O horário do almoço foi agitado na Azzas 2154. Os funcionários do grupo receberam um comunicado interno sobre uma mudança na estrutura do negócio da companhia de moda.
Esse processo estava em maturação há algumas semanas e marca a mais significativa reestruturação organizacional desde a fusão entre Soma e Arezzo&Co em fevereiro de 2024.
As verticais fashion & lifestyle women (antigo Grupo Soma) e fashion & lifestyle men (antiga AR&Co) passaram a ser uma única unidade de negócios sediada no Rio de Janeiro. E, com isso, a gestão ganha um novo comando.
O movimento marca o retorno de Roberto Jatahy às suas origens como desenvolvedor de marcas. Ele, que era o diretor da divisão de vestuário feminino do grupo, está deixando o dia a dia da operação para assumir um papel mais estratégico, com um olhar criativo e de expansão como chief of brands officer (CBO).
A gestão operacional passa a ser de Ruy Kameyama, que é o novo CEO de fashion & lifestyle com 15 marcas que compõem a nova vertical - Animale, Farm Rio, Farm Etc, Fábula, Maria Filó, NV, Cris Barros, Carol Bassi, OFF Premium, Reserva, Reserva Mini, Reserva Go, Oficina, INK e Foxton.
"A empresa ficou grande e não dá para um só fazer", diz Jatahy, em entrevista ao NeoFeed. "Tem que ter esses dois lados: um lado de inteligência de gestão de varejo e um lado mais criativo. Quando você vai para uma empresa dessa magnitude, com operação lá fora, eu realmente sozinho não consigo."
Na nova estrutura, Kameyama centralizará todas as áreas corporativas - canais (loja própria, e-commerce, franquias, multimarcas), cadeia de suprimentos (planejamento, sourcing, logística), pessoas, gestão e tecnologia.
"O meu background é muito mais de gestão, de liderança de times. Minha origem não veio de marcas, veio dessas áreas de gestão. Nisso, a gente é muito complementar", afirma Kameyama, ao NeoFeed.
Kameyama liderou a rede de shopping centers BR Malls entre 2017 e 2023. Agora, ele passa a comandar uma equipe de 10,5 mil pessoas, 3,6 milhões de clientes e R$ 7 bilhões de faturamento (46% em lojas próprias, 24% atacado, 25% e-commerce e 3% franquias), segundo o balanço do segundo trimestre deste ano.
Entre maio e junho deste ano, o Ebitda da Azzas 2154 foi de R$ 525,4 milhões, um crescimento de 9% em relação ao trimestre anterior. O Lucro líquido foi de R$ 283,7 milhões, uma expansão de 81,7% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Novas integrações
A unificação da unidade de fashion & lifestyle no Rio de Janeiro representa apenas a primeira fase de um plano maior. A ideia é que ela sirva de benchmarking para um cronograma que prevê mais etapas de integração.
Em 8 de agosto, a Azzas 2154 informou que o então CFO Rafael Sachete estava assumindo a liderança da unidade de shoes & bags no lugar de Luciana Wodzik.
"São três frentes que hoje a empresa toda está gravitando: não tirar o olho do curto prazo, fazer uma boa integração no Rio, para servir como base para o resto, e criar uma visão 2030", diz Jatahy.
“Temos de construir uma única cultura para a companhia. Não podemos ser uma holding com quatro empresas embaixo, cada uma vivendo seu mundo completamente desacoplado", complementa.
Essa mudança acontece cerca de 45 dias após os acionistas de referência do grupo, Alexandre Birman e Jatahy, terem acertado um novo acordo para a governança corporativa do negócio.
Responsáveis pela fusão entre a Arezzo&Co e o Grupo Soma, os sócios acumulavam uma série de desavenças que pareciam indicar uma separação iminente.
"Houve alguns desentendimentos, nunca houve nada sério. Mas, em determinado momento, as visões eram diferentes sobre esse negócio. Os resultados, de alguma forma, não foram os melhores e decepcionaram em especial a nós mesmos nos primeiros momentos", afirma Jatahy.
Em 30 de junho, a companhia informou ao mercado que o presidente do conselho de administração, Pedro Parente, estava antecipando o fim do seu mandato. Em seu lugar, assumiu Nicola Calicchio Neto.
Parente teve um papel fundamental para aparar as arestas entre os acionistas de referência e encontrar um novo modelo de governança para que Birman e Jatahy conseguissem o alinhamento necessário para seguir em frente juntos.
Com a mediação de Parente, eles chegaram a um consenso do que precisavam fazer para quebrar as barreiras, capturar as sinergias e deixar as diferenças de lado. Calicchio Neto assumiu para dar um passo adiante: a entrega de resultados.
O primeiro conselho do novo chairman foi eliminar a duplicidade de estruturas corporativas que vinham, na visão dele, limitando as sinergias.
"Se vocês ficarem separando em business units, vocês não vão conseguir efetivamente a troca das melhores práticas, as sinergias, inclusive de receitas e ideias. Essa empresa tem que ser uma só", disse Calicchio Neto.
O que havia sido identificado era que a visão diferente sobre o negócio estava ligada ao perfil deles. Birman tem uma orientação mais B2B, de uma empresa asset light e geradora de caixa, enquanto Jatahy é mais ligado ao B2C, backoffice e varejo.
Assim que a bandeira branca entre os acionistas de referência foi hasteada, havia a perspectiva de um ajuste na gestão do grupo. A expectativa era que os sócios tivessem uma interação maior, com novas funções.
"Temos que construir uma única cultura para a companhia. Não pode ser uma holding com quatro empresas embaixo, cada uma vivendo seu mundo completamente desacoplado”, afirma Jatahy.
Na B3, a ação AZZA3 acumula valorização de 15,8% no ano. O valor de mercado do grupo de moda é de R$ 7 bilhões.