A avalanche crescente de cheques destinados à inteligência artificial vem sendo acompanhada, quase na mesma medida, pelas discussões acerca de uma bolha no mercado impulsionada por essa onda. E agora, quem reforçou esse coro foi um dos nomes por trás de uma das principais estrelas desse boom.
Cofundador e CEO da OpenAI, dona do ChatGPT, Sam Altman concedeu uma entrevista a um grupo de jornalistas no fim da semana passada. E, na conversa, ele comparou o comportamento dos investidores em relação à inteligência artificial com a bolha pontocom, que estourou no fim da década de 1990.
“Quando bolhas acontecem, pessoas inteligentes ficam superexcitadas, com um fundo de verdade”, disse Altman, segundo o portal americano de tecnologia e negócios The Verge. O empresário americano prosseguiu:
“Se você observar, a maioria das bolhas da história, como a bolha de tecnologia, verá que houve algo real”, afirmou. “A tecnologia era muito importante. A internet era um negócio realmente importante. As pessoas ficaram superexcitadas.”
Entretanto, à parte de todo esse entusiasmo, Altman disse que considera “insano” que algumas startups de inteligência artificial, “com três pessoas e uma ideia”, estejam atraindo rodadas com valuations tão elevados. “Isso não é um comportamento racional”, observou. “Acho que alguém vai se queimar.”
Curiosamente, além de pioneiras desse hype, como a própria OpenAI, que foi avaliada em US$ 300 bilhões em março deste ano, após uma rodada de US$ 40 bilhões liderada pelo Softbank, a lista mais recente de startups que estão se beneficiando nesse cenário inclui nomes ligados à companhia.
Esses são os casos da Safe Superintelligence, liderada pelo cofundador da OpenAI, Ilya Sutskever, e da Thinking Machines Lab, fundada por Mira Murati, ex-diretora de tecnologia da empresa. Criada há um ano, a primeira já captou R$ 3 bilhões. Em operação há 6 meses, a segunda já levantou US$ 2 bilhões.
“Alguém vai perder uma quantia fenomenal de dinheiro. Não sabemos quem. E muita gente vai ganhar uma quantia fenomenal de dinheiro. Minha crença pessoal, embora eu possa estar errado, é que, no geral, isso seria um enorme ganho líquido para a economia”, observou Altman.
Nesse contexto, Altman, ao que tudo indica, parece acreditar que a OpenAI tem tudo para sobreviver ao eventual estouro dessa bolha.
"É de se esperar que a OpenAI gaste trilhões de dólares na construção de data centers em um futuro não muito distante", disse Altman. "E é de se esperar que um bando de economistas fique torcendo as mãos."
Assim como o CEO da OpenAI, outros nomes vêm alertando para o fato de que os investimentos em inteligência artificial possam estar alguns passos – e dígitos - à frente do que seria um volume recomendável.
Esse é o caso de Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management. Em um relatório divulgado em julho, ele disse acreditar que a bolha atual da inteligência artificial é, de fato, maior que a bolha da internet.
Entre outros pontos, para justificar essa afirmação, ele ressaltou que as 10 maiores empresas do S&P 500 estavam mais supervalorizadas em relação a essa mesma base na década de 1990, na época da bolha pontocom.
Já Ray Wang, diretor de pesquisa de semicondutores, cadeia de suprimentos e tecnologia emergente da Futurum Group, disse à rede americana CNBC que os comentários de Altman têm alguma validade, embora os riscos dependam de cada empresa.
“Do ponto de vista de um investimento mais amplo em inteligência artificial e semicondutores, não vejo isso como uma bolha. Os fundamentos em toda a cadeia de suprimentos permanecem fortes e a trajetória de longo prazo da tendência da IA sustenta o investimento contínuo”, ressaltou.
Wang acrescentou, porém, que há uma volume crescente de capital especulativo direcionado a empresas com fundamentos mais fracos e apenas potencial percebido, o que pode criar focos de supervalorização.