Queda do lucro, revisão do guidance, ROE baixo e corte de dividendos. Esse foi o "pacote" entregue pelo Banco do Brasil para o investidor no balanço referente ao segundo trimestre de 2025. E não deve melhorar no próximo resultado.

"Para este período do terceiro trimestre, acredito que nós ainda teremos, sim, o resultado mais estressado, e observando a melhora do resultado a partir do quarto trimestre, já impulsionado pelo nosso crescimento da margem financeira bruta", disse Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil, na call de resultados.

O lucro líquido ajustado do segundo trimestre foi de R$ 3,7 bilhões, um recuo de 60,2% sobre igual período, um ano antes, e de 48,7% em relação ao primeiro trimestre. Já o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) ficou em 8,4%, contra 21,6%, há um ano. Esse foi o pior patamar desde 2016.

O balanço também trouxe uma combinação de desaceleração na concessão de crédito e de aumento na inadimplência, tendo como “grande vilão”, o agronegócio. E veio acompanhado ainda de outras más notícias, com revisões, para baixo, dos guidances e também dos dividendos para o ano.

No lucro líquido ajustado, por exemplo, a nova estimativa aponta para a faixa de R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões, contra o range anterior de R$ 37 bilhões a R$ 41 bilhões. Nessa esteira, o banco revisou os dividendos a serem pagos no ano, reduzindo de 40% para 30% o payout a ser distribuído em 2025.

“Foi péssimo o resultado. Acredito que o banco caminha para um prejuízo no próximo trimestre”, diz um gestor que zerou, recentemente, a posição no papel. Ele ressalta ainda que o guidance proposto é muito agressivo. “É provável que não entreguem o que estão falando mais uma vez.”

Quem reforça esse coro é o BTG Pactual, ao observar que a revisão anunciada no lucro líquido ajustado e o payout de 30% vieram em linha com suas atualizações de estimativas, anunciadas há duas semanas. Dado os números do balanço, o banco faz, no entanto, uma ressalva.

“Apesar da recente atualização, acreditamos que nossas estimativas já parecem otimistas demais. Como resultado seguimos neutros em relação às ações do BB”, escreveram os analistas do banco, com preço-alvo de R$ 24 para o papel.

Para o BTG, o principal impacto no lucro veio das provisões brutas, que ficaram 33% acima das projeções, crescendo 74% em base anual, para R$ 17,4 bilhões. O banco também destacou a “deterioração generalizada” no avanço no índice de inadimplência acima de 90 dias, de 4,21%.

Em uma linha semelhante, Evandro Medeiros, analista da Suno Reserach, ressaltou o custo do crédito do período - que inclui as despesas com provisões para perdas e avançou 103,8% sobre o mesmo intervalo de 2024, como a origem do maior impacto no resultado.

“O grande detrator foi o volume de provisões de R$ 15,9 bilhões que, mesmo excedendo em mais de 100% o montante provisionado no segundo trimestre de 2024, ainda não foi capaz de elevar o índice de cobertura”, afirmou Medeiros.

Já os analistas do BTG acrescentaram que, apesar das projeções apontarem para um ponto médio, indicando uma melhora importante na lucratividade do segundo semestre, a visibilidade ainda permanece baixa.

“Ainda não vemos motivo para otimismo, visto que acreditamos que a deterioração dos resultados está vindo ‘de elevador’, enquanto uma recuperação provavelmente ‘subirá de escada’”, complementaram eles.

Quem ficou no “meio do caminho” a partir do balanço foi o Itaú BBA. Em relatório enviado a clientes, o banco observou que, certamente, foi um trimestre fraco, mas, de certa forma, esperado. E citou o lucro líquido, mais próximo das expectativas recentes do mercado, de aproximadamente R$ 4 bilhões.

“Após R$ 11,2 bilhões em lucros obtidos no primeiro semestre, o ponto médio de R$ 23 bilhões implica que os lucros no segundo semestre serão de R$ 5 a R$ 6 bilhões por trimestre, um ritmo acima do segundo trimestre e talvez ‘menos ruim’ do que os mercados temiam”, escreveu o banco.

O Itaú BBA também destacou que o novo guidance na margem financeira bruta indica uma recuperação na segunda metade do ano, além de ressaltar uma retomada na margem financeira de clientes no trimestre. E pontuou que as novas projeções podem amenizar a pressão sobre o papel.

“Permanecemos cautelosos, buscando maior visibilidade sobre as tendências de piora da qualidade de crédito, mas não esperamos uma reação significativa. A ação, a 0,5x o preço sobre valor patrimonial para 2026, parece precificada de forma justa.” Há quem discorde, porém, dessa visão.

“As expectativas eram ruins e o resultado confirmou. A ação sofre com as questões do governo e de governo. Quando precisa abrir a torneira, BB e Caixa sofrem. O desconto pela falta de governança vai aumentar”, diz um gestor que zerou sua posição no papel ao longo do primeiro semestre.

Um outro gestor vendido na ação complementa: “O resultado foi muito ruim. E o volume short está bastante alto, o que também aumenta o risco para a ação”, afirma.

Essa falta de um consenso parece também dar o tom no pregão desta sexta-feira, 15 de agosto, na B3. As ações do banco abriam o dia em queda de mais de 3% e, na sequência, chegaram a registrar alta próxima de 2%.

Por volta das 12h15, os papéis estavam sendo negociados com ligeira alta de 0,30%, cotadas a R$ 19,91. No ano, as ações acumulam uma desvalorização de 17,6%, dando ao banco um valor de mercado de R$ 113,7 bilhões.

“Hoje tem vencimento de opção, então, é um dia que o técnico tem muito efeito”, diz um gestor sobre essas oscilações. “Estou menos preocupado com hoje e olhando mais a história ruim adiante.”