R$ 11 bilhões.
A decepção com a distribuição de proventos foi acompanhada por um maior gasto com capex e por um fluxo de caixa no segundo trimestre comprometido pela queda do preço do petróleo, que recuou 10,4% na comparação trimestral, para US$ 67,82/barril. O lucro líquido caiu 24% para R$ 26,65 bilhões.
Em resultado divulgado na noite de quinta-feira, 7, a companhia registrou capex de US$ 4,43 bilhões no segundo trimestre, alta de 30,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Embora o volume de investimentos tenha surpreendido o mercado, a Petrobras reafirmou a previsão de capex de US$ 18,5 bilhões, com variação de +/– 10%, para este ano, conforme guidance do último balanço de 2024.
“O nosso capex está em linha com o que anunciamos no início do ano. A maior parte já está comprometida por contratos firmados e pelo andamento físico de projetos, como as unidades de Búzios e Mero. Por isso, mantemos o guidance para 2025”, afirmou Fernando Melgarejo, CFO da Petrobras, em videoconferência com investidores.
Embora não veja espaço para alterar os investimentos previstos para este ano, o executivo não descarta a revisão do ciclo plurianual de investimentos, diante do patamar mais baixo do preço do petróleo em relação ao projetado anteriormente.
“Vamos revisar as premissas do nosso plano plurianual considerando o novo patamar de preço do petróleo. A partir daí, vamos avaliar o que cabe no capex. O que não couber, sai do plano”, disse ele.
Segundo a administração, o capex atual está concentrado em projetos essenciais para a produção, com destaque para o desenvolvimento e a entrada em operação de unidades no pré-sal, como Búzios e Mero. Na avaliação da diretoria, esses investimentos, já contratados e em execução, são estratégicos para garantir o crescimento da produção de óleo e gás.
Apesar das ressalvas quanto ao capex, analistas destacaram positivamente o aumento da produção de óleo e LGN da Petrobras, que alcançou 2,32 milhões de barris por dia no segundo trimestre de 2025, alta de 5% em relação ao trimestre anterior.
A CEO Magda Chambriard atribuiu o avanço à entrada em operação de novos sistemas, como a FPSO Alexandre de Gusmão, ao ramp-up de unidades já instaladas e a melhorias de eficiência nos campos em operação.
“Esse aumento de produção só foi possível porque executamos o nosso capex e estamos acelerando tudo o que é possível, mas sempre com segurança, respeito ao meio ambiente e muita responsabilidade”, disse a CEO.
A Petrobras espera encerrar 2025 com produção na faixa superior do guidance divulgado, de 2,8 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), com margem de 4% para mais ou para menos. Paradas programadas para manutenção nos próximos trimestres devem reduzir temporariamente o volume produzido.
Para os analistas do Citi, Gabriel Barra, Pedro Gama e Andrés Cardona, o resultado ficou abaixo da projeção, com destaques negativos. "O fluxo de caixa operacional foi menor do que a nossa projeção e o ritmo de Capex maior indica que a Petrobras está mais próxima de atingir sua projeção de US$ 18,5 bilhões, aproximadamente 46% da projeção para 2025", escreveram os especialistas.
"E pela primeira vez em muito tempo, a Petrobras ultrapassou US$ 65 bilhões de dívida bruta, que é o limite anterior da política de remuneração até a mudança no plano estratégico", complementaram.
Apesar do cenário de preços mais baixos e da discussão sobre ajustes no capex futuro, a companhia mantém a estratégia de expansão no portfólio exploratório, participando de certames e aproveitando oportunidades em áreas estratégicas, especialmente no pré-sal.
Em junho, a União realizou o 5ª Rodada da Oferta Permanente da ANP e a Petrobras arrematou três dos sete lotes ofertados, o equivalente a cerca de 36,5 milhões de barris. A empresa também adquiriu 10 blocos exploratórios na Margem Equatorial, além de declarar interesse em nove áreas exploratórias na Costa do Marfim.
Para 22 de outubro, a ANP marcou a rodada de partilha de produção, que colocará em disputa 13 blocos localizados nas bacias de Campos e Santos. A agência também prepara nova rodada da Oferta Permanente ainda este ano, permitindo que empresas manifestem interesse em blocos disponíveis, inclusive no pré-sal.
“A empresa estará sempre presente em toda e qualquer oportunidade de leilão da ANP. O território brasileiro é a nossa casa – e, quanto às ofertas na área do pré-sal, nem se fala. É claro que estaremos presentes neste leilão. É do nosso interesse. No entanto, isso só vai acontecer se fizer sentido econômico para nós”, afirmou.
Com a queda parcial no decorrer do pregão, a desvalorização acumulada da companhia no ano chega a 16%. Com valor de mercado de R$ 420 bilhões, a Petrobras ainda é a maior entre as empresas listadas na B3, com uma distância de R$ 170 bilhões para a Vale, a segunda mais valiosa da bolsa brasileira.