Sócio-fundador da Verde Asset e uma das referências da indústria de fundos no País, Luis Stuhlberger acredita que o presidente Donald Trump aumentará as pressões sobre o Federal Reserve na tentativa de ganhar popularidade para as eleições de meio de mandato.

“Será um grande risco para o mundo, para o valuation e para a maneira como nós investimos até agora”, disse Stuhlberger a uma plateia de investidores do 26º Encontro Anual do Santander.

A lógica por trás da tese é que a popularidade de Trump poderá cair com o aumento da inflação, causado pela taxação de produtos importados, ao mesmo tempo em que a economia desacelera.

Já o projeto One Big Beautiful Bill, que, entre outras medidas, reduz impostos nos Estados Unidos, terá efeito maior no próximo ano, quando deverá haver maior impacto fiscal (estimado em mais de US$ 3 trilhões).

Com a ameaça de perder a Câmara para a oposição, Stuhlberger acredita que Trump utilizará a política monetária como “trunfo”. “Acho que ele vai para o all-in com o Fed de uma maneira que nunca vimos. Ele vai pressionar todos e não vai se contentar até que [os juros estejam em queda]”, disse o gestor.

“O pensamento do Trump sobre política monetária e sobre o quanto devemos pagar de juros é muito parecido com o da Gleisi [Hoffmann]: todo dinheiro pago com juros é dinheiro jogado fora.”

Na avaliação do gestor, as pressões do presidente americano deverão ser persistentes até que os juros americanos, hoje no intervalo entre 4,25% e 4,5%, caiam para próximo de 2,5%. “Não acho que ele vai querer ser Japão. Nem dá. Mas ele vai forçar os limites.”

Nesse cenário, Stuhlberger ressaltou a importância de ter maior alocação em ativos que não sejam moedas fiduciárias, como ações, ouro, imóveis ou bitcoin, criptomoeda que a Verde tem carregado como um hedge contra a inflação.

“Eu acredito piamente que isso vai acontecer e todo mundo que tem dinheiro para administrar tem a responsabilidade de fazer um pouco disso [hedge]. É uma tese que temos que levar muito a sério, e o mundo ainda não está colocando isso nos preços”, afirmou.

Crédito privado e o default

Um outro risco vindo do mercado americano foi alertado por Daniel Goldberg, CEO e CIO da Lumina Capital, que também participava do painel ao lado do gestor da Verde. Segundo ele, o volume de crédito privado nos Estados Unidos tem crescido fortemente, mas parte significativa dessas emissões é de empresas que, em sua visão, já poderiam estar falidas.

“Os defaults estão aumentando, mas de forma invisível. Nosso sistema não está capturando o que está acontecendo”, afirma. “O spread é que me compensa do risco de default, e os preços não parecem super remunerativos se ajustados ao risco.”

Goldberg explica que isso tem ocorrido porque, diferentemente de 2008, os contratos de dívida hoje são muito mais flexíveis. Isso porque a era do juro zero criou cláusulas que dão às empresas muito mais liberdade, permitindo trocar títulos antigos por novos papéis que empurram o vencimento para até cinco anos à frente. Na prática, a empresa já não consegue honrar o que devia hoje — mas, em vez de entrar em default formal, ela renegocia e adia.

“Só que este novo título está cheio de obrigações. Então o que acontece hoje é que as companhias que deveriam ter quebrado, muitas delas estão pré-contratando uma quebra daqui a 3, 4, 5 anos. A gente inventou agora, no mercado de crédito privado, essa coisa de: você toma bala hoje, mas só cai na esquina daqui a alguns anos.”

Goldberg, no entanto, é cuidadoso ao afirmar que esse ainda não é um risco sistêmico, mas pode se tornar se as seguradoras americanas continuarem aumentando suas posições em crédito privado. Hoje, 11% de um montante de US$ 952 bilhões das seguradoras de vida e resseguradoras, disse, estão alocados nessa classe de ativo e costumam ter alavancagem de duas vezes.

“Sse esse número dobrar ou triplicar daqui a 4 ou 5 anos, quando a gente bater no muro desses anos todos, aí sim a gente pode ter um problema.”